Estudos inéditos mostram que podemos sonhar com uma vacina universal contra a gripe

Estudos publicados na Nature e na Science apontam que uma vacina universal contra a gripe pode vir a ser uma possibilidade no futuro. A notícia é intrigante porque um dos grandes desafios da ciência é conseguir criar uma única vacina contra os vírus. Eles sofrem mutações. Vários imunizantes precisam ser feitos contra cada um deles. No caso do influenza, causador da gripe, a cada ano é oferecida à população uma nova vacina contra um novo tipo – e, por isso, a ideia de uma vacina universal parecia um pouco absurda, fora de cogitação. 

“A vacina universal é um sonho de muito tempo”, diz o virologista Edison Luiz Durigon, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, em entrevista ao Núcleo de Divulgação Científica da USP. “O vírus tem RNA como material genético, que sofre muita mutação, e a cada ano é como se houvesse um organismo diferente.”

As pesquisas foram feitas por um grupo norte-americano e outro holandês e houve boa resposta imunológica em animais. Testes em humanos, no entanto, ainda não foram feitos. Os cientistas miraram numa parte estável do vírus, que permanece igual em todos os casos de gripe, independentemente dos subtipos ou das mutações. Eles se concentraram na proteína hemaglutinina (a que nomeia o “H” do vírus, como o H1N1 ou H5N1, por exemplo). Essa proteína está na camada externa do influenza e tem como principal função ligar o vírus às nossas células do sistema respiratório.

Estudos construíram molécula elementar do vírus, que não sofre mutação: esse será o cerne da "vacina universal". Foto:  Divulgação
Estudos construíram molécula elementar do vírus, que não sofre mutação: esse será o cerne da vacina universal. Foto: Divulgação

Outros laboratórios já tinham tentado usar essa parte estável da proteína, mas, ao retirarem a ponta, a haste se tornava inviável. Agora, os pesquisadores do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas nos Estados Unidos conseguiram utilizar partículas que serviram como esqueleto para manter a haste estável. Os cientistas americanos testaram a nova vacina em camundongos e furões, e os resultados sugerem que ela protegeu totalmente os camundongos e parcialmente os furões. Já o Instituto de Vacina Crucell, da Holanda,  conseguiu proteger totalmente os camundongos e reduziu febres quase letais em macacos.

Embora a tecnologia possa levar algum tempo, a novidade é muito boa, diz o pesquisador da USP.  “É uma vacina única que pode levar à produção de anticorpos contra qualquer tipo de influenza. Se aparecer um vírus aviário, por exemplo, a população já está protegida e isso pode evitar pandemias com vírus de alta mortalidade.”

Com Núcleo de Divulgação Científica da USP. 


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