Fumar diminui a produção de dopamina natural do cérebro, mas a quantidade do composto volta ao normal três meses após o abandono do vício. É o que revelou um estudo recente publicado no Biological Psychiatry. A pesquisa foi feita por Lena Rademacher, da Universidade de Lubeck, na Alemanha, e faz parte de uma série de estudos que buscam entender os mecanismos da dependência química.
A dopamina é uma substância do grupo dos neurotransmissores que ajuda no tráfego de informações entre uma célula nervosa e outra. Cada um dos compostos envolvidos nessas trocas de mensagens entre os neurônios atua no transporte de informações específicas. No caso da dopamina, ela regula a comunicação relacionada a funções variadas como o aprendizado, emoções, prazer e controle dos movimentos.
O estudo feito por Rademacher revelou também que déficits na ação e quantidade do neurotransmissor são uma consequência do tabagismo crônico. Os resultados levantam a possibilidade de que tratamentos com base na normalização da dopamina possam ajudar na transição do vício.
A dopamina é sintetizada dentro do chamado sistema de recompensa. O sistema foi primeiramente descrito pelo psiquiatra James Olds que, ao posicionar eletrodos em ratos, descobriu que os animais se sentiam “atraídos” por choques elétricos em uma região específica. Quanto mais levavam choques nessa região, mais se desinteressavam por outras atividades que poderiam gerar prazer. Esse sistema, particularmente, têm forte predominância de dopamina e é mediado por ela. Desde então, a substância é muito estudada para o entendimento dos mecanismos da dependência.
Mapeando o cérebro para entender a dependência
No estudo, os pesquisadores usaram uma técnica para produção de imagens do cérebro chamada “tomografia por emissão de pósitrons”. Com ela, mediram a capacidade de produção de dopamina em 30 homens que eram fumantes e em 15 não fumantes.
A análise inicial revelou uma redução entre 15% e 20% na capacidade de produção de dopamina em fumantes em comparação com não fumantes. Depois de três meses, metade dos tabagistas parou de fumar e os testes foram repetidos novamente. Resultado: os níveis de dopamina dos que abandonaram a nicotina voltaram ao normal.
Os pesquisadores esperavam que a deficiência da substância persistisse mesmo depois parar de fumar, o que poderia ser entendido como um marcador de vulnerabilidade para a dependência da nicotina. “Surpreendentemente, as alterações na capacidade de síntese de dopamina foram normalizadas depois da abstinência”, disse o pesquisador Ingo Vernaleken, professor na Universidade de Aschen, na Alemanha, que participou do estudo.
O papel da dopamina na vulnerabilidade para a dependência da nicotina não pode ser excluído, mas os resultados obtidos nesta pesquisa sugerem que a dopamina alterada de fumantes é uma consequência do consumo de nicotina e não a sua causa.
O estudo apontou também que os primeiros três meses após a pessoa parar de fumar podem ser um momento particularmente vulnerável para a recaída. Em parte, por causa da persistência dos déficits na produção do neurotransmissor dopamina. A esperança é que tratamentos visando justamente a dopamina possam ser úteis nessa fase.
Fontes: OLDS, James. Pleasure Centers in the Brain. Scientific American, 1956.
RADEMACHER, Lena. et al. Effects of Smoking Cessation on Presynaptic Dopamine Function of Addicted Male Smokers. Biological Psychatry, 2016.
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