Conhecimento a favor do vento

Montagem do veleiro Kat em 3D. A embarcação está em construção na cidade de Itajaí, Santa Catarina, e deve ficar pronta em setembro, dois meses antes do início da Expedição Oriente, em que a família ficará dois anos no mar

Os Schurmann se preparam para a Expedição Oriente, a terceira do clã depois de 30 anos da primeira volta ao mundo da família a bordo de um veleiro. Além da rota, agora refazendo o trajeto que os chineses teriam percorrido no século 15, a embarcação, ainda em construção na cidade de Itajaí, em Santa Catarina, abraça conceitos contemporâneos de sustentabilidade e tecnologia. “Essa viagem vem sendo planejada há cinco anos, e o veleiro é fruto de extensa pesquisa”, afirma o economista Vilfredo Schurmann, o capitão do grupo.

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Batizado de Kat em homenagem a Katherine Schurmann – filha caçula dos navegadores, que morreu em 2006 –, o barco foi projetado para ter até uma horta a bordo para a tripulação. Mas tudo foi muito bem pensado para evitar danos ao meio ambiente. Assim, todo o esgoto será tratado no próprio barco e o lixo orgânico, reaproveitado. Outros materiais descartáveis serão reciclados. Haverá ainda um sistema de energia limpa, por meio de eólicos e painéis solares, e dois hidrogeradores. Duas bicicletas ergométricas produzirão energia, enquanto os navegadores estiverem pedalando. O time de navegadores vai contar também com um equipamento capaz de transformar a água do mar em água potável.

A construção

O veleiro deve ficar pronto no final de setembro, dois meses antes do início da expedição, prevista para sair de Itajaí em 24 de novembro. No entanto, sabe-se que o Kat terá uma quilha retrátil, o que permitirá reduzir seu tamanho hidraulicamente (sem grandes esforços físicos), facilitando a navegação em lugares rasos e tornando a viagem pouco limitante. A parte interna da embarcação é sofisticada em termos de tecnologia de comunicação. Com acesso à internet, a expedição será transmitida pela rede e também para a TV. Assim, a tripulação poderá manter contato com o mundo todo via satélite. “Vamos ter contato com o pessoal em terra 24 horas por dia e estaremos atuando intensamente também nas redes sociais”, garante Vilfredo.

Até um game on line será lançado no site da expedição (www.expedicaooriente.com.br/). Em desenvolvimento, o jogo permitirá aos usuários criar um barco próprio para acompanhar virtualmente os desafios dos Schurmann. Em tempo real, as partidas vão avançar de acordo com a expedição. Para os mais aventureiros, haverá um (apenas um) espaço no Kat para um trecho da viagem. Interessados devem participar do sorteio Quero ser Tripulante da Família, no site da viagem.

Outra novidade é a instalação de um aplicativo da Apple, em que os usuários poderão ter acesso às informações do percurso por meio de fotos e vídeos, e conferir as imagens do barco em 3D. O esquema dessa viagem é totalmente interativo, bem diferente das duas anteriores. Vilfredo conta que, apesar de toda a interação, a Expedição Oriente será documentada para a produção de uma série de TV e um longa-metragem.

A expedição

O Kat vai comportar dez pessoas. Até agora estão confirmados Vilfredo e a mulher, Heloísa, o filho caçula do casal, Wilhelm, e o neto Emmanuel, de 21 anos, que acompanhará pela primeira vez os avós durante todo o percurso. Os filhos David e Pierre também participarão de mais essa aventura, mas não o tempo todo – David, aliás, é o líder da tripulação em terra. As outras vagas no veleiro serão ocupadas por pessoal técnico, mas Vilfredo já avisa que os “contratados” precisam ter espírito multifuncional. “A embarcação e a viagem exigem pessoas múltiplas. Não há espaço nem possibilidades de fazer apenas uma única atividade. É todo mundo fazendo tudo.”

Nesse roteiro, a família espera comprovar a teoria de que foram os chineses os primeiros navegadores a darem a volta ao mundo, apresentada pelo oficial da Marinha britânica Gavin Menzies no livro 1421: o Ano em que a China Descobriu o Mundo (Editora Bertrand Brasil). De acordo com ele, uma esquadra zarpou da China usando “avançados instrumentos” para cálculos. Na jornada de dois anos, os chineses teriam aportado na América 70 anos antes de Cristóvão Colombo. Mais: eles teriam descoberto a Antártica, chegado à Austrália 320 anos antes dos europeus e dominado a medição de longitude 300 anos antes destes.

A expedição Oriente está prevista para zarpar de Itajaí com destino ao continente Antártico – onde a família navega pela primeira vez – e segue para o Pacífico, passando pela Polinésia, Nova Zelândia e Austrália. Na sequência, eles sobem para Papua-Nova Guiné, passam pelo Japão (também pela primeira vez), China, Vietnã, Indonésia e África do Sul, de onde retornam para Itajaí – a data de chegada está prevista para 29 de novembro de 2015.

Os Schurmann estão acostumados a viver no mar. Eles foram a primeira família brasileira a circum-navegar o mundo em um veleiro. A viagem, que começou em 1984, terminou dez anos depois – eles velejaram pelo Atlântico, Pacífico e Índico. Os filhos do casal Vilfredo e Heloísa cresceram a bordo, estudando por correspondência, mas o único que completou o trajeto todo foi Wilhelm – Pierre, em 1988, foi estudar Administração de Empresas nos Estados Unidos, onde morou até 1994, e David desembarcou na Nova Zelândia, em 1991, onde se formou em Cinema e Televisão.

A segunda aconteceu entre 1997 e 2000. Depois de três anos de planejamento, o clã refez a rota do navegador português Fernão de Magalhães, em companhia de Kat, a filha que o casal adotou na Nova Zelândia – ela era soropositiva desde que nasceu. Essa expedição foi acompanhada em 44 países, pela internet. A terceira, que começa daqui a pouco, vai ser diferente, mas não menos surpreendente. Boa viagem aos Schurmann.


Comentários

2 respostas para “Conhecimento a favor do vento”

  1. Avatar de José Campello
    José Campello

    Estaremos acompanhando o desenrolar de mais esta expedição da família Schurmann e torcendo para que a verdade sobre a circunavegação primitiva e pioneira chinesa seja bem sucedida independente da confirmação ou não da proposta. Se o for que venham indícios concretos e irrefutáveis que sirvam de prova consistentes, além dos frágeis e das suspeitas existentes.
    Desejamos muita sorte, condições favoráveis e proteção Divina nesta emocionante e desafiante aventura técnica!
    Confio que o espírito puro e alegre da Kat, narrado no livro, esteja sempre presente. Sucesso à toda tripulação.

  2. Família Schurmann é possível ver o barco antes da partida?

    obrigado Virgilio Curitiba

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