Boa parte da vida profissional de Carlos Henrique de Brito Cruz, 56 anos, está vinculada à Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Começou em 1981, como bolsista de doutorado sobre raio laser. Depois, já diretor da UNICAMP, participou do movimento que a fundação organizou para que se dobrasse de 0,50% para 1% o repasse da receita tributária do Estado, destinada à pesquisa. Em 1995, o então governador Mário Covas o nomeou para o conselho da entidade. De 1996 a 2000, ocupou o posto de diretor-presidente e saiu para ser reitor da UNICAMP. Conta que, em sua gestão, organizou programas de parcerias com pequenas empresas e deu início ao ambicioso Programa Genoma, desenvolvido pela diretoria científica e com repercussão internacional, por ser o primeiro mapeamento genético elaborado fora dos Estados Unidos, da Europa e do Japão. Voltou em 2005, onde está até hoje como diretor científico. Cruz simboliza o espírito apaixonado de quem faz parte da FAPESP.

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Assim como ele, a fundação é dirigida por pessoas comprometidas com o desenvolvimento científico brasileiro. São especialistas que fazem um trabalho apaixonante, amparado em um estatuto conquistado à unha, depois de 15 anos de lutas – de 1947 a 1962, até sair do papel pelo governador Carvalho Pinto – que garantiu 50 anos de autonomia política e financeira, a serem comemorados em maio. Cruz demonstra orgulho quando fala sobre o status que ele e quase duas centenas de funcionários buscam manter e, claro, ampliar na instituição. Diz, convicto, que a FAPESP existe para pensar o futuro. “Cientistas trazem ideias, novidades e desafios, e nós vamos com eles.” No momento, são três os projetos que desenvolve de grande impacto na área ambiental: em bioenergia (BIOEN), na caracterização, conservação e uso sustentável da biodiversidade (BIOTA) e sobre mudanças climáticas globais.

O primeiro reúne pesquisas para aprimorar a fabricação de biocombustíveis e análises do impacto socioeconômico das lavouras para produção de energia. Coordenado por Carlos Joly, da UNICAMP, o BIOTA é o mais antigo de todos, de 1998, e tem mapeado a biodiversidade do Estado e ajudado a formular políticas públicas para a sua conservação. Funciona como um instituto virtual com 200 pesquisadores e 500 alunos de pós-graduação distribuídos em 16 instituições de ensino superior e pesquisa. Participam ainda 50 colaboradores de outros estados e 80 de diversos países. Os investimentos até o momento passam de R$ 80 milhões, que permitiram identificar 1.766 espécies.

O terceiro projeto pretende auxiliar na tomada de decisões relacionadas às avaliações de risco e estratégias de mitigação e adaptação ao efeito estufa – dos R$ 50 milhões investidos, R$ 15 milhões vieram da FAPESP e R$ 35 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Devido ao pioneirismo, o modelo de estatuto da FAPESP foi usado por outros estados para inserirem em suas constituições recursos para pesquisa. Em 1988, a entidade prestou consultoria para a maioria das constituintes, por intermédio de Francisco Romeu Landi e Alberto Carvalho da Silva. “Infelizmente, porém, hoje somente Minas Gerais e Rio de Janeiro repassam o percentual completo”, afirma Cruz. A entidade paulistana, no entanto, mantém parcerias com instituições em todo o País. Cruz destaca que, historicamente, o fato dos seguidos governos terem valorizado o ensino superior abriu caminho para a qualidade das pesquisas bancadas pela FAPESP e fez com que hoje tenha metade da pesquisa do Brasil, embora possua apenas 25% dos cientistas. Nos anos de 1960, além da ampliação e consolidação da USP, foram fundadas a UNESP (1966) e a UNICAMP (1967), e criado por lei o sistema de pós-graduação no País.

Nos primeiros anos, explica Cruz, houve uma concentração maior de pesquisas nas áreas de saúde, agricultura, bioquímica e física. Como a busca da cura para o cancro cítrico, que devastou as plantações de laranja de São Paulo. A partir de 1964 a instituição passou por uma série de turbulências, devido ao regime militar que promoveu uma perseguição a professores e pesquisadores, obrigados a se exilar e fazer carreira no exterior. “Eram profissionais competentes que poderiam ter dado contribuição importante aos estudos de parasitologia, por exemplo”, diz o diretor.

Depois de 1989, com o País redemocratizado e o orçamento dobrado para 1% dos impostos arrecadados, a fundação voltou a enfatizar mais oportunidades de aplicação de pesquisa em desenvolvimento econômico e social, focadas em políticas públicas de impacto social e econômico. Nos anos 1990, a FAPESP voltou a desenvolver pesquisa aplicada.

