Nicotina bloqueia efeito de indução do sono do álcool, diz estudo

Não é por acaso que quem bebe tem vontade de fumar. O fenômeno, que muitas vezes cria fumantes casuais, também assombra dependentes de nicotina que querem deixar o cigarro. É só dar o primeiro gole de cerveja que todo o esforço vai álcool abaixo.

Nas estatísticas, ambos os vícios também andam juntos. Hoje, cerca de 85% daqueles que têm dependência do álcool também são dependentes de nicotina. Mas, embora socialmente o fenômeno seja altamente conhecido, pouco se sabe sobre o que ocorre no cérebro para que as duas substâncias estejam tão interligadas.

Na tentativa de encontrar uma resposta, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, em estudos em ratos, chegaram à conclusão que o cigarro corta o sono provocado pelo álcool e, por isso, ele é tão desejado na hora da bebedeira. O estudo foi publicado na edição de outubro do Journal of Neurochemistry.

O fenômeno de interdependência entre a nicotina e o álcool, socialmente conhecido, começa a ser explicado pela ciência. Foto: MU Health/Divulgação
O fenômeno de interdependência entre a nicotina e o álcool, socialmente conhecido, começa a ser explicado pela ciência. Foto: MU Health/Divulgação

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores implantaram eletrodos em ratos para medir a atividade do prosencéfalo basal (parte do cérebro associada com os mecanismos de vigília e sono). Depois, injetaram nicotina nessa região, seguida de uma dose de álcool colocada diretamente no estômago das cobaias.

O que os pesquisadores observaram após essa experiência é que o álcool não exercia os mesmos efeitos depressores na presença da nicotina, que exigiu uma resposta do cérebro. O órgão, sob efeito do cigarro, continuava curiosamente em vigília. 

“Descobrimos que a nicotina enfraquece os efeitos de indução do sono de álcool e isso pode ajudar a conhecer melhor os mecanismos de dependência das duas substâncias”, diz Mahesh Thakkar, professor associado do Departamento de Neurologia da Universidade de Missouri e autor do estudo.


Entendendo a dependência

Recentemente, também um outro estudo mostrou que indivíduos que estão tentando parar de beber têm mais rico de recaída se continuarem fumando. O ideal, dizia a pesquisa, é que as duas dependências sejam tratadas simultaneamente. 

O tabagismo já é considerado um fator de risco para o desenvolvimento do alcoolismo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 7 milhões de mortes por ano são atribuídas ao uso de álcool e de nicotina.

O grupo de Takkar na Universidade de Missouri também já havia estudado como o álcool e a nicotina atuam no chamado centro de recompensa no cérebro, área associada à busca pelo prazer.

Estudos nessas regiões mostram que, quando essas áreas são acionadas, elas não só provocam sensações de prazer mas podem levar a repetidas tentativas de estimulação para que a sensação volte. 

Em alguns casos, pesquisas com modelos de animais registraram que eles podem ser capazes de negligenciar outras atividades importantes para a sobrevivência, como a busca por alimento.


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