Não é fácil ser Papai Noel na modernidade. Segundo estudo publicado na Human Relations, homens que interpretam o velhinho encontram dificuldades para ter uma boa relação com as crianças. Em entrevistas, eles relatam desconforto com a experiência. A questão, segundo estudo, está numa possível sexualização da figura do bom velhinho.
A pesquisa, que traz o nome de “Reconhecimento e a mancha moral da sexualidade: A masculinidade e Papai Noel”, explora as sutilezas e as transformações que a figura do Papai Noel tem sofrido com o passar do tempo.
“Esta relação [entre a criança e o Papai Noel performer] não é mais a mesma. O Papai Noel hoje pode assumir uma identidade masculinizada e até pervertida”, diz Philip Hancock, da Universidade de Essex e um dos autores do estudo. “Muitos relatam sensação de desconforto. Alguns também dizem que sofrem ameaças.”
O estudo entrevistou 15 performers de Papai Noel. Quatorze deles do sexo masculino, com idade entre 52 e 81. Uma era uma assistente mulher de 32 anos (que fazia o papel de um duende). Todos, diz a pesquisa, relataram algum grau de desconforto.
“Não é algo que falamos muito porque é desagradável, mas o que eu tenho em mente é um certo medo e desconforto porque muitos pensam que, por trás do Papai Noel, sempre há um velho pervertido de alguma maneira”, contou ao pesquisador um dos entrevistados.
Estratégias
Para manter o imaginário do personagem Papai Noel, como uma figura inocente e benevolente, os artistas costumam recorrer a algumas técnicas para não sofrerem acusações. Uma delas é se certificar que sempre uma assistente mulher esteja presente.
Algo que ajudaria os performers, segundo o autor da pesquisa, é que pais e mães participem de forma ativa do encontro e, caso se sintam desconfortáveis, orientem a criança a evitar o contato físico. “Muitas crianças pulam no colo do Papai Noel ou abraçam o artista. O performer fica entre a responsabilidade com a encarnação do ideal da figura que interpreta e o medo de acusação de assédio”, escreve Hancock.
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