Indústria patrocinou pesquisa para minimizar riscos do açúcar na doença cardíaca, diz estudo

Com análise de documentos, estudo publicado na prestigiada publicação científica JAMA examina o papel da indústria do açúcar em pesquisas sobre doenças cardiovasculares e sugere que ela patrocinou estudos para influenciar o debate científico. Segundo o artigo, a indústria proveu financiamento para que, em troca, os cientistas lançassem dúvidas sobre o açúcar ser um fator de risco para a doença cardíaca. 

O estudo é da Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos. Stanton Glantz e colegas analisaram documentos internos da Fundação Sugar Research (SRF, na sigla em inglês). O grupo avaliou correspondências entre a fundação e um professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que também foi foi co-diretor do primeiro programa de investigação da SRF sobre doença cardíaca coronária na década de 1960.

A fundação iniciou pesquisas sobre doenças cardíacas em 1965 e seu primeiro projeto foi uma revisão da literatura publicada no New England Journal of Medicine, em 1967. A revisão deu destaque à gordura e ao colesterol como causas da doença cardíaca e minimizou o papel do consumo de açúcar, que não foi identificado como um fator de risco.

A entidade ajudou a definir os objetivos da avaliação e contribuiu com artigos para serem incluídos. Ainda, patrocinou o estudo e seu financiamento não foi divulgado pelos autores.

Indústria do açúcar pode ter colaborado para que os riscos da substância na doença cardíaca fossem minimizados. Foto ilustrativa/Ingimage
Indústria do açúcar pode ter colaborado para que os riscos da ingestão da substância na doença cardíaca fossem minimizados. Foto ilustrativa/Ingimage

Mais recentemente, diretrizes em todo o mundo têm colocado limites para a ingestão do açúcar. Em março de 2015, a Organização Mundial de Saúde exortou que seus países membros divulgassem a meta de redução do consumo de açúcar para menos de 10% do total de calorias para consumidas. A recomendação vale para adultos e crianças. A entidade pontuou também que, se o consumo significar menos de 5% do total de calorias ingeridas, benefícios de saúde adicionais podem ser alcançados.

Interessante observar que só mais recentemente essas diretrizes estão sendo divulgadas, com a gordura sendo histórica e constantemente mais associada à doença cardíaca.

Se a pesquisa do JAMA pontua não haver evidência direta de que a indústria do açúcar escreveu ou mudou artigos científicos, documentos mostram que ela exerceu influência. O estudo pode ser uma amostra do que poderia ter colaborado para que o risco do açúcar deixasse de ser divulgado. Uma limitação do artigo, no entanto, é que os documentos são uma amostra pequena e localizada das atividades da indústria. Não há a análise de outras organizações.

O estudo sugere, no entanto, que a indústria patrocinou o primeiro projeto de investigação em 1965 para minimizar o consumo de sacarose como um fator de risco para a doença cardíaca, uma das principais causas de morte hoje. Com isso, pesquisadores fazem uma sugestão enfática à ciência: “comitês devem considerar dar menos peso para estudos financiados pela indústria.” 

Como o açúcar vira gordura

Quando consumimos mais glicose do que o necessário, o fígado armazena o excesso. Funciona assim: quando a capacidade de armazenamento no órgão é excedida, ele transforma o açúcar em gordura para que essa energia seja armazenada em células de gordura espalhadas pelo corpo – e não mais no órgão. 

Uma outra forma do açúcar ser transformado em gordura é por meio da insulina, o hormônio utilizado para metabolizá-lo. A insulina avisa o organismo de que pode parar de queimar gordura para que a energia proveniente do açúcar que acabou de ser consumido possa ser aproveitada. Em consequência, a insulina armazena nos músculos a carga adicional de energia recebida e não usada. Se o músculo não usar essa energia adicional, esse açúcar é transformado em gordura e armazenado no corpo.


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