Adolescentes de Belém e do Maranhão se casam antes dos 18, diz relatório

Jovens se casam cedo demais e tendem a sair da escola. Foto: Ingimage
Jovens se casam cedo demais e tendem a sair da escola. Foto: Ingimage

Estimular a participação do pai na educação das filhas é uma das estratégias sugeridas no relatório Ela vai no meu barco – Casamento na infância e adolescência no Brasil, que será divulgado nesta quarta (9) pelo Instituto Promundo, com sede no Rio de Janeiro. O instituto atua em diversos países pela igualdade de gênero, a prevenção da violência contra as mulheres e direitos das crianças e adolescentes. Para a coordenadora da pesquisa, Alice Taylor, a maior presença do pai pode ter efeito positivo na autoestima das meninas, que escolheriam parceiros com comportamentos e atitudes mais igualitárias em termos de gênero. 

De acordo com o Instituto Promundo, o Brasil ocupa o quarto lugar no mundo em números absolutos de mulheres casadas  antes dos 18 anos. Seriam cerca de 3.000.000, conforme estimativas do instituto feitas com base em um levantamento realizado com jovens atualmente com idade entre 20 e 24 anos.  Os dados sobre atitudes e práticas envolvendo casamento na infância e adolescência foram coletados entre  2013 a 2015 nas regiões metropolitanas de Belém, no Pará, e de São Luís, no Maranhão. 

Segundo dados do IBGE, os dois estados têm alto número de casamentos infantis (de meninos e meninas com idade entre 10 e 18 anos). Os níveis de ocorrência desse fenômeno são maiores apenas na República Dominicana e Nicarágua. Para eles, a média é de 18 anos.

O relatório indica ainda que a idade média de casamento e de nascimento do primeiro filho de meninas entrevistadas é 15 anos. Os homens são, em média, nove anos mais velhos.

Alice Taylor, do Promundo, disse que é fundamental identificar em qual contexto as meninas fazem essa escolha. “Existem formas de pressão”, diz a especialista. Uma delas é que na América Latina esse tipo de união não é considerado um arranjo e sim algo consensual. Esse conceito contribuiria para a disseminação da prática.  

Outros fatores que colaboram fortemente para o casamento entre adolescentes são questões socioeconômicas, opções de trabalho, baixa escolarização, o controle da sexualidade e a gravidez indesejada.

Alice acrescentou que as meninas, desejando sair da casa dos pais, se casam para ter sua liberdade, mas acabam desapontadas e vivendo experiências de controle ainda maior por parte do marido. “Uma coisa é o casamento em si, outra é a dinâmica que existe diante da diferença de poder, do homem com mais experiência”. Para a pesquisadora, isso tem impacto sobre as meninas, que tendem a deixar a escola ou engravidar mais cedo.

Por isso, o Promundo afirma que é necessário fazer uma reflexão que envolva toda a comunidade para desconstruir um modelo de comportamento em que os homens acabam se casando com meninas mais novas, porque as acham “mais atraentes e fáceis de controlar”.

Relações de desigualdade

O estudo do Promundo revelou também que os meninos, quando têm a mesma idade das garotas casadas, são desprezados como parceiros por causa da percepção de que não são responsáveis nem provedores. “É uma recomendação muito importante trabalhar as questões de gêneros com homens, meninos, meninas, lideranças religiosas e comunitárias, redes de proteção sobre os direitos e escolhas possíveis para meninos e meninas, as suas possibilidades dentro de relacionamentos, seus direitos sexuais”, disse Alice. 

No Brasil, há estudos e avanços sobre temas como gravidez na adolescência, evasão escolar, exploração sexual e infantil, mas a questão do casamento entre adolescentes e de que modo esses relacionamentos estão ligados a outras questões não havia sido explorada. De fato, é importante que o tema seja discutido em vários ambientes da sociedade civil. Ele existe e é preciso pensar como deve ser articulado dentro de políticas públicas e quais sistemas e direitos poderiam ser melhorados. 


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