Universidade no Texas desenvolve modelo animal para testes com a vacina antizika

Na corrida para combater o zika, pesquisadores da Universidade do Texas Medical Branch (UTMB), nos Estados Unidos, publicaram o primeiro relato sobre as cobaias que serão utilizadas nos testes para a vacina.  A universidade americana é uma das parceiras do Instituto Evandro Chagas, no Pará, instituição que também tenta desenvolver um imunizante viável contra o zika. 

Os camundongos tiveram que ser modificados geneticamente para desenvolver a infecção -e já podem ser utilizados. A pesquisa é importante porque remove um empecilho para os testes do tratamento. Ainda não havia um modelo animal para o início das novas fases da pesquisa. O estudo foi publicado nesta segunda-feira (28) no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene (AJTMH). 

“Sem esse modelo, nós iríamos ficar estagnados em nossos esforços para encontrar novos tratamentos. Você pode olhar para a eficácia em culturas de células, mas isso nada diz sobre o que vai acontecer quando você testar em um rato ou um ser humano”, diz Shannan Rossi, virologista e principal autor do estudo.

Segundo o pesquisador, a criação de um modelo de rato como este normalmente leva vários meses, mas a urgência da situação impulsionou a equipe. Eles foram capazes de reunir os resultados em apenas três semanas. 

O mosquito Aedes Aegypti transmite dengue, zika e chikungunya. Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas (20/12-2015)
O mosquito Aedes Aegypti transmite dengue, zika e chikungunya. Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas (20/12-2015)

Como foi o estudo

Rossi injetou diversos ratos com o vírus Zika isolado na Ásia em 2010. A atual epidemia na América do Sul pode ser atribuída a essa linhagem de vírus.  Para que a doença fosse detectável, pesquisadores alteraram geneticamente as cobaias para que amenizassem qualquer resposta imune ao vírus. Os ratos jovens ficaram letárgicos, perderam peso e morreram no prazo de seis dias após a infecção. Já os mais velhos, chegaram até a ficar doentes, mas não desenvolveram a infecção inteiramente. A maioria também se recuperou.

Uma vez que pouco se sabe sobre como o vírus se comporta dentro do corpo, os pesquisadores também procuraram evidências de infecção viral nos órgãos dos animais. Eles encontraram partículas virais na maioria dos órgãos, com os mais altos níveis no baço, cérebro e testículos. Embora os resultados sejam preliminares, eles corroboram evidências de que o vírus pode ser transmitido sexualmente. A descoberta do vírus no cérebro também poderia ser importante, uma vez que o impacto mais devastador do surto atual está na associação entre o vírus e a má-formação por zika detectadas em fetos e bebês no Brasil. 


Desafios e investimento contínuo

Embora o estudo nas cobaias não prove uma conexão direta entre a infecção por zika e microcefalia, Rossi disse que a pesquisa ressalta a necessidade urgente de novos testes em animais para determinar o curso da doença e sua transmissão. A compreensão da transmissão humana provavelmente vai exigir modelos de primatas não-humanos e a universidade também está trabalhando nesse sentido. Os testes, no entanto, estão em estágios muito iniciais. 

Ele enfatizou que a maior parte da pesquisa sobre o vírus Zika foi publicada em 1950 e 1960. E até o surto recente havia pouco interesse ou financiamento de pesquisa disponível para estudar o zika. 

Outra dificuldade para rastrear o vírus, segundo Rossi, decorre do fato de que a maioria das pessoas não apresentam sintomas e aqueles que ficam doentes têm sinais que se confundem com as infecções virais mais comuns, como dengue e chikungunya.

Rossi assinala ainda para a necessidade de financiamento contínuo e de longo prazo para que o mundo esteja mais preparado para esse tipo de surto uma próxima vez.  


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