Os recentes Jogos Paralímpicos, sediados no Rio de Janeiro, também serviram para jogar luz no debate da acessibilidade e inclusão social. Nesse contexto, jovens empresas brasileiras têm recorrido à inovação e novas tecnologias para desenvolver produtos e serviços que ajudem pessoas a superarem obstáculos.
Manuel Augusto Cardoso é um deles. A personalidade inventiva do professor da Universidade do Estado do Amazonas levou à criação do Projeto Giulia, um dispositivo inteligente que visa facilitar a comunicação de pessoas com deficiência auditiva. Com formação em Engenharia Elétrica e doutorado em Engenharia de Produção, Cardoso fala sobre o projeto com empolgação: “se eu tivesse que resumir o Giulia em uma palavra, eu diria liberdade”.
O Giulia é composto de uma braçadeira com sensores incorporados que traduzem em som o significado dos movimentos da linguagem de sinais de quem o utiliza. A solução conta com um aplicativo para smartphone que consegue captar – via Bluetooth – e traduzir cerca de 150 sinais em texto e áudio. Da mesma forma, o interlocutor que não é surdo consegue ser compreendido ao usar o app, para isso ele precisa se aproximar do aparelho celular e falar. O aparelho então transcreverá o que foi dito em Libras.
Um dos avanços é que a tecnologia recorre à inteligência artificial para sofisticar a própria comunicação em um nível individual. Cardoso explica que a ideia é oferecer um sistema que entenda cada vez mais como um usuário se comunica. “Queremos permitir que eles se comuniquem de forma mais natural possível”, explica. “A linguagem de sinais também tem suas particularidades de pessoa para pessoa. Algumas pessoas se comunicam mais rápido que outras e por isso que o uso do sistema inteligente é importante”, completa. Para fazer isso, o Giulia conta com uma base de dados na nuvem e algoritmos treinados para entregar a comunicação e torná-la cada vez mais pessoal e eficiente.
A tecnologia tem potencial para beneficiar milhões de pessoas no mundo inteiro. Só no Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas vivem com algum nível de deficiência auditiva, sendo que 350 mil são completamente surdas. Por enquanto, o Giulia foi testado com um grupo de 100 pessoas. A expectativa agora é escalar o produto e torná-lo acessível ao usuário final. Para isso, Cardoso adianta que ele e equipe estão trabalhando para resumir o Giulia em um único aplicativo, algo que, em breve, deve excluir, a necessidade da braçadeira. Ao oferecer o app Giulia, o objetivo é ampliar o acesso à solução a toda uma comunidade de pessoas que usa a linguagem de sinais.
Cardoso explica que alguns novos modelos de celulares já contam com sensores de movimento que poderão permitir uma nova fase do Giulia. O projeto foi um dos doze selecionados do Braskem Labs 2016, programa de apoio à inovação e empreendedorismo da petroquímica em parceria com a Endeavor, agência global de fomento ao empreendedorismo.
Além do Giulia, outro projeto de acessibilidade que integra a segunda edição do Braskem Labs é o Kit Livre, um acessório que transforma cadeiras de rodas em triciclos motorizados.
A ideia para o acessório surgiu durante a tese de mestrado do engenheiro mecatrônico Júlio Oliveto, quando em 2009 decidiu focar seu projeto em tecnologias assistivas. Em 2011, Oliveto chegou ao seu primeiro protótipo funcional e em 2014 fundou ao lado dos sócios, o irmão gêmeo Lúcio e o engenheiro de produção Eduardo Matsumoto a empresa LIVRE, com base em São José dos Campos.
O Kit Livre é um acessório que pode ser acoplado de forma rápida em qualquer cadeira de rodas, uma vez que oferece um sistema de engate simples, em que o próprio usuário pode instalar e desinstalá-lo. Da mesma forma que o projeto Giulia, o Kit Livre também visa dar maior autonomia aos seus usuários.
“O usuário ganha mais liberdade, muito superior ao que ele tem somente com a cadeira de rodas convencional, amplia o alcance de onde pode ir, ganha maior independência. Também tira o estigma da própria cadeira de rodas. Os usuários dizem que outras pessoas abordam perguntando sobre o veículo e que acham legal. Acho que acaba aumentando a autoestima deles”, reflete Júlio.
O Kit Livre assume a aparência de um guidão de motocicleta, um acessório que vem com motor embutido e bateria de lítio que pode ser recarregada em tomada convencional. A recarga completa dura quatro horas e permite uma autonomia de 20 a 25 quilômetros em média, porém podendo atingir até 40 km, caso o usuário for mais leve e a cadeira for usada em locais planos. O acessório também é portátil, cabendo facilmente em um porta-malas de um carro, com peso que varia de 15 kg a 28 kg. A velocidade pode atingir de 20 km/h a até 42 km/h nos modelos esportivos.
O Kit segue sob processo de obtenção de patente, mas já conta com clientes em todo o Brasil, incluindo vendas pontuais para outros países, entre eles Estados Unidos, Austrália e Alemanha. Desde que se lançou no mercado em 2015, a LIVRE vendeu 220 Kits e tem concentrado esforços para tornar o acessório cada vez mais democrático. O modelo mais simples sai por R$ 4.990, com versão que pode ultrapassar R$ 9 mil.
Segundo Júlio, a empresa segue em conversas com um grupo de investidores. Um investimento ajudaria a empresa a expandir a atuação no Brasil e desenvolver formas de baratear o produto em si.
Por meio do Braskem Labs, os dois projetos contam com o apoio de uma rede de mentores da petroquímica e da Endeavor. O programa tem como objetivo ajudar empreendedores brasileiros a identificarem e superarem os principais desafios no desenvolvimento de seus projetos, produtos e soluções, um suporte que visa dar mais condições para o sucesso dos negócios.
No dia 10 de novembro, todos os participantes desta edição terão a oportunidade de apresentarem seus projetos a investidores, empresas e outras entidades.
Para saber mais sobre o Braskem Labs, acesse o http://www.braskemlabs.com
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