Soluções de tecnologia da informação (TI) são empregadas com mais frequência em áreas estratégicas, como a transmissão de dados de exames. Mas um grupo de especialistas decidiu testar a sua própria capacidade de sanar problemas de gestão hospitalar de modo simples e com orçamento baixo.O alvo inicial foi o serviço de escolta de pacientes de um grande hospital público, o Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo. Focada no atendimento de casos de alta complexidade e cirurgias, a instituição realiza cerca de 2,6 milhões de consultas e procedimentos ambulatoriais por ano, mais de 3,3 milhões de exames, 15 mil internações eletivas e de urgência e quase 15 mil cirurgias, o que equivale, em média, a 40 cirurgias diárias.
A estimativa é de que ocorram mais de 4.500 viagens a cada mês para conduzir os pacientes às salas de exames, cirurgia ou procedimentos ou reconduzi-los aos seus leitos. Pela própria natureza dessa atividade, não faltam reclamações. O desafio era, justamente, reduzir o tempo de espera desses pacientes e, com isso, evitar conflitos e estresse. Afinal, nos hospitais, os indivíduos não podem circular desacompanhados pelos corredores e precisam ser transportados em cadeiras de roda ou macas.
Como melhorar a gestão da equipe de escolta hospitalar e evitar que os pacientes fiquem estressados com o tempo de espera para ir até o exame e para voltar ao quarto? A solução veio na forma de um sistema de localização interna (indoor location), que é fruto de uma parceria entre o Instituto Eldorado (que estuda novas tecnologias para a área da saúde), a Intel e a área de TI do Hospital das Clínicas da Unicamp. O Instituto desenvolveu um aplicativo compatível com um sistema que registra a proximidade dos funcionários da escolta em áreas do hospital. Como a premissa era gerar uma tecnologia de baixo custo e acessível, a nova tecnologia está baseada no uso de beacons (dispositivos digitais de baixo custo, utilizados para localização de objetos em ambientes fechados, que usam conexão sem fio Bluetooth para transmitir dados)) e celulares.
Os testes começaram em maio deste ano com a instalação de onze beacons no setor de cardiologia do hospital. Funciona assim: no momento em que o transportador passa por um beacon, o dispositivo emite um sinal bluetooth low energy. A partir da intensidade do sinal do beacon, um aplicativo Android (fornecido pelo Instituto Eldorado) instalado nos celulares identifica o quão próximo o profissional se encontra de uma determinada região. Os dados são enviados a uma central de controle equipada com tablets (doados pela Intel), gerando uma mapa de situação. O sistema permite à central enviar informações para orientar a escolta e aos transportadores avisarem que desejam novas informações.
Passados três meses, o diagnóstico é de que a novidade está ajudando a melhorar a movimentação dos pacientes pelo hospital. “Com o suporte dessa nova tecnologia, estamos conseguindo reduzir o tempo de espera dos pacientes em salas de exame, agilizando a alocação da equipe de escolta e dando maior visibilidade à movimentação dos profissionais”, avalia Edson Kitaka, diretor de informática do hospital e um dos pioneiros na busca de soluções cibernéticas para a área da saúde.
Experiente, Kitaka quis conhecer também as impressões dos funcionários do transporte sobre o novo sistema. Conversando com as pessoas, soube que a solução era chamada, de forma bem-humorada, de “Big Brother”. No entanto, ele sentiu aí a preocupação com a existência de um sistema de vigilância onipresente. Essa percepção levou a uma discussão sobre a finalidade da tecnologia e as informações geradas por ela serão gerenciadas. “É importante que o sistema funcione como um aliado para melhorar o processo, poupando tempo, energia e diminuindo o estresse”, diz.
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