Por que algumas prostitutas têm resistência ao vírus HIV?

Mais da metade de todas as pessoas infectadas pelo vírus HIV-1 no mundo são mulheres. Mas, em certas áreas onde a prevalência do HIV é maior, algumas profissionais do sexo não contraem o vírus – apesar de intensa atividade sexual e baixas taxas de uso do preservativo. Esse conhecido fato há muito intriga a ciência.

Agora, cientistas do Instituto Wistar, nos Estados Unidos, parecem ter encontrado uma hipótese que pode começar a explicar a imunidade dessas mulheres. Eles acreditam que, por serem continuamente expostas a vários tipos de sêmen, elas tiveram a microbiota vaginal alterada, o que lhes conferiu resistência ao HIV-1. Os resultados do estudo foram publicados na revista Mucosal Immunology.

Prostitutas em Shangai, na China.  Foto: Lei Han/Creative Commons
Prostitutas em Shangai, na China. Foto: Lei Han/Creative Commons

A expectativa dos pesquisadores é de que essa informação possa ser mais um caminho para novas estratégias preventivas capazes de bloquear a transmissão do vírus.

“Os achados indicam claramente que as mulheres possuem mecanismos de resistência que nós não esperávamos encontrar no início da pesquisa”, escreveram Luis J. Montaner e Herbert Kean, MD, pesquisadores do Instituto Wistar e autores do estudo.

Como foi feita a pesquisa 

Os pesquisadores analisaram 799 mulheres profissionais do sexo em Porto Rico que testaram negativo para o HIV. Elas também foram comparadas com mulheres não prostitutas que, na entrevista, declararam ter baixa exposição ao sêmen.

Nas profissionais imunes, os pesquisadores notaram algumas variáveis que podem explicar o porquê disso ocorrer. Uma observação importante é que, nessas mulheres, o sangue e o tecido da mucosa vaginal registraram baixas taxas de ativação imunológica. Sabe-se que o vírus HIV prolifera em altas taxas de atividade do sistema imune – é isso o que ajuda o agente a se espalhar.

Em segundo lugar, estas mulheres tinham um aumento da expressão de um tipo de célula que geralmente atua na proteção do aparelho reprodutor feminino.

Os pesquisadores conseguiram relacionar o aumento da atividade dessas células com a quantidade de sexo desprotegido que era reportada. Sendo assim, quanto mais sexo desprotegido as mulheres faziam, maior era a atividade dessa célula protetora. Em terceiro lugar, algumas características da mucosa que o vírus usa para se multiplicar não estavam presente nessas mulheres.

Advertência

Os cientistas Montaner e Kean alertam, veementemente, que não se pode usar as informações deste estudo para fazer qualquer apologia ao sexo sem preservativo.
“É importante notar que isso é um caso específico. O não uso do preservativo aumenta o risco geral de infecção pelo HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis”, disse Montaner. “Esse estudo apenas identifica efeitos inesperados da exposição do sêmen a longo prazo.

 


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