André Siqueira
O sul-africano Shaun Abrahamson é o fundador da Mutopo, uma consultoria especializada em ajudar empresas a utilizar a internet como aliada. Diante do incomensurável volume de informações que trafegam pelas redes sociais, ele defende que as empresas tratem os internautas como colaboradores e os deixem participar de todo o processo de criação de produtos e serviços tanto quanto os engenheiros contratados para isso. Abrahamson chegou a esta conclusão após analisar, nos laboratórios do Massachusets Institute of Technology (MIT), um fenômeno que chama de produção social, ou, para usar um termo da moda, crowdsourcing, que muitos traduzem livremente para “terceirizar para a multidão”. Em São Paulo, para onde veio discutir o conceito na Conferência Crowdsourcing, Co-criação e Colaboração (CCS2012), organizada pela própria Mutopo, o especialista concedeu a seguinte entrevista à Brasileiros:
Qual é, na sua opinião, a melhor definição para crowdsourcing?
É o que chamamos de produção social. O ato de buscar no meio do que conhecimento que é gerado na internet, em especial nas redes sociais, as respostas que você precisa e dar um uso a elas.
E de que forma as pessoas podem ser remuneradas, ou compensadas, por fornecer às empresas essas ideias?
As pessoas trabalham movidas por uma série de motivadores, que não só o dinheiro. Pense no que representam sexo, drogas e rock’n roll para alguns dos aspirantes ao mundo artístico. Mas o importante, no caso das empresas que utilizam o crowdsourcing, é deixar claro que a rede de colaboradores não é formada por trabalhadores convencionais. Eles podem ser pagos por hora de trabalho, ou por produção. Outro modelo seria o pagamento por ideia aproveitada. Não é novidade: consultorias e agências de propaganda encaminham propostas a clientes, que podem ser aceitas, e remuneradas, ou não. Hoje há ferramentas de baixo custo que permitem medir o esforço e o resultado do que os colaboradores entregam. Se um grupo como a GE diz que uma ideia é boa, ela define o quanto deve pagar por ela. E, se quem vai receber acha que o valor não é justo, há espaço para negociar.
Num país como o Brasil, onde é tão difícil promover a colaboração entre empresas e universidades, não é difícil convencer as pessoas a contribuir com o mundo corporativo?
As companhias que fazem isso fora do Brasil estão aqui também, a exemplo da 3M, da Procter & Gamble e da IBM. Elas sabem como conduzir o processo, ainda que haja muitas diferenças culturais entre os países. O interessante é que o Brasil é muito aberto a novas tecnologias e à interação em redes sociais. As pessoas são abertas a testar, como aconteceu com a adesão em massa ao Orkut e com a forte participação dos brasileiros no Tweeter. Há empresas brasileiras, como a Tecnisa e a Fiat, que têm grandes cases de desenvolvimento de produtos em colaboração com o público. Por isso sou otimista com relação ao crowdsourcing no Brasil.
Como as organizações que utilizam o crowdsourcing estão lidando com a necessidade de abrir na internet seus planos e estratégias?
Essa é a mesma dificuldade que uma empresa enfrenta quando anuncia que precisa contratar, por exemplo, especialistas na fabricação de sapatos, caso não seja do ramo. Isso diz ao mercado a mensagem de que ela está entrando nessa área. Mas nada impede que eu diga, na internet, que estou desenvolvendo dez diferentes programas, quando na verdade estou interessado em apenas um deles. As corporações estão acostumadas a utilizar informações falsas como contraespionagem. Ao mesmo tempo, quando um grupo decide investir em um novo setor, hoje em dia, ele tem avaliar se vale mais a pena passar três anos desenvolvendo tudo em segredo, com recursos próprios, ou fazer um anúncio e passar a contar com todo o conhecimento que está na rede, e que pode permitir que ela ganhe a corrida e ofereça os novos produtos e serviços muito mais rápido do que qualquer concorrente.
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