“A paciente relatou sintomas clínicos que indicavam infecção por vírus zika no início da gravidez e sofreu o aborto na oitava semana. Analisamos as amostras da placenta utilizando um anticorpo monoclonal contra flavivírus, que reconhece membros desse gênero, incluindo os vírus dengue, zika vírus, febre amarela entre outros”, explica a virologista Cláudia Nunes Duarte dos Santos, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Paraná. Os resultados da primeira análise foram positivos, e confirmaram a presença de proteínas virais nas células placentárias (mãe e feto).
A investigação conjunta entre a Fiocruz Paraná e a PUC PR revelou a imunopositividade em células de Hofbauer, presentes na placenta. “Em vista disto, uma hipótese razoável seria que o vírus zika pode estar utilizando a capacidade migratória das células para alcançar os vasos fetais”, avalia a patologista Lúcia Noronha, da PUC PR. O resultado do estudo é tema de um artigo que será publicado na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.
“Embora não possamos relacionar esses achados com os casos de microcefalia e outra alterações congênitas, este resultado confirma de modo inequívoco a transmissão intrauterina do vírus zika, além de contribuir para o conhecimento de sua biologia e interação com células do hospedeiro e auxiliar no delineamento de estratégias anti-virais que visem bloquear o processo de infecção e/ou transmissão”, diz a virologista Cláudia Santos, da Fiocruz Paraná.
País tem 3.893 casos suspeitos de microcefalia por zika; 230 confirmados
Desde outubro do ano passado a notificação de microcefalia pelo sistema de saúde é obrigatória, em função do aumento inesperado da ocorrência da malformação devido ao vírus Zika. Nas duas primeiras semanas de 2016 foram notificados 728 casos suspeitos de microcefalia.
O ministério descartou 282 registros da malformação. Foram registradas também 49 mortes pela malformação congênita, e destas, seis tiveram confirmada a relação com o vírus Zika. O boletim traz o resultado da investigação laboratorial do sexto caso, um bebê com microcefalia em Minas Gerais, que teve a relação com o zika diagnosticada em laboratório.
Problemas na confirmação
De acordo com o diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, os sistemas de saúde dos estados estavam interpretando de forma diferente o protocolo para registro dos casos. Por isso, houve problemas para a confirmação.
O governo, então, atualizou o protocolo para que as interpretações fossem unificadas. “Nos próximos boletins talvez possamos falar com mais segurança dos casos confirmados e descartados”, disse o diretor.
Pernambuco, com 1.306 casos suspeitos, 33% do total, é o que tem o maior número de registros. Em seguida estão Paraíba, com 665 casos, Bahia, com 496 e o Ceará, com 216. O Rio Grande do Norte tem 188 casos.
Carnaval
Apesar da intensa circulação de pessoas pelo país durante o carnaval, Maierovitch acredita que não haverá ampliação da área afetada pelo vírus porque ele está presente em praticamente todos os estados.
O que pode acontecer é que as pessoas peguem a doença no lugar que estão visitando, disse o diretor, acrescentando que o zika não é transmitido de pessoa para pessoa. O diretor ressalta que a prioridade do Ministério da Saúde é prevenir a malformação controlando o mosquito.
Mudanças na notificação
Segundo Maierovitch, o ministério estuda alterar a metodologia de notificação do zika. Atualmente é usado o método sentinela, pelo qual alguns casos de uma região são comprovados laboratorialmente e os seguintes por diagnóstico clínico. Os serviços de saúde não são obrigados a registrar todos os casos da doença uma vez que a capacidade de diagnóstico é baixa e 80% dos infectados não apresentam sintomas.
A capacidade atual dos laboratórios é de aproximadamente mil diagnósticos de zika por mês. A expectativa é que nos próximos meses a capacidade chegue a 20 mil. Maierovitch espera que, com isso, a capacidade de notificação fique mais próxima da realidade.
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