QUE SEMANA #125

Manifestação contra o governo em Brasília. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Manifestação contra o governo em Brasília. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

A semana começou tensa. Domingo, dia 13, milhões de manifestantes foram às ruas contra o governo Dilma Rousseff. Os atos aconteceram em várias cidades do País. O maior se concentrou na Avenida Paulista, em São Paulo. Não houve agressões, apenas uma mulher presa por desacato. 

Os discursos feitos por pessoas posicionadas em carros de som já tiveram outro tom. Em um deles, estudantes universitários gritavam: “Fora PT, Fora Dilma, Fora Haddad”. Manifestantes xingavam Lula de “ladrão” e afins. O advogado Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT e autor do pedido de impeachment contra Dilma, aos 94 anos andou até a Paulista e discursou no carro do movimento Vem Pra Rua.

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Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Aloysio Nunes e Paulinho da Força indo para o ato. Foto: Reprodução/Twitter

Mas não teve pra ninguém. Os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin também foram se manifestar. Era a primeira participação da dupla em protestos contra o governo. Devem ter pensado que iriam faturar politicamente. Só que não. Foram expulsos do ato aos gritos de “oportunistas”, “bundões”, “vagabundos”. 

Naquele mesmo domingo, a presidenta Dilma passou o dia no Alvorada. Não fez pronunciamento nem apareceu em público. No final do dia, reuniu ministros e avaliou o domingo. À noite, o Palácio divulgou nota: “A liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada”. É isso. 

O ex-presidente Lula. Foto: Divulgação
O ex-presidente Lula. Foto: Divulgação

Na segunda gorda, dia 14, os jornais anunciavam que Lula iria aceitar o convite para assumir um ministério. Ainda não se falava só em Casa Civil. O convite tinha ocorrido por parte do PT, depois que Lula fora conduzido para depor na PF, dez dias antes. Aí começou a maior novela. 

Na sequência, Delcídio do Amaral, delator da Lava Jato, acusou Dilma de tentar sabotar a operação por meio de Aloizio Mercadante, ministro da Educação. Delcidio entregou gravações de diálogos entre um assessor seu e Mercadante. O ministro, de acordo com o que foi divulgado, ofereceria proteção política e financeira para o delator. Mercadante negou tudo. Delcídio, em entrevista a um jornal, se autodefiniu “profeta do caos”. Seja lá como for, esse mesmo Delcídio envolveu também Edinho Silva, da Comunicação Social, o tucano Aécio Neves que, segundo o delator, recebeu propina de Furnas, Michel Temer, nosso vice do PMDB, Renan Calheiros, presidente do Senado pelo PMDB… Um monte de gente. 

Enquanto isso, a Procuradoria Geral da República avaliava abrir inquérito para investigar Dilma, Temer e Lula. A essa altura, o PMDB anunciava deixar a aliança com o governo e Lula adiava a decisão sobre ir para algum ministério. O STF também decidiu que as acusações contra Cláudia Cruz e Danielle Cunha, mulher e filha de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, deveriam ser julgadas pelo juiz Sérgio Moro, que comanda a Lava Jato. O que a mulher e a filha de Cunha devem temer? Bem, elas são investigadas por irregularidades em contas mantidas na Suíça pelo próprio Cunha. 

O presidente da Camâra, Eduardo Cunha. Foto: EBC
O presidente da Camâra, Eduardo Cunha. Foto: EBC

Difícil entender todo o quadro e era só quarta-feira, 16. Lula acabou sendo nomeado ministro-chefe da Casa Civil. Houve reações de todo tipo, de que o governo estava certo, de que estava errado, que Lula não deveria, que isso e aquilo. Enquanto isso, Moro retirou o sigilo de interceptações telefônicas de Lula – ou seria o da presidenta Dilma? E foi o maior fuzuê. As conversas gravadas pela PF incluem diálogo entre Dilma e Lula. Não se grampeia telefone de presidente. Manifestantes e oposição começaram a pedir a renúncia de Dilma. Na Câmara, deputados bateram boca. Um vexame.

