O efeito anestésico do jambu na coleção da Natura

O jambu, erva amazônica, é a estrela da linha de cosméticos antiidade da Natura. Esse ingrediente, comum na culinária da região Norte e desconhecido fora dali, foi pesquisado pela empresa e acabou sendo a base da coleção Chronos, que promete aliviar marcas e linhas de expressão. “Quem já comeu um pato no tucupi ou um tacacá e mastigou a folha de jambu sabe que ela tem um efeito quase anestésico. Isolamos o princípio ativo e o testamos nos cremes, com sucesso”, conta Alessandro Mendes, 34 anos, diretor de Desenvolvimento de Produtos da empresa.

Ele explica: um dos principais ingredientes usados na linha é o Spilol, nome comercial do espilantol, que descontrai microtensões da pele do rosto, evitando e suavizando rugas. O espilantol é simplesmente o princípio ativo do jambu, Mendes destaca que 80% dos insumos usados pela marca na criação de seus produtos são de origem vegetal. Essa “vegetalização” levou a empresa a investir na busca por plantas, sementes, frutos e ervas que pudessem ser fonte de novos produtos. Essa tendência acabou empurrando a Natura, além de seu principal laboratório instalado na fábrica de Cajamar (São Paulo), a implantar em Benevides, no Pará, um centro especializado em pesquisa e desenvolvimento de óleos vegetais.
Mais ainda: a empresa está construindo um centro em Manaus (Amazonas), previsto para ser inaugurado ainda neste ano.

[nggallery id=15811]

Mendes afirma que a opção pela Amazônia não se resume à instalação de centros de pesquisa e laboratórios. A empresa quer estabelecer um vínculo com as comunidades tradicionais e os povos da região. “Nosso objetivo, além de pesquisa e desenvolvimento de produtos, é trabalhar com a população local. Assim, encontrar novas oportunidades de negócios para todos na Amazônia”, diz ele, reforçando que a empresa tem uma preocupação com a proteção do meio ambiente, as culturas e os saberes tradicionais. “Atuamos dentro dos princípios da sustentabilidade”, garante.

Nos planos para a região, está o estímulo a projetos de agricultura sustentável em diversas comunidades, com suporte de estudos agronômicos desenvolvidos por equipes multidisciplinares. Agrônomos e antropólogos, por exemplo, têm realizado estudos e projetos em conjunto com as populações tradicionais da Amazônia, buscando a melhor forma de desenvolver a produção de produtos vegetais.

Dois olhos aqui e outro lá fora. Para estar sintonizada com as tendências da cosmética mundial, a Natura mantém ainda um centro de pesquisas e laboratório em Paris, na França (que foi implantado e dirigido durante três anos por Mendes).

Por dentro da empresa
Imagine uma equipe de especialistas encarregada por desenvolver toda gama de cosméticos, perfumes e produtos de cuidados pessoais. Se você pensou em um time de químicos, engenheiros químicos, farmacêuticos, biologistas e especialistas em ramos semelhantes, de certo modo acertou. Agora, se essa empresa for a Natura, a resposta, está errada.

Na verdade, para acertar em cheio, você vai precisar incluir na equipe que maneja tubos de ensaio, centrífugas, decantadores e todo o tipo de equipamento científico, muitos teoricamente estranhos no ninho, como antropólogos, psicólogos e outros especialistas em Ciências Sociais e Comportamento Humano, sem esquecermos da turma do Marketing, formando, assim, o que se chama de equipe multidisciplinar.

No total são sete mil funcionários, sendo 260 cientistas – químicos, engenheiros químicos, farmacêuticos, antropólogos, psicólogos, agrônomos, entre outros, dentro desse conceito multidisciplinar – trabalhando em seus centros de pesquisas e laboratórios, sempre tendo em mente, segundo Mendes, “a busca constante da inovação e do bem-estar das pessoas”.
A ideia é fazer com que todos sejam participantes de todo o processo. O pessoal de cada equipe atua sempre em parceria, desde os primeiros testes de laboratório até a escolha das embalagens que chegarão ao consumidor final.

Considerada a oitava do mundo em inovação, decidiu, há alguns anos, adotar o conceito de equipes multidisciplinares para as pesquisas e o desenvolvimento de produtos. Em resumo, levar o princípio da integralidade ao ponto máximo. Para Alessandro Mendes, as próprias características da empresa que, além de conceber, desenvolver, criar e fabricar seus produtos, tem um sistema vendas diretas ao público (são 1,3 milhão de consultoras), levaram à adoção do conceito de equipes multidisciplinares.

“Estudar como o ser humano se relaciona sempre foi uma necessidade para a Natura. Para nós, descobrir como um produto nosso causa satisfação e bem-estar às pessoas fez parte todo o tempo de nossas preocupações e objetivos.”

Com esse histórico de análise do comportamento humano, levar a multidisciplinaridade para dentro dos laboratórios que desenvolvem produtos foi uma tarefa bem mais simples do que poderia parecer. Uma das primeiras medidas foi estabelecer o foco em programas integrados de pesquisa, seguindo a criação de redes internas para troca de informações e debate.

O próprio Mendes, que é engenheiro químico com mestrados em Administração na Fundação Getulio Vargas no Brasil e no prestigioso INSED de Paris, na França, vivenciou em seus 11 anos de Natura a mudança de foco da empresa no que se refere à inovação e ao processo de criação de um produto. Desse modo, as equipes de pesquisa e desenvolvimento buscam, desde a criação de um produto ou de uma nova marca, descobrir o que causará satisfação ao consumidor. “Usamos muito o conceito da divergência de opiniões que, depois, vai levar à convergência. Todos opinam sobre o produto em desenvolvimento, tanto nos aspectos científicos quanto no que ele causa (ou não) de bem-estar nas pessoas. Esse debate é efetuado dentro e fora da Natura. Temos parceiros externos, como as universidades que integram o Natura Campus, que têm sido aliados muito eficazes”, afirma o diretor da empresa.

Um exemplo desse conceito de integralidade é a nova linha de produtos VôVó, lançada em agosto do ano passado, destinada, em tese, a pessoas com 50 anos ou mais. A ideia, definida depois de estudo multidisciplinares