Várzea Queimada, comunidade da cidade de Jaicós no semiárido do Piauí, abriga cerca de 900 pessoas que vivem com pouco acesso à água potável e saneamento básico. A principal atividade é o artesanato. Foi para lá que o designer Marcelo Rosenbaum, famoso por apresentar o quadro Lar Doce Lar, do programa Caldeirão do Huck (TV Globo), levou a segunda edição do projeto A Gente Transforma, que tem o compromisso de capacitar moradores de regiões carentes – e, consequentemente, provocar geração de renda e inclusão social.
Em duas semanas, Rosenbaum reuniu 30 objetos (entre cestas e chapéus de palha de carnaúba e peças feitas com pneus de caminhão) e, em seguida, embarcou com elas para o Salão Internacional do Móvel de Milão, considerado o maior evento de design do mundo. “A ideia de mostrar o artesanato local na Itália causou um despertar entre as pessoas da comunidade. Também chamamos a atenção internacional.”
Ainda não há notícias sobre compradores estrangeiros, mas a iniciativa já vingou com sucesso por aqui. Na última edição da SP Fashion Week, em junho, a comunidade foi a estrela da semana de moda e toda a renda obtida com a venda dos produtos foi revertida para a comunidade – e, em breve, as peças estarão expostas na loja FirmaCasa, também em São Paulo. “A sistematização desse processo é o que faz a roda girar”, diz Rosenbaum. “Os artesãos tinham noções de sustentabilidade. O que faltava era mudar o olhar deles. Eu apenas os orientei.”
Faz três anos que o projeto AGT foi lançado. A primeira ação ocorreu em Campo Limpo, periferia de São Paulo, em 2009. A proposta inicial, que era capacitar moradores para que pintassem a fachada de suas casas e reformassem os seus móveis, acabou se estendendo por um ano e terminou com a restauração da única área de lazer da região – um campo de várzea, que ganhou vestiário novo e biblioteca.
Na versão deste ano em Várzea Queimada, Rosenbaum contou com o apoio dos designers portugueses Pedro Ferreira e Rita João, do Studio Pedrita; dos arquitetos brasileiros Henrique Pinheiro e Tomaz Lotufo, da 2Bio+Arquitetura; de Kaká Werá, fundador do Instituto Arapoty; e de Kalina Rameiro, designer de joias do Piauí; além de 20 universitários recrutados por meio de redes sociais. Durante os 15 dias de trabalho, a equipe do AGT propôs duas frentes de atividade: a construção de um centro comunitário e a orientação para criação de peças para serem vendidas em grandes centros. Ambas foram aceitas. O centro de 90 m2 foi erguido em dez dias com a força da população local e de moradores de cidades vizinhas. Com paredes de tijolos maciços queimados, doados pela Prefeitura de Jaicós, e telhado de madeira de carnaúba, recebeu até cisterna para coletar água da chuva.
Foi no centro que os artesãos produziram os produtos que viajaram para a Itália e São Paulo, com a supervisão do grupo do projeto. A palha de carnaúba foi aproveitada para a criação de cestos e chapéus. A borracha de pneus deu origem a tapetes, fruteiras, colares, anéis e terços.
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