Porque eu peço exames de detecção precoce do câncer de próstata

O mês de novembro foi colorido de azul para lembrar aos homens a necessidade de um maior cuidado com a saúde, principalmente em relação ao câncer de próstata. Essa campanha, que tem o apoio da Sociedade Brasileira de Urologia, foi criada a partir do exemplo do Outubro Rosa, que visa o cuidado contra o câncer de mama.

Entretanto, muitas organizações tem se colocado contra esta campanha. Baseiam-se principalmente na recomendação da United States Preventive Services Task Force (USPSTF), que em 2012 contra-indicou a realização de campanhas de rastreamento para diagnóstico precoce do câncer de próstata.

A USPSTF é uma organização do governo americano que avalia políticas de saúde. Sua recomendação está fundamentada em um trabalho que avaliou dois grupos de homens: um deles fazia a dosagem de PSA (antígeno prostático específico); enquanto o outro não realizava nenhum exame.

Os pesquisadores acompanharam esses dois grupos por um longo tempo. A conclusão foi de que fazer exames para detecção do câncer de próstata não diminuiu o número de homens que morriam por causa dessa doença.

Hoje, esse trabalho é muito criticado por causa de falhas na sua metodologia. Boa parte dos voluntários grupo que não faria exames, por exemplo, decidiu fazê-los por conta própria.

Além disso, descobriu-se que homens do grupo que não fez exames de detecção na verdade já tinham se submetido a esses testes anteriormente… Ou seja, o trabalho é no mínimo controverso para uma conclusão tão forte.

Por outro lado, a USPSTF (o braço do governo americano que avalia políticas de saúde) não levou em consideração um estudo semelhante feito na Europa. O trabalho mostrou que a realização de exames para detecção de câncer de próstata diminuiu o risco de morte por essa doença em 22% em 11 anos.

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Campanhas de rastreamento são feitas para identificar doenças em uma população geral antes que elas se manifestem. Mas hoje sabemos que em câncer de próstata não se deve fazer esse rastreamento.

Se estas campanhas continuassem a ser feitas, seriam diagnosticados muitos tumores que não precisam ser tratados:  a medicina constatou a existência de alguns tumores de próstata malignos que não vão se desenvolver e que podem ser acompanhados por urologistas que orientarão o paciente adequadamente. Eles são frequentes e em muitos casos não há necessidade de cirurgia ou outros tratamentos.

Também sabemos que o câncer de próstata é o tumor maligno mais comum em homens e só mata menos que o câncer de pulmão. O Instituto Nacional do Câncer estima que em 2014 apareceram 68.800 novos casos e em 2013 morreram 13.772 homens com esta doença.

Sabemos ainda que o PSA, feito por meio de um exame de sangue, não é um excelente marcador de câncer. Apenas 30% dos homens que têm o exame alterado apresentam mesmo câncer.Na verdade, o marcador ideal seria aquele que, em níveis alterados, indicasse em 100% a presença da doença!

No entanto, o PSA é o único exame, além do toque retal, que pode indicar a presença do tumor prostático antes que ele dê sintomas e atinja um estágio onde o tratamento curativo não é mais possível.

A biópsia da próstata é o método para comprovar a existência do câncer e é feita em muitos homens que não têm a doença porque o PSA estava alterado. Além disso, a biópsia pode ter complicações como infecção, sangramento e dificuldade para urinar que ocorrem em um número pequeno de pacientes e que podem ser prevenidas. Por tudo isso, aprendemos a diminuir o número de indicações de biópsias e recorrer a elas só quando muito bem indicadas. O uso do PSA livre e da ressonância ajudam a selecionar os casos indicados para biópsia. 

A longevidade muda o cenário

Nos anos 1980, quando não se conhecia o PSA, os pacientes com câncer de próstata chegavam aos médicos com sintomas avançados, principalmente com metástases nos ossos. Neste momento, o tratamento curativo não é mais possível. Em média, o tumor leva 5 a 7 anos para sair da próstata e criar metástases e mais 2 a 3 anos para matar o indivíduo.

Naquela época, a estimativa de vida do brasileiro era de 64 anos (IBGE). Como o câncer de próstata começa a aparecer a partir dos 50 anos, não produzia um grande impacto sobre a sobrevida do homem.

Hoje, essa situação mudou. Como a expectativa média de vida é de 74 anos, se um homem de 50 anos tiver um câncer de próstata que precisa ser tratado e não tiver a atenção adequada, ele provavelmente vai morrer muito antes dos 74.

Assim, a campanha do Novembro Azul se justifica. É importante informar ao homem que o câncer de próstata existe, que mata e que pode ser detectado precocemente.

A decisão de procurar o urologista e fazer exames de detecção é de cada um. O que não podemos fazer é subestimar uma doença grave e negar a informação baseados em dados que não são totalmente confiáveis.


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