“Quem leu o livro Diário de Anne Frank sabe que ela começa como uma menina de 12 anos e termina amadurecida com uma opinião sobre o mundo”, disse Nanette Konig, 85 anos, amiga de Anne Frank durante o Holocausto. “Ela estava numa situação horrível, com frio e tremendo, fraca de não aguentar a própria roupa”, acrescentou. Nanette foi convidada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para palestrar na GVCult, Projeto Cultural e Educacional da Fundação, que marca os 70 anos do Holocausto.
Em cerca de uma hora, ela relatou sua história desde a sua infância na Holanda, o período no campo de concentração, sua libertação por um oficial do Exército inglês, até sua chegada ao Brasil. Segundo ela, a posição política de seu país contribuiu ao extermínio. “O povo achou que o governo ficaria neutro como na Primeira Guerra Mundial, mas a família real foi embora antes da captura. Eles nos entregaram aos nazistas”, explicou.
Nanette se encontrava no campo de concentração de Bergen-Belsen, prestes a ser transferida para um campo de extermínio quando os ingleses libertaram os prisionieros no dia 15 de abril de 1945. Neste episódio, ela se aproximou de um oficial do Exército inglês e pediu que ele entregasse duas cartas à sua tia.
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Logo em seguida contraiu tifo. Passou três anos internada e nunca recebeu remédios, mas o mesmo oficial que entregou as cartas a acolheu e a ajudou. “Ele ordenou que me levassem para a Holanda de avião argumentando que eu não aguentaria uma viagem de trem e que teria irmãos ingleses para reforçar a minha prioridade, o que não era verdade”, lembra.
Tratava-se de Leonardo Berney, 93. Anos depois, quando já residia na Inglaterra, o major foi até a porta de sua casa conversar com sua tia para saber se Nanette estava segura. O major também é judeu e palestrante sobre a libertação de Bergen-Belsen e escreveu um livro recentemente sobre sua vida como responsável pela sobrevivência de muitos outros judeus. O prefácio do livro é assinado por Nanette.
O campo era o mesmo em que Anne Frank se encontrava. Nanette relembrou a amizade com a famosa jovem e lamentou a última vez que a viu “numa situação horrível, com frio e tremendo, fraca de não aguentar a própria roupa”. “Ela era muito alegre, se sobrevivesse, seria uma grande escritora sem dúvida”, finalizou.
Única sobrevivente direta da família e tem uma filha e netos. Também é formada em economia pela PUC-SP, trabalha como tradutora e interprete de inglês para português e dá palestras e entrevistas pelo mundo sobre a emocionante história de sobrevivência de “um horror que jamais deveria ter existido”.
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