Em um dos maiores estudos comportamentais já publicados sobre a pílula que previne o contágio pelo vírus HIV– conhecida como PrEP (profilaxia pré-exposição) e com nome comercial Truvada – pesquisadores não detectaram novas infecções pelo vírus num período de 36 meses de acompanhamento. O estudo foi publicado nesta semana na revista científica Clinical Infectious Diseases.
O diferencial da pesquisa foi mostrar que o medicamento é eficaz mesmo dentre populações de maior vulnerabilidade à contaminação. O remédio está aprovado para profilaxia desde 2012 nos Estados Unidos.
“Fomos os primeiros a testar a PrEP no mundo real”, disse Jonathan Volk, epidemiologista do Centro Médico Kaiser Permanent, em São Francisco (EUA), e autor do estudo.
“Até agora, a maior parte das evidências que atestam a eficácia da prevenção veio de estudos clínicos e demonstrações laboratoriais.”
No Brasil, um estudo clínico grande e similar está sendo conduzido pelo infectologista Esper Kallás no Hospital das Clínicas de São Paulo. A investigação é patrocinada pela Fundação Oswaldo Cruz. Os resultados devem sair nos próximos dois anos.
Ambos os estudos, o brasileiro e o americano, fazem uma análise de aspectos comportamentais relacionados ao uso da PrEP – como adesão ao tratamento em pessoas mais vulneráveis ao vírus e uso ou não da camisinha associada à terapia.
A terapia preventiva é feita com a combinação de dois medicamentos antivirais – embitricitabina e tenofovir – e já era usada como tratamento. A diferença é que novos estudos foram feitos para balizar sua aprovação na prevenção.
No Brasil, o medicamento já possui registro na Anvisa, mas está aprovado somente para o uso de pessoas infectadas e não para a profilaxia.
No ano passado, a Organização Mundial de Saúde preconizou que homens que fazem sexo com homens considerassem o uso da pílula em suas relações.
Já nesse estudo, os pesquisadores observam que se percebe a necessidade de estender a terapia a outras populações, como mulheres e homens heterossexuais em situação de vulnerabilidade.
Como foi a pesquisa
Os pesquisadores acompanharam 657 indivíduos com idade média de 37 anos. A maior parte (99%) pertencia ao grupo de homens que fazem sexo com homens.
Dentre os escolhidos para o estudo, 143 participantes responderam previamente algumas perguntas sobre seu comportamento sexual. Muitos relataram ter parceiro fixo já infectado pelo HIV (conhecidos como casais sorodiscordantes) ou contaram ter múltiplos parceiros.
No final, 74% deles disseram que não houve mudanças no seu comportamento sexual ao longo do estudo. Já 15%, experimentaram uma diminuição no número de parceiros, enquanto 11% tiveram mais parceiros. O uso da camisinha não mudou em 56% dos casos, diminuiu em 41% e aumentou em 3%.
Depois de seis meses de tratamento, testes mostraram que 30% dos que estavam em terapia foram diagnosticados com pelo menos uma doença sexualmente transmissível. Doze meses depois, o número aumentou para 50%. Não houve, no entanto, contaminação pelo HIV.
Os indivíduos também foram acompanhados de perto para análise dos rins – mudanças na função do órgão fazem parte dos efeitos colaterais do Truvada. Nenhuma alteração significativa foi observada.
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