Quarenta e três anos depois, o coronel reformado do Exército Paulo Malhães admite pela primeira vez que foi um dos chefes da operação montada para ocultar o corpo do então deputado federal Rubens Paiva. Em entrevista ao jornal O Dia, o coronel deu detalhes sobre a “missão para resolver o problema”, que segundo ele “não seria enterrar de novo”. Malhães é figura conhecida entre militares e, aos 76 anos, um dos mais experientes oficiais do Centro de Informações do Exército (CIE).
Veterano de um passado truculento, o coronel figura em listas de torturadores, elaboradas por presos políticos.
Em entrevista ao O Dia, Malhães conta que a operação levou algum tempo. “Foi um sufoco para achar (o corpo). Aí seguiu o destino normal”, lembra. O corpo de Rubens Paiva, preso em sua casa no dia 20 de janeiro de 1971 por agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa), foi inicialmente enterrado na Praia do Recreio dos Bandeirantes, na areia.
Segundo o militar, para localizar o corpo de Rubens Paiva, duas equipes trabalharam cerca de 15 dias na praia. Além de Malhães, participaram também da operação o coronel reformado José Brant Teixeira, que também o acompanhou em outras operações, assim como os sargentos Jairo de Canaan Cony, já morto, e Iracy Pedro Interaminense Corrêa.
Malhães chegou a admitir que sabia que o corpo procurado se tratava de Paiva e que recebeu a missão do próprio gabinete do Exército em 1973 e que viu colegas graduados como o coronel Freddie Perdigão Pereira recusarem o trabalho. De acordo com ele, o corpo de Paiva havia sido inicialmente enterrado em 1971 no Alto da Boa Vista. Porém, os militares temiam que as obras na Avenida Edson Passos acabassem revelando o cadáver. Então, o corpo foi retirado do local no mesmo ano e novamente enterrado na Praia do Recreio dos Bandeirantes e só em 1973 o CIE resolveu dar uma “solução final”.
Sobre o destino dado após a localização do corpo de Paiva, o militar faz mistério. “Pode ser que tenha ido para o mar. Pode ser que tenha ido para um rio”, diz ao Dia. O corpo de Rubens Paiva nunca foi encontrado.
A Comissão Nacional da Verdade apontou em relatório, divulgado em fevereiro deste ano, o nome de dois agentes que torturaram e mataram Paiva. De acordo com depoimentos prestados de dois militares a CNV, os autores do crime seriam o então tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho e o comandante do DOI, o também major José Antônio Nogueira Belham.
Em depoimento dado à Comissão da Verdade do Rio, o general reformado Raymundo Ronaldo Campos confessou que o Exército montou uma farsa ao sustentar, na época, que Paiva teria sido resgatado por companheiros “terroristas”. A versão oficial era de que, ao ser transportado por agentes do DOI no Alto da Boa Vista, os militares entraram em confronto com um grupo de esquerda, quando Paiva havia conseguido fugir. Raymundo, então capitão, conduzia o veículo supostamente atacado. Também estavam no carro os sargentos e irmãos Jacy e Jurandir Ochsendorf.
Deixe um comentário