Autoridades internacionais de saúde estão apreensivas com o risco da epidemia brasileira febre amarela se alastrar para outros países das Américas. O principal motivo da preocupação manifestada em alerta feito na semana passada pela Organização Pan-Americana da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) são as mortes de macacos em maior número de estados localizados em áreas de fronteira. Há suspeita que os animais tenham sido vítimas da forma silvestre da febre amarela.
Segundo o documento, foram registradas até agora 1408 mortes de macacos. Além dos estados onde há casos de febre amarela em humanos confirmadas ou em análise, essas mortes aconteceram também no Pará (fronteira com Guiana e Suriname), Roraima (Venezuela), Mato Grosso do Sul (Bolívia e Paraguai), Paraná (Argentina e Paraguai), Santa Catarina (Argentina) e Rio Grande do Sul (Argentina e Uruguai).
A morte de macacos é considerada um alerta da circulação do vírus causador da doença. Em geral, o microorganismo fica estabelecido em matas e áreas silvestres e causa baixo número de casos. Por alguma razão ainda não explicada e provavelmente relacionada ao desequilíbrio ambiental, o vírus passa a se espalhar rapidamente entre macacos e humanos. Os macacos são os primeiros a morrer.
Risco de urbanização
O Brasil registrou, até a última sexta-feira (10), 1.170 casos suspeitos em humanos. Destes, 230 foram confirmados, 847 permanecem em investigação e 93 foram descartados.
Das 186 mortes notificadas, 79 foram confirmadas, 104 são investigados e três foram descartadas.
Os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Tocantins concentram os casos notificados. Nenhum dos casos confirmados e suspeitos em Minas Gerais é urbano, conforme as autoridades de saúde.
Apesar da gravidade da situação, até o momento os especialistas não identificaram mudanças do ciclo silvestre da doença para o ciclo urbano. A diferença entre ambos é o vetor (transmissor). Em áreas rurais e de floresta, a febre amarela é transmitida pelo mosquito Haemagogus. Em área urbana, ela pode ser transmitida pelo Aedes aegypti, o mesmo da dengue, da Zika e da chikungunya. Desde 1942 não há registros no Brasil de transmissão urbana da febre amarela.
No sábado (11), Stephen J. Seligman, especialista em doenças infecciosas e professor da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, comentou a epidemia brasileira na rede ProMED-mail, voltada à vigilância epidemiológica e presente em mais de 150 países.
Segundo o especialista, um total de 85% dos casos e 88% das mortes registrados até agora ocorreram em homens, sugerindo que a infecção atinge predominantemente homens que trabalham em áreas de selva. “Isto é consistente com a observação de que nenhum dos casos ocorreu em crianças menores de 10 anos de idade. Até 96% das infecções aconteceram em pessoas sem história de vacinação, uma observação que confirma a incompletude da imunização em Minas Gerais nos últimos anos”, reforça Seligman. A cobertura vacinal nas regiões de Minas Gerais, onde estão sendo registrados os casos humanos, estava em torno de 45%, quando o ideal é mantê-la acima de 80%, de acordo com dados publicados pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT)
Seligman diz que o número elevado e incomum de casos fatais em macacos sugere a existência de condições ambientais propícias à propagação de mosquitos. Em particular, daqueles habituais transmissores da febre amarela silvestre no Hemisfério Ocidental. Esse é um dos tópicos em debate entre especialistas no País para explicar o que teria motivado o surto. “A abundância de casos fatais em macacos juntamente com ampla ocorrência de febre amarela em seres humanos em uma região com uma história de escassa vacinação levou a uma tempestade quase perfeita para a disseminação da febre amarela silvestre. Felizmente, a vacinação extensa irá limitar a epidemia rural e a propagação para as cidades.”
“Vacinar é mesmo a única saída, uma vez que não foram desenvolvidos métodos para prevenir a disseminação da doença por meio da redução das espécies que a transmitem”, diz Seligman. Ele aponta que a restrição de fundos para pesquisa no Brasil e a inflação próxima de 10% representaram complexidades adicionais para o desenvolvimento de métodos de contenção dos vetores da doença (os mosquitos). Como resultado, o que temos é uma infestação de Aedes Aegypti em praticamente todas as áreas urbanas de municípios brasileiros e, aparentemente, nenhuma perspectiva ou planos concretos para erradicação a longo prazo.
Saiba quem deve se vacinar
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