Crescer em meio a pobreza tem uma série de consequências negativas que ultrapassam as necessidades financeiras, afirmam pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Segundo os cientistas, além de todas as dificuldades, essas crianças terão alteradas as conexões de algumas regiões do cérebro e, por isso, poderão ter menos capacidade de regular emoções e estresse futuramente. A pesquisa com o achado foi publicada no dia 15 de janeiro na edição on-line do Journal of Psychiatry.
Os pesquisadores analisaram a imagem do cérebro de 104 crianças de 7 a 12 anos e descobriram que as estruturas-chave do órgão estão conectadas de forma diferente em crianças pobres, quando comparadas com indivíduos que cresceram em ambientes mais abastados.
Uma estrutura em particular analisada foi o hipocampo, região responsável pelo processamento da aprendizagem, memória e regulação do estresse. Também a amígdala, área também ligada ao estresse e a emoções, tiveram suas conexões analisadas.
Por meio de exames de ressonância, os pesquisadores perceberam que as conexões dessas áreas com outras do cérebro são mais fracas, dependendo do grau de pobreza a que a criança foi exposta. Quanto mais pobre a família, maior a probabilidade do hipocampo e a amígdala se conectarem a outras estruturas do cérebro dessa maneira.
Além disso, crianças pré-escolares mais pobres eram muito mais propensas a ter sintomas de depressão clínica quando atingiram a idade escolar (em torno de 9 e 10 anos).
“Neste estudo, verificou-se que o modo como essas estruturas se conectam com o resto do cérebro muda de maneira que consideraríamos ser menos útil na regulação da emoção e estresse”, disse Deanna M. Barch, professora da Universidade de Washington e primeira autora do estudo.
Uma pesquisa anterior do mesmo grupo de pesquisadores identificou diferenças no volume de matéria cinzenta e matéria branca, e do tamanho e volume do hipocampo e amígdala. Mas eles também descobriram que muitas dessas mudanças podem ser superadas através de carinho dos pais. Isso não é verdade, no entanto, em relação a mudanças na conectividade identificados no novo estudo.
Maior probabilidade para doenças psiquiátricas
“A pobreza é um dos preditores mais poderosos de maus resultados de desenvolvimento para as crianças”, disse Joan L. Luby, professor de psiquiatria infantil da Universidade de Washington e também autor do estudo.
Crianças criadas em condições de pobreza tendem a ter maus resultados educacionais e estão em maior risco para doenças psiquiátricas, como depressão e comportamentos antissociais.
Pesquisadores acreditam que fatores como estresse, exposições ambientais adversas (como fumaça de cigarro e má nutrição) – juntamente com oportunidades educacionais limitadas, podem contribuir para problemas mais tarde na vida.
“Esse estudo é importante porque chama a atenção em como as experiências adversas no início da vida estão influenciando o desenvolvimento e função do cérebro”, diz. “Não podemos esperar para intervir e precisamos fazer isso o mais cedo possível para ajudar essas crianças a ter melhores trajetórias de desenvolvimento em suas vidas.”
Referências
BARCH, Deanna. PAGLIACCIO, David et al.”Effect of Hippocampal and Amygdala Connectivity on the Relationship Between Preschool Poverty and School-Age Depression” em The American Journal of Psychiatry. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1176/appi.ajp.2015.15081014. Acesso em: 17 de janeiro de 2016.
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