Setor energético tem novo vilão: o ar-condicionado

Como se sabe, este verão extremamente quente e seco de 2014 provocou grande aumento na demanda de energia nos meses de janeiro e fevereiro. De acordo com dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), foram batidos consecutivos recordes no uso de energia, e o pico histórico de demanda ocorreu às 15h41 de 5 de fevereiro. 

O calor e a mudança nos padrões de consumo dos brasileiros alteraram os horários em que o uso de energia é maior. Tradicionalmente eram por volta de 18h às 20h, mas passaram a ocorrer entre 14h30 e 15h30, puxados, principalmente, pelo uso de ar-condicionado em residências, escritórios e espaços comerciais.

Antes, os horários de pico tinham o chuveiro elétrico como vilão. Agora, com o aumento das temperaturas, o grande vilão é o ar-condicionado.

Atualmente, os americanos são o povo que mais utilizam esse aparelho para se refrescar. Nos Estados Unidos, 87% dos lares estão equipados com ar-condicionado. O que preocupa especialistas é que, à medida que as condições econômicas de outros países melhoram, o aumento no uso desse eletrodoméstico deverá disparar, colocando uma pressão sem precedentes sobre a oferta global de energia.

Em artigo publicado na revista “American Scientist”, o pesquisador Michael Sivak, da Universidade de Michigan, calcula que oito países têm potencial de superar os americanos no uso de ar-condicionado: Índia, China, Indonésia, Nigéria, Paquistão, Bangladesh, Brasil e Filipinas.

Na China, por exemplo, o percentual de domicílios com aparelho de refrigeração cresceu de menos de 1% em 1990 para 62% em 2003. Na Índia, que em 2007 registrava 2% de lares com ar-condicionado, as vendas desses aparelhos têm crescido 20% ao ano e, segundo Sivak, o país tem potencial de usar cerca de 14 vezes mais energia para resfriamento que os Estados Unidos. O Brasil, que também está na lista, tem potencial de superar o consumo americano de energia pelo ar-condicionado em quase duas vezes.

Se as mudanças nos padrões climáticos resultarem mesmo em aumento ainda maior das temperaturas, como indica Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) publicado em 2013, a busca por refrigeração, com certeza, deverá aumentar no longo prazo, pressionando a demanda por energia. É isso que mostra um estudo feito pela Agência de Avaliação Ambiental da Holanda. Segundo o estudo, até 2100, a demanda mundial de energia para o ar-condicionado pode aumentar em 72%, como resultado das mudanças climáticas.

A solução imediata apontada por Michael Sivak para que o crescimento do uso de ar-condicionado não provoque uma crise energética no mundo seria desenvolver aparelhos com a mesma qualidade de refrigeração dos atuais, mas que consumiriam bem menos energia.

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