Ter acesso à renda, ao serviço militar ou à assistência médica… isso os transgêneros “podem” fazer e a maioria da sociedade está “de acordo”. Agora, quando o assunto é usar o banheiro, ou mudar a foto da carteira de motorista, por exemplo, a opinião pública está dividida. É o que mostra pesquisa da Universidade de Kansas (EUA), publicada no Journal of Politics, Groups, and Identities. Segundo o estudo, alguns direitos não são vistos de maneira uniforme pelos norte-americanos.
“Nos debates tradicionais sobre direitos civis, as pessoas tendem a ser mais liberais, disse Patrick Miller, professor-assistente de Ciência Política da Universidade de Kansas e autor do estudo. “Agora, em políticas que são mais relacionadas ao corpo, tais como mudanças físicas e apresentação física de gênero, mais americanos tendem a ser conservadores.”
O pesquisador usou um banco de dados de pesquisa americano para chegar aos resultados. Originalmente, o levantamento foi feito pela empresa GFK em 2015 e continha 14 afirmações relacionadas a direitos de pessoas transgêneros. Nelas, as pessoas assinalavam se “concordavam”, “não concordavam”, “discordavam totalmente” ou “concordavam totalmente”. Também havia uma opção neutra: “não concordo, nem discordo”.
No estudo, os pesquisadores demonstraram, por meio de referências, que as 14 afirmações dessa pesquisa tinham duas dimensões: uma de direitos civis e a outra, mais centrada no corpo. Cada entrevista, assim, foi recodificada para atender a esse novo critério e receberam uma escala de ± 2: de tal forma que +2 indica o maior apoio de transgênero; -2 a maior oposição, com zero indicando neutralidade.
Assim, na escala de direitos civis, 24.71% declaravam o não apoio, 8.14% pontuaram de forma neutra e 67.15% expressaram afirmações positivas. Já na escala relacionada ao corpo, 55.69% tiveram reação negativa, 6.76% neutra, e 37.55% positiva.
Falar sobre o que é tabu
Para Miller, o estudo poderia orientar pessoas que defendem os direitos civis de transgêneros. Segundo ele, muitas vezes, não se fala sobre o que é considerado tabu ou ofensivo, como a discussão sobre o corpo ou sobre as transformações médicas do corpo.
“Eu entendo que as pessoas têm a atitude de “isso não é da sua conta” ou “por que você quer falar sobre isso? “, diz Miller. “Mas a evidência aponta que o corpo é uma questão para as pessoas. Então, talvez seja necessário um engajamento maior com isso.”
Nos Estados Unidos, cerca de 0.5% da população é transgênero – o que significa que a maioria das pessoas pode nunca ter tido contato com uma pessoa trans. Nesse ponto, grande parte do que é veiculado sobre o assunto chega através da mídia – e a abordagem na imprensa, segundo Miller, tende a focar menos em questões sobre o corpo e mais sobre os direitos civis.
Outro ponto interessante assinalado pela pesquisa é sobre o perfil de pessoas que tendem a ser contra qualquer tido de direito. De acordo com Miller, esse traço não tem necessariamente um perfil ideológico, mas psicológico. Ele explica que pessoas com esse perfil têm tendência a sentir nojo de uma maneira geral, não especificamente de transgêneros. Também esses indivíduos são mais autoritários e expressam maior exigência pela ordem e pelo controle.
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