Na sexta-feira (27), o Inca (Instituto Nacional do Câncer) divulgou que o País deve registrar 596 mil novos casos de câncer em 2016. Entre os homens, são esperados 295,2 mil casos, e entre as mulheres, 300, 8 mil. Na esteira desse registro, o instituto reforçou medidas de prevenção e também chamou a atenção para o consumo elevado de carnes processadas, alerta que já tinha sido feito no mês passado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Na ocasião, o registro gerou reações inflamadas nas redes.
O instituto informou que, dentre os fatores de risco, a alimentação chega a ter um peso de 35% entre os fatores de risco controláveis envolvidos no surgimento do câncer. Logo depois vem o tabaco (30%), infecções (10%), comportamento sexual e reprodutivo (7%), exposição ocupacional (4%), exposição excessiva ao sol (3%), álcool (3%) e radiação (1%).
“As carnes processadas podem causar câncer em razão do processamento industrial a que são submetidas como salga, defumação, cura e adição de conservantes”, diz o documento do INCA.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer, conservantes como os nitritos e os nitratos (presentes nas carnes embutidas) transformam-se em nitrosaminas quando chegam ao estômago. Nitrosaminas são substâncias cancerígenas responsáveis por alterações celulares que podem levar ao desenvolvimento de câncer.
Os produtos defumados, além destas substâncias, contêm os mesmos compostos encontrados na fumaça do cigarro, com ação carcinogênica conhecida.
O tabagismo continua responsável por cerca de 30% das mortes por câncer. Fumantes chegam a ter 20 vezes mais chances de ter este tipo de câncer que não fumantes, 10 vezes mais chances de ter câncer de laringe e de duas a cinco vezes mais chances de desenvolver câncer de esôfago.
O hábito de fumar também está relacionado aos tumores de cavidade oral, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, de rim, bexiga e colo do útero. O fumante também tem mais chance de desenvolver leucemias.
O documento do Inca enfatiza ainda a existência de fortes evidências sobre a ligação entre o excesso de peso e o desenvolvimento de tumores de cólon e reto; mama (na pós-menopausa), ovário, próstata, esôfago, pâncreas, rim, útero, vesícula biliar e fígado. Os quatro primeiros estão na lista dos mais incidentes no Brasil.
O amianto no Brasil e o câncer
Material usado para fabricar telhas e caixas d’água, o amianto também está relacionado ao desenvolvimento de alguns tumores, adverte o Inca. Isso é particularmente importante no Brasil porque o País está entre os cinco maiores produtores de amianto do mundo. Segue o alerta do instituto:
“O amianto pode se acumular no ovário de mulheres expostas à substância, aumentando o risco de desenvolver câncer. Entre as brasileiras, o câncer de ovário está em 7º lugar no ranking nacional.”
“Na região Centro-Oeste, aparece como o quinto mais incidente. Além do amianto podem-se citar as radiações ionizantes, reposição hormonal e o tabagismo como possíveis explicações para esse câncer alcançar esse patamar no Brasil.”
Em outubro, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e o Centro Brasileiro de Estudos Em Saúde (Cebes) emitiram nota de repúdio à portaria do Ministério de Trabalho que estabelece medidas para o uso seguro do amianto no Brasil. Conforme as entidades, “não existe uso seguro do amianto”. Veja abaixo trechos do documento da Abrasco e do Cebes:
“O amianto é uma substância comprovadamente carcinogênica, em todas as suas formas mineralógicas.”
“Considerando-se que a estimativa da extensão da população potencialmente exposta chega a milhões de pessoas; considerando-se a distribuição universal e ampla das exposições ambientais e ocupacionais presentes em toda a cadeia produtiva, acrescidos das fragilidades da ação e fiscalização pública, pode-se afirmar que a tese do uso seguro do amianto é absolutamente falaciosa.”
Agrotóxicos e a relação com o câncer de próstata
Outro alerta do instituto diz respeito ao consumo de agrotóxicos de alimentos. “Há evidências de que o uso de agrotóxicos está associado ao aumento do risco de câncer de próstata, principalmente de tumores mais agressivos”, ressalta o documento. O câncer de próstata é o mais incidente entre os homens brasileiros.
No Brasil, a quantidade de agrotóxico mais que dobrou entre 2000 e 2012, segundo a 6ª edição dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável Brasil (IDS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgada em junho de 2015. Também a agência da Organização Mundial da Saúde publicou importante artigo este ano no Lancet, em que classificou novos compostos usados como agrotóxicos como cancerígenos.
Câncer: epidemia Global no Brasil e no mundo
O número de 596 mil novos casos para 2016, segundo o Inca, é para planejar o futuro. Para a entidade, o número deve ser maior no que nos anos anteriores, mas não há índices exatos porque as técnicas de medições e notificações dos casos têm mudado ao longo dos anos. Assim, não há como estabelecer uma comparação histórica.
No Brasil, os Registros de Câncer de Base Populacional – RCBP (sistemas de informações específicos para a oncologia que analisam os casos novos de câncer diagnosticados em moradores de uma área geográfica) cobrem somente 25% da população brasileira.
De qualquer modo, segundo o Inca, a doença já é a segunda causa de morte no País, atrás apenas das condições do aparelho circulatório.
Os dados brasileiros seguem o aumento de incidência da doença no mundo. O número de casos de câncer e mortes deve dobrar mundialmente ao longo dos próximos 20 a 40 anos.
A Organização Mundial da Saúde estima que, no ano de 2030, haverá 27 milhões de casos novos de câncer, 17 milhões de mortes pela doença e 75 milhões de pessoas vivendo com câncer.
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