Após o surto de microcefalia e sem a confirmação de que de fato ele está associado ao Zika, algumas associações de médicos ligados à saúde pública chegaram a sugerir que o larvicida Pyriproxifen poderia estar associado à condição em bebês. O composto começou a ser usado pelo governo brasileiro para combater as larvas do Aedes Aegypti o ano passado. Com essa polêmica, o governo do Rio Grande do Sul suspendeu o uso da substância. O anúncio foi feito esse final de semana.
“Decidimos suspender o uso do produto em água para consumo humano até que se tenha uma posição do Ministério da Saúde”, informa o RS. “O larvicida, enviado pelo Ministério da Saúde, era utilizado em pequena escala no Rio Grande do Sul, apenas em casos específicos, quando não é possível evitar o acúmulo de água nem remover os recipientes, como chafarizes e vasos de cimento em cemitérios”, diz o comunicado.
Após a polêmica, o Ministério da Saúde negou em nota que químicos usados para combater o vetor da dengue, zika e chikungunya, o Aedes Aegypti, podem estar associados à microcefalia.
“Não existe nenhum estudo epidemiológico que comprove a associação do uso de pyriproxifen e a microcefalia. O Ministério da Saúde somente utiliza larvicidas recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”, escreveu o órgão.
Apesar de negar a relação, o Ministério da Saúde, no entanto, disse que o governo do Rio Grande do Sul tem autonomia para não utilizar o produto. “A Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS), como autoridade de saúde local, tem autonomia para utilizar o produto adquirido e distribuído pelo Ministério da Saúde ou desenvolver estratégias alternativas.”
Uma das associações a condenar o uso do larvicida foi a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), embora a relação entre a microcefalia e o composto não chega a ser citada diretamente pela instituição. Em nota técnica publicada este mês, a instituição questiona o uso do produto diretamente na água potável e o relaciona a efeitos neurotóxicos.
“Uma simples consulta às fichas de segurança química de tais produtos entregues pelas empresas aos órgãos de Saúde Pública mostra que esses produtos são neurotóxicos para o sistema nervoso central e periférico”, disse a instituição. “O que dizer desse uso [de um produto tóxico] em um contexto epidêmico de má formação fetal?”, continua a nota.
Outra instituição a não só condenar o uso, mas fazer uma associação entre o larvicida e a microcefalia, foi a associação de médicos argentina Reduas (Rede Universitaria de Ambiente e Salud). O artigo foi assinado pelo médico Medardo Avila Vazques, coordenador do grupo e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidad Nacional de Córdoba. Foi com base nesse informe que o governo do Rio Grande do Sul decidiu suspender o uso do larvicida. Diz o texto argentino (tradução livre):
“Um aumento dramático em mal formações, especialmente da microcefalia em recém-nascidos, foi detectada e rapidamente associada com o Zika vírus pelo Ministério da Saúde.
No entanto, o governo falha em reconhecer que na área em que a maior parte das pessoas doentes vive, um larvicida que produz essas mal formações foi utilizado durante 18 meses, e esse veneno (o pyroproxyfen) é aplicado pelo Estado na água de consumo.”
Posição do Ministério da Saúde
Em resposta, o Ministério da Saúde disse que esses produtos passam por um rigoroso processo de avaliação da World Health Organization Pesticide Evaluation Scheme (WHOPES). O órgão diz também que o pyriproxifen possui certificação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que avalia a segurança do larvicida no Brasil.
“Cabe ressaltar que o Ministério da Saúde somente recomenda a utilização de larvicidas em situações especiais, onde há necessidade de armazenamento de água e os depósitos não podem ser protegidos fisicamente”, informa.
O governo divulgou ainda um relatório da Organização Mundial da Saúde sobre as circunstâncias em que o pyriproxyfen é usado.
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