O Planalto reagiu, dizendo que Moro violou lei com o vazamento. Para o juiz, o interesse público justificava a divulgação da conversa. Mais uma vez, FHC saiu falando. Desta vez, o também ex-presidente chegou a afirmar que o País não poderia ser dirigido por um “analfabeto”. FHC parece ter se esquecido dos oito anos de gestão Lula, que tirou milhões de brasileiros da miséria. Isso sem falar que cometeu uma agressão a 50 milhões de outros brasileiros que, segundo o IBGE, ainda são analfabetos. Uma vergonha que o País precisa resolver. 

Foto: iFHC
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Foto: iFHC

À noite, em São Paulo, ato no Tuca, teatro da PUC, reuniu juristas, intelectuais, artistas, representantes de movimentos sociais. Estavam lá em ato contra o impeachment e pela democracia. Debateram o excesso do Judiciário e apontaram que a escalada da intolerância política colocava (e coloca) em risco conquistas da democracia. Encheu de gente. Ontem, dia 17, o Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, também em São Paulo, esteve lotado. Em ato pela legalidade, juristas criticaram a ação de Moro e fizeram apelos por resistência democrática. Tudo isso na mais tradicional Faculdade de Direito do País.

Dilma se manteve firme. Voltou a atacar o grampo da Lava Jato, dizendo que grampo na presidência da República ou em qualquer pessoa não é lícito. É algo previsto como crime na legislação. O filósofo Renato Janine Ribeiro se manifestou no Facebook , afirmando que grampo ilegal coloca em risco o direito de todos nós. O meu, o seu, o de todos.

Ato pela legalidade na Faculdade de direto na USP / Foto de Luiza Villaméa
Ato pela legalidade na Faculdade de direto na USP / Foto de Luiza Villaméa

Na quinta, 17, Dilma deu posse a Lula na Casa Civil. Pouco tempo depois, nem uma hora depois, um juiz de Brasília suspendeu a posse do ex-presidente. Mas horas antes desse impedimento, havia caído liminar que pedia a suspensão de Lula como ministro. Era a primeira a ser derrubada. A juíza dessa liminar é Graziela Bündchen, de Porto Alegre, irmã da top Gisele Bündchen, que, nas redes sociais, declarou apoio a Sérgio Moro. Ninguém se entende. Pedidos contra a nomeação foram encaminhadas à Justiça e derrubados. 

Até sexta, dia 18, não se sabia se Lula era ou não ministro. Nesse dia houve atos em todo o País a favor do governo. Habitantes de todos os Estados e do Distrito Federal invadiram as ruas em atos a favor da democracia e contra o golpe que está sendo orquestrado. Leia bem: todos os Estados e o Distrito Federal. Milhares de pessoas. Lula esteve na Paulista. Discursou. “Esses de verde e amarelo não são mais brasileiros do que nós”, ele disse. Foi de arrepiar. Quando ele estava falando, a Globo teve problemas técnicos e não conseguiu transmitir. Muita coincidência.

Lula e Dilma na posse do ex-presidente como ministro. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Lula e Dilma na posse do ex-presidente como ministro. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

À noite, o ministro do STF Gilmar Mendes suspendeu a posse de Lula como ministro. Acolheu duas ações apresentavas ao Supremo, uma do PPS e uma do PSDB. Mendes, a posse de Lula pode configurar “fraude a Constituição”. O Planalto vai recorrer. Está próxima semana promete novas reviravoltas.

Ato na avenida Paulista, em São Paulo
Ato na avenida Paulista, em São Paulo. Foto: Divulgação

 


Comentários

2 respostas para “QUE SEMANA #125”

  1. Mais um blog PeTralha.

  2. Avatar de Welbi Maia Brito
    Welbi Maia Brito

    Milhões de pessoas foram às ruas contra o PT, Dilma e Lula. Mas a imprensa precisa criticar os tucanos para parecer imparcial. Se alguns criticaram Geraldo Alckmin e Aécio, muitos outros os apoiaram por participarem do ato como cidadãos. O desgaste que o PT trouxe à classe política acabou afetando todos. Mesmo aqueles que nunca se envolveram em casos de corrupção, como o governador Alckmin.

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