No caminho para abrir um negócio, empreendedores se deparam com uma série de dificuldades, entre elas, talvez a mais urgente diz respeito às finanças. Afinal, como estruturar uma empresa sem ter nenhum dinheiro para isso? Ao mesmo tempo, recorrer a empréstimos bancários pode ser desanimador com as altas taxas de juros e burocracia.
Nesse cenário, as fintechs – empresas de tecnologia voltadas para serviços financeiros – têm conquistado espaço no mercado como uma possibilidade para empreendedores. A Zopa, fundada na Inglaterra em 2004, ganhou o título da primeira startup do gênero a oferecer empréstimos online, conectando pessoas físicas dispostas a emprestarem valores para terceiros em troca de pagamento com juros em um modelo conhecido como peer-to-peer lending.
Nos Estados Unidos, a Lending Club opera de forma semelhante e se tornou a principal da categoria, alcançando no ano passado o valor de mercado de US$ 8,5 bilhões.
No Brasil, o modelo começa a despontar e a alavancar pequenos e médios negócios. Lançada em abril de 2015, a startup Biva é uma das primeiras a oferecer por aqui uma alternativa aos empréstimos bancários. Até agora, a plataforma online conta com cerca de 1.500 investidores e já transacionou cerca de R$ 2,5 milhões. “O que a gente faz é a ponte entre aquelas pessoas que têm negócios transformadores, mas precisam de um empurrãozinho para colocar sua operação no eixo ou expandir sua atuação, e aquelas que têm dinheiro para investir em novas empresas e, em troca, querem um retorno maior do que receberiam se deixassem o dinheiro parado nos bancos”, explica Jorge Vargas, co-fundador da Biva. “Como não há intermediação de um banco e o tradicional spread bancário, conseguimos alcançar taxas mais justas para os dois lados do processo. Todo mundo ganha”, completa.
No caso, o empreendedor paga taxas mensais de 1,5% a 4% com a possibilidade de pagar em até 24 meses o empréstimo (de R$ 2 mil a R$ 50 mil). Já investidores têm retorno de até 25% ao ano, algo bem acima do rendimento da poupança, por exemplo. A taxa de inadimplência na plataforma também é relativamente menor, de 2,1%, enquanto o País possui média de 4,5% para pessoa jurídica, defende a Biva.
Como funciona
Um dos trunfos da Biva é o de oferecer uma plataforma online para reduzir burocracias típicas de empréstimos. Por meio da plataforma, investidores podem escolher em quais projetos querem aportar dinheiro – o valor mínimo para isso é de R$ 500.
Aqueles que buscam o investimento tem seu pedido de crédito analisado por um sistema que mede ganhos e possíveis riscos do negócio. Uma vez que a solicitação for aprovada, o empreendedor recebe o dinheiro em sua conta em até 15 dias. Para a Biva, fica uma comissão para cada operação concluída. Como a Biva é uma startup de tecnologia e não um banco, todas transações são realizadas através de instituições financeiras parceiras, entre elas a Sorocred, autorizadas pelo Banco Central a realizar esse tipo de atividade.
A curadoria dos projetos que são aprovados pela Biva são igualmente importantes. Jorge Vargas conta que empresas com mais de seis meses de existência, aquelas que atuam na prestação de serviços ou que oferecem soluções inovadoras, têm maiores chances de serem aprovadas pela plataforma. “Gostamos muito de empresas inovadoras e de bons empreendedores. Buscamos pessoas com um bom histórico de crédito, produtos e serviços interessantes. Todas as empresas que sobem na nossa plataforma são aquelas que nós mesmos investiríamos”, diz.
Segundo Vargas, a grande demanda por empréstimos dentro da plataforma mostra que o País precisa de mais iniciativas que saiam do modelo tradicional ofertado por bancos. Ele calcula que no segundo semestre de 2015 cerca de R$ 20 milhões foram solicitados na Biva, mas apenas R$ 2 milhões foram efetivamente liberados. “De todas as propostas enviadas, cerca de 10% são aprovadas. Ao mesmo tempo, as operações são fechadas em segundos em nossa plataforma. Tem muita gente querendo investir”, diz.
“Hoje temos um pouco mais de 10 mil investidores cadastrados e um dos nossos maiores desafios é que esses 10 mil consigam investir, o que não acontece. Comprovamos já nossa tese e agora precisamos nos preocupar com a escalabilidade sem perder nosso rigor em apoiar bons projetos e manter a rentabilidade que conseguimos oferecer”, defende.
Até então, a Biva conta com o o aporte de fundos conhecidos como o Kaszek Ventures e Vox Capital para acelerar no país.
Segundo a empresa de pesquisa Venture Scanner, existem no mundo cerca de 1.400 fintechs. Só em 2014, elas captaram US$ 29 bilhões com fundos de investimentos. O universo delas está em rápida expansão e bancos têm olhado atentos para o mercado, ora adquirindo startups com produtos desenvolvidos e até mesmo consolidados, como incentivando a criação de novas soluções por empresas iniciantes.
Se no cerne de cada negócio se encontra o consumidor, é ele quem pautará as mudanças em modelos até então tradicionais. A ideia de que novas gerações priorizam a facilidade proporcionada pelo digital tem feito com que bancos se agilizem.
Para se ter uma ideia, o maior banco dos Estados Unidos, o J.P. Morgan, segundo reportagem do Wall Street Journal, planeja aumentar seus gastos em tecnologia de US$ 9,2 bilhões para US$ 9,4 bilhões em 2016. O plano é que 40% desse valor seja destinado a novas tecnologias, incluindo aí o relacionamento com fintechs.
Para Jorge Vargas, o cenário não é apocalíptico para nenhum dos lados: “A Biva não veio para roubar o mercado de bancos. Damos créditos para pequenos empreendedores e empresas que não são aquelas que, muitas vezes, os bancos procuram. Nós entregamos um novo mercado e eu vejo isso como saudável. Conversamos com outros bancos e mantemos um ótimo relacionamento com o Banco Central”.
Deixe um comentário