Antidepressivos que contribuem para uma maior concentração no cérebro da serotonina, composto associado ao bem-estar, estão entre os medicamentos mais comuns de combate à depressão. Essas drogas são conhecidas como pertencente à classe dos ISRS (Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina). Essas substâncias, grosso modo, impedem que o cérebro “jogue fora” a serotonina circulante.
Fluoxetina, paroxetina e sertralina possuem esse mecanismo de ação e estão entre os medicamentos mais vendidos e consumidos. Apesar de muito usados, no entanto, os compostos não funcionam para 30% a 50% dos pacientes. E a ciência, há muito tempo, tenta descobrir o porquê.
Uma pesquisa que será apresentada agora em setembro em Viena na conferência do European College of Neuropsychopharmacology (ENCP) acredita que a resposta para a não eficácia em algumas pessoas dos medicamentos pode estar no momento pessoal que a pessoa está vivendo durante a terapia. Eles não só partiram dessa hipótese como trouxeram uma das primeiras evidências biológicas de que ela é verdadeira.
A hipótese é que a recuperação da depressão não ocorre simplesmente aumentando os níveis de serotonina, que apenas predispõe o cérebro para perceber a felicidade. “Os ISRS contribuem para abrir o cérebro para um estágio de felicidade, mas são as circunstâncias que vão determinar a recuperação”, diz Silvia Poggini, pesquisadora do Istituto Superiore di Sanità da Roma e autora do estudo, em nota.
Ratos não melhoraram com remédio em situações de estresse
Para testar a hipótese, uma amostra de ratos foi submetida a estresse intenso por duas semanas. Eles, então, trataram todas as cobaias com fluoxetina e dividiram o grupo. Metade dos ratinhos continuou em níveis elevados de estresse e o restante foi conduzido a ambientes mais confortáveis.
Em seguida, os ratos foram testados para medir os níveis de estresse no cérebro por meio de substâncias conhecidas como “citocinas”. As citocinas são substâncias que fazem a comunicação do organismo com o sistema de defesa e ficam em menor número em situações de estresse e depressão.
Eles encontraram que os ratinhos mantidos num ambiente mais confortável mostraram um aumento na expressão de citocinas e aumento na expressão de genes anti-inflamatórios. O contrário ocorreu com as cobaias submetidas a constante estresse.
Isso indica, segundo Poggini, que o ambiente determina a resposta aos antidepressivos. A pesquisadora enfatiza em nota que simplesmente tomar um antidepressivo não será suficiente e funciona apenas como uma ferramenta a ser usada no combate à depressão. Ela alerta, no entanto, que os resultados são preliminares e que é altamente recomendável que os pacientes mantenham a terapia prescrita pelo especialista.
“A ideia de que o ambiente poderia impactar a eficácia de um tratamento farmacológico tem sido sugerida há anos, mas este trabalho traz evidências biológicas diretas de tal interação”, comentou Laurence Lanfumey, psiquiatra do Centro de Psiquiatria e Neurociência Insern, em Paris. Lanfumey também é membro consultivo da ECNP.
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