Em 2012, o repasse será de R$ 870 milhões, gerido por um colegiado de diretores. No ano passado, foram R$ 780 milhões, mais 12% em recursos vindos das aplicações que a fundação tem em imóveis e investimentos no mercado financeiro, como determina o regimento. Sem problemas de fluxo de caixa, os planos são muitos: aumentar os acordos e convênios com outros países, ampliando a qualidade e o impacto da pesquisa paulista, e elevar sua visibilidade mundial. Isso será feito também com a criação de meios para que pesquisadores estrangeiros venham para o País e brasileiros façam o mesmo lá fora. No momento, a FAPESP mantém parcerias com 23 agências de financiamento, 22 instituições de ensino superior e de pesquisa e 17 empresas estrangeiras (Reino Unido, França, Dinamarca, EUA, Argentina, Canadá, Alemanha, Espanha, Holanda, Israel, México e Suíça).

Nem tudo é perfeito, e Cruz fala dos pontos criticados com tranquilidade, amparado na certeza de que esforços estão sendo feitos para amenizá-los. Uma das queixas é a demora para receber resposta para pedidos de bolsa. Ele explica que são 20 mil solicitações por ano – 60% a 70% são atendidas. “O processo requer semanas ou meses, mas reduzimos, em 2005, de 100 para 69 dias.” Ele menciona que algumas instituições chegam a demorar 180 ou 360 dias. Outra reclamação é a de que a FAPESP deveria aumentar a carteira de colaboração com empresas. “Trabalhamos o tempo todo com esse propósito, mas dependemos da empresa, de sua decisão, que conta com o ambiente e do momento econômico do País.”  E, assim, a FAPESP segue ambiciosa e sem barreiras. Melhor: sem estar à mercê de interesses políticos nocivos.

Revista que quer ir para a TV

Até 1994, a FAPESP não tinha departamento ou mesmo política de comunicação, algo voltado para a divulgação de suas atividades e dos resultados das pesquisas que financiava. No começo de 1995, o então diretor-presidente Nelson de Jesus Parada convidou a jornalista Mariluce Moura para algo que parecia tímido: assessorar a FAPESP na comunicação externa. Ela trabalhou sozinha  dez horas por semana. “Não havia a ideia de uma equipe ainda, ponderei que isso certamente seria insuficiente, tratando-se de uma instituição que tinha um imenso manancial a ser explorado para a divulgação de ciência”, recorda-se Mariluce. A parceria foi em frente e, em agosto de 1995, nasceu o primeiro número do Notícias FAPESP, um house-organ de quatro páginas e tiragem de apenas mil exemplares. O boletim cresceu tanto que, na edição 47, virou a revista Pesquisa FAPESP.

Não demorou e passou a ser ven­dida mensalmente nas bancas do País, onde permanece como uma referência no segmento de divulgação científica. A tiragem atual é de 39 mil exemplares.

“É fundamental destacar que, fazendo jornalismo científico em uma instituição como a FAPESP, recebemos de forma bastante natural da própria diretoria, dos assessores adjuntos da diretoria científica, dos coordenadores de área e, eu diria que, de forma mais ampla, das lideranças da comunidade científica em São Paulo, grande número de informações relevantes com potencial para virar pautas e reportagens”, observa a editora.

Todos os números da publicação estão disponíveis no site e podem ser acessados gratuitamente. Em breve, entrará no ar um novo portal, com sistema de busca mais inteligente e amigável, com vídeos feitos das principais reportagens de cada edição impressa. Estão nos planos da revista ainda aumentar a edição em inglês de uma para quatro por ano, e dobrar para duas a de espanhol, e lançar uma em francês. Todas com distribuição internacional. Uma nova parceria a ser definida levará ao ar o programa radiofônico Pesquisa Brasil e, vem aí, um programa de televisão vinculado
à revista, sem canal ainda definido.

Seis projetos históricos

1 Programa Genoma
Desenvolvido na segunda metade de 1990, com apoio da FAPESP, permitiu concluir o genoma da bactéria Xylella fastidiosa e mereceu capa da revista Nature.

2 Cancro cítrico
Feita nos anos de 1960. A engenheira agrônoma Victória Rosseti foi reconhecida no mundo pelas pesquisas sobre o cancro cítrico e a CVC (Clorose Variegada de Citros), a praga do amarelinho.

3 Aeronaves
Dentro da sua política de formar parceria com empresas, a FAPESP se uniu à Embraer, ao ITA e ao INPE no desenvolvimento de projetos para melhoria de aeronaves fabricadas no Brasil.

4 Paulo Vanzolini
A FAPESP apoiou o trabalho de Paulo Vanzolini, primeiro biólogo do Museu de Zoologia da USP, sobre a evolução e distribuição geográfica de répteis e anfíbios. Vanzolini é um consagrado compositor, autor dos sambas Ronda e Volta por Cima.

5 Violência
O Centro de Estudos da Violência é um dos 11 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da FAPESP (CEPID) e abastece autoridades, pesquisadores e segmentos da sociedade com dados sobre a violência.

6 Radar metereológico
O Programa Radar Meteorológico do Estado de São Paulo (RADASP) foi o ponto de partida para a atual rede paulista de radares.


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