Após o anúncio do sequenciamento do genoma do vírus Zika na semana passada, cientistas brasileiros avançam em busca de mais informações. Agora, os pesquisadores de diversos centros que estudam o vírus e suas consequências, a exemplo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Fundação Oswaldo Cruz, da Universidade de São Paulo e de laboratórios na Paraíba e Pernambuco, irão investigar também amostras do vírus encontradas no cérebro de crianças recém-nascidas com microcefalia associada ao microorganismo e que não sobreviveram.
Os resultados dessas análises serão depois comparados com os dados obtidos pelo estudo das amostras obtidas do líquido amniótico. Na verdade, esse é um dos diversos estudos feitos pela rede de cientistas.
Além disso, serão estudadas células nervosas do cérebro dos bebês que nasceram com microcefalia associada ao vírus Zika. O objetivo é identificar a expressão dos genes contidos nesses tecidos sob a ação do microorganismo. O estudo poderá mostrar o que acontece na intimidade das células em reação à infecção pelo Zika e que potencialmente leva às graves lesões neurológicas.
O conhecimento genético do vírus e das alterações que provoca é essencial. A esperança é conhecer as armas do vírus zika e os caminhos percorridos por ele no organismo para identificar estratégias de ataque que possam neutralizá-lo, aos seus efeitos ou a ambos. “Com essas informações, poderemos tentar entender porque o vírus está preferencialmente infectando células neuronais das crianças e não infectando células neuronais de adultos e, neste caso, das grávidas”, explicou o professor Renato Santana, envolvido nas pesquisas.
Como foi a descoberta
No Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, o virologista Renato Souza e sua equipe sequenciaram o material genético do vírus obtido de uma pessoa que contraiu o microorganismo em transfusão de sangue. A análise mostrou que o vírus que circula no Brasil é bastante próxima da que circulou na Polinésia Francesa e na Ilha de Páscoa.
Já na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a equipe do virologista Amílcar Tanuri sequenciou amostras do vírus zika tiradas do líquido amniótico de duas gestantes que tiveram bebês com microcefalia na Paraíba. Os resultados do estudo, que serão publicados pela revista científica Lancet , orientarão o desenvolvimento de vacinas e testes. A comparação dos vírus sequenciados sugere aos pesquisadores que eles foram introduzidos uma única vez no Brasil.
Também foram isolados fragmentos do vírus no cérebro de dois bebês com má-formação cerebral que morreram. “O que causou maior surpresa foi a permanência a longo prazo do vírus no organismo da criança, durante a gestação inteira, em contraste com casos que já tínhamos visto no Recife, em que não se conseguiu isolar o vírus após o nascimento”, afirmou o pesquisador Amílcar Tanuri, do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ.
Além de estar relacionado aos casos de microcefalia, os pesquisadores acreditam que o vírus Zika possa causar outras graves alterações no sistema nervoso central. Estuda-se se isso pode ocorrer também em adultos.
Números da epidemia
No Brasil, os casos confirmados de microcefalia no país continuam aumentando. Na semana passada, subiram de 41 para 508, sendo a maioria da região Nordeste. Outros 3.935 casos de malformação estão em análise. Por causa da microcefalia, 27 bebês morreram.
Na Colômbia, o número de infectados também cresce. De acordo com Instituto Nacional de Saúde da Colômbia, o país registra 37.000 casos de Zika, entre os quais há 6.356 mulheres grávidas. Pelo menos 30.148 casos foram confirmados por meio de testes clínicos e laboratoriais.
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