“Desejo a vocês um futuro positivo e construtivo”, disse a ex-ministra das Pessoas Idosas e da Autonomia da França, Michèle Delaunay, na abertura do seminário Economia da Longevidade: Oportunidade de Crescimento, Inovação e Bem-estar, organizado por Brasileiros na manhã desta quinta-feira (13) em São Paulo. O tom da dirigente francesa resume de forma categórica o que foi dito nos três painéis e pelos seis palestrantes que exibiram ideias, práticas, experiências e visões sobre a economia da longevidade, um ramo que está em crescimento na Europa e que, no Brasil, teve o pontapé dado pelo Centro de Estudos da Economia da Longevidade, parceiro de Brasileiros Editora na organização do evento.
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Em sua fala, Michèle mostrou, em rápidas palavras, a mudança de visão sobre idosos em seu país. Segundo ela, até pouco tempo atrás, os franceses ainda consideravam os aposentados onerosos ao Estado, mesmo depois de anos de contribuição. O trabalho realizado pela pasta onde ela esteve entre 2012 e 2014, porém, alterou esse ponto de vista. “Custa muito caro manter isso, ainda mais com o envelhecimento populacional. Porém, recentemente percebemos que eles podem ser úteis para o crescimento econômico e em campos como a inovação, além de benefícios. A transformação foi muito positiva”, disse ela em um vídeo enviado de Paris para o evento.
O seminário teve três painéis: o primeiro, chamado Economia da Longevidade, teve debate entre Rita Almeida, líder da CO.R Inovação e Rui Fava, vice-presidente acadêmico da Kroton Educacional.
“A gente precisa é eliminar o preconceito em todas as palavras que definem o envelhecer” (Rita Almeida, líder da CO.R Inovação)
Rita Almeida questionou o papel das empresas brasileiras, que ainda focam suas atenções para pessoas mais novas. ” As empresas continuam no culto à juventude. Não que isso seja ruim, eu sou entusiasmada com isso, mas as empresas continuam pensando que os jovens influenciam os mais velhos, que os que têm mais dinheiro influenciam os que têm menos, e na verdade essas coisas estão muito misturadas. As empresas demandam pouco. A verdade é que ainda estamos no início”, disse ela.
Já Fava afirmou que as pessoas mais velhas podem ter acesso a conhecimento com os mesmos meios usados no aprendizado de jovens. Desconsiderando a ideia de gerações como Y (juventude) e X (idosa), utilizada normalmente para designar as diferenças de idades, Fava explicou ao público do seminário que a instituição em que trabalha possui projetos que usam a mesma linguagem para ambas.
“A geração mais nova aprende as coisas com imagem e movimento, enquanto as mais velhas aprendem com imagens fixas, som e textos, mas também com imagem e movimento. Assim, precisamos encontrar uma linguagem que atinja a todos, da geração Y à X, que é a mais velha”, explicou. “O principal modelo que buscamos é a atratividade, que vale para qualquer produto e qualquer serviço. É imprescindível, porque é o que atrai a atenção das pessoas”, completou.
“A sociedade tem uma visão velha sobre os velhos, enquanto, na verdade, os idosos costumam ser mais alegres e felizes do que se supõe” (Pedro Gravena, diretor de criação digital da Agência FCB)
Questionados por um participante sobre o termo utilizado de forma melhor para definir uma pessoa mais velha, como “idoso”, “velho” ou “melhor idade”, Rita e Fava responderam de forma parecida. Para ela, “o que a gente precisa é eliminar o preconceito em todas as palavras que definem o envelhecer, e aí podemos usar qualquer uma delas”, enquanto ele, novamente afirmou que não pode haver distinção. “Nós não fazemos diferenciação. Nós da Kroton chamamos de regeneration, no sentido de produção de material. Não olhamos a geração, porque acreditamos que todos são iguais”.
O segundo painel, Empreendedorismo e Oportunidades de Negócios, teve Marco Perino, presidente da Alternate Technologies, que exibiu detalhes da atuação farmacêutica de sua empresa, e Pedro Gravena, diretor de Criação Digital da Agência FCB Brasil, que fez a palestra mais descontraída do evento.
Gravena afirmou que a sociedade tem “uma visão velha sobre os velhos”, enquanto, na verdade, os idosos costumam ser mais alegres e felizes do que se supõe.
