Por que o tratamento da depressão pode salvar a economia de um rombo futuro?

A cada US$ 1 investido no tratamento da depressão e da ansiedade, a sociedade teria um retorno de US$ 4 em economia de saúde e capacidade de trabalho, estima estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) publicado nesta terça-feira (13) no The Lancet Psychiatry. A pesquisa é uma projeção para 2016-2030 e foi feita na tentativa de estimular países a investirem mais na saúde mental. Tudo expectativa, porém. Por enquanto, o investimento está muito aquém do necessário para o retorno. 

E é por isso que a entidade está num esforço global para conter o avanço da depressão no mundo – e o estudo é só um dos pilares.  A OMS espera que o bolso sirva como alerta. Prova de que talvez o aviso esteja funcionando é que organizações como o Banco Mundial estão se unindo à campanha. A avaliação do banco é que, se o mundo não avançar em prevenção e tratamento, a conta simplesmente não vai fechar – tanto do sistema de saúde quanto da perda de produtividade de boa parte da força de trabalho.

“Apesar das centenas de milhões de pessoas em todo o mundo que vivem com transtornos mentais, a saúde mental permanece nas sombras”, disse Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial. “Esta não é apenas uma questão de saúde pública – é uma questão de desenvolvimento. Precisamos agir agora porque a perda de produtividade é uma conta que a economia global simplesmente não pode pagar.”

Não é de hoje que a OMS alerta para o avanço da depressão em todo o mundo. Entre 1990 e 2013, o número de pessoas que sofrem de depressão e/ou ansiedade aumentou em quase 50%. Perto de 10% da população mundial é afetada, e os transtornos mentais são responsáveis ​​por 30% do gasto com doenças não fatais no mundo. Em países em conflito e em situações de emergência, a OMS estima que 1 em cada 5 pessoas é afetada pela depressão e pela ansiedade.

“Sabemos que o tratamento da depressão e da ansiedade faz sentido para o bem-estar e esse estudo confirma que há benefícios econômicos também”, comenta Margaret Chan, diretora-geral da OMS. “Temos agora de encontrar maneiras de garantir que o acesso aos serviços de saúde mental se torne uma realidade para todos os homens, mulheres e crianças, onde quer que vivam.”

Bando Mundial e OMS estão de olho no rombo econômico que avanço da depressão pode causar. Foto: Ingimage
Bando Mundial e OMS estão de olho no rombo econômico que avanço da depressão pode causar. Foto: Ingimage

Como o cálculo foi feito

O novo estudo estimou os custos do tratamento com depressão e ansiedade em 36 países (de baixa, média e alta renda). Segundo a entidade, se feitos adequadamente, os gastos com terapias para essas condições serão da ordem de US$ 147 bilhões entre 2016 e 2030.

No entanto, a OMS verificou que o investimento compensará economicamente. Só em participação da força de trabalho e na produtividade o retorno é avaliado em US$ 399 bilhões. Também o sistema de saúde economizaria US$ 310 bilhões com investimento em tratamento adequado. 

Todo esse cálculo, contudo, é uma estimativa. Atualmente, segundo a OMS, o investimento em serviços de saúde mental é muito menor do que o necessário. De acordo com a pesquisa “Saúde Mental Atlas 2014” da organização, os governos gastam em média 3% de seus orçamentos de saúde com saúde mental, variando de menos de 1% em países de baixa renda para 5% em países de alta renda.

Esforço global

Para tentar atingir melhores políticas de saúde mental, entre os dias 13 e 14 de abril, a OMS, junto com o Banco Mundial, promove uma série de eventos. Especialistas, ministros, agências de desenvolvimento vão apresentar suas iniciativas e projetos.

Países que foram bem-sucedidos na intensificação dos cuidados de saúde mental irão apresentar os desafios que enfrentaram e como foram superados. O Brasil, por exemplo, irá apresentar a iniciativa da rede de atenção psicossocial, os chamados CAPS. Etiópia e África do Sul também apresentarão iniciativas.

A ampliação dos serviços de saúde mental é uma das metas da ONU. A iniciativa integra uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, aprovados na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015. Em 2030, a OMS espera reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis através da prevenção e tratamento, além de promover a saúde mental e o bem-estar.


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