Recentemente, ele participou da criação de uma peça de publicidade da rede de escolas de ensino de idiomas CNA, em que idosos norte-americanos conversavam com adolescentes brasileiros por meio de videoconferências. O resultado foi uma troca de ideias, experiências e visões entre duas gerações, tudo isso permeado, claro, pela aprendizagem da língua inglesa: os diálogos são analisados posteriormente por professores da escola, que avaliam a conversação e evolução dos alunos a partir dessas conversas.
O vídeo (veja abaixo), exibido no seminário, mostra senhores e senhoras do Windsor Park, em Illinois, nos Estados Unidos, um centro de acolhimento de idosos, conversando com os meninos brasileiros.
“Esse projeto do speaking exchange fez sucesso no mundo todo e inspirou gente, por exemplo, na Alemanha, onde começaram a ensinar alemão para brasileiros nos mesmos moldes. Foi bem divulgado no mundo todo. A ideia inicial foi para frente porque pensamos: ‘poxa, tem tanto idoso sozinho que poderia ensinar inglês’. No meio do projeto, nos adaptamos. Nós percebemos que eles não são coitadinhos, apesar de a mídia estar já com uma ideia pré-concebida de que eles são, de fato, coitadinhos. Essa visão não partiu da agência nem da escola, mas dos veículos de imprensa. Eles estavam dispostos a ensinar”, contou.
O terceiro e último painel, Tecnologia e Envelhecimento, contou com apresentações de José Roberto Muratori, diretor executivo da AURESIDE – Associação Brasileira de Automação Residencial e Predial – , e Andrey Araújo Masiero, Professor e Pesquisador em Interação Humano-Robô. Os dois também fizeram exibições sucintas sobre projetos em andamento que incluem idosos em processos de crescimento econômico.
Economia da Longevidade
O seminário Economia da Longevidade: Oportunidade de Crescimento, Inovação e Bem-estar foi uma parceria da Brasileiros com o Centro de Estudos da Economia da Longevidade. Foi a primeira vez que as empresas foram chamadas para discutir o tema no Brasil, mostrar seus “cases” e discutir a visão estratégica sobre a dinâmica populacional. Um dos principais idealizadores do projeto é o diretor da entidade, Jorge Félix, que mantém um blog em Brasileiros sobre o assunto.
“A economia da longevidade é sempre vista como apenas como um filão de mercado e de consumo a partir do maior número de idosos na população. Essa é uma definição simplista e não está de acordo com o que está na literatura e na ação de muitos países europeus, como a França. É uma estratégia de crescimento econômico nos países industrializados e de produção industrial. Mais do que isso, a gerontecnologia estimula a economia, discute o envelhecimento com outra perspectiva que não tratar os mais velhos como bombas-relógios”, disse Félix na abertura do seminário.
A ideia dele é que o evento sirva de incentivo para a formação de redes da economia da longevidade no País, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa. A União Europeia está bastante avançada na formação dessa rede, com o claro intuito de se tornar uma líder global nessa área, dominada pela tecnologia e pela robótica. O mercado que eles visam é o da América Latina, explica. Na opinião do pesquisador, as empresas brasileiras ainda estão muito distantes desse debate por acreditarmos sempre que o Brasil é um eterno país jovem. Por isso a necessidade de colocar o tema em pauta.
O papel da automação
No início de sua apresentação, o engenheiro José Roberto Moratori explicou o significado do termo domótica, área que busca soluções para a integração de mecanismos automáticos. Nos anos 1980, sua principal aplicação era interligar as funções de climatização, segurança e iluminação dos novos edifícios em construção. Moratori, que preside a Associação Brasileira de Automação Residencial, acredita que haverá uma grande expansão do setor em razão do crescimento da população idosa. “As soluções da automação vão de encontro à necessidade de criar opções para atender e monitorar idosos que moram sozinhos, por exemplo”, diz o executivo. “ Para os idosos, as casas inteligentes podem ser o lar doce lar.”
Opções que permitam o acompanhamento remoto de um idoso que prefere morar só, por exemplo, estão sendo estudadas por grandes companhias do setor. Outra facilidade da automação que está se tornando mais acessível é a integração de diversos controles remotos em um único painel. “O surgimento dos tablets baratou muito o custo esse processo”, contou Moratori. Para ilustrar, Moratori mostrou um iPad com “botões” para assistir novela, assistir vídeos ou desligar todos os equipamentos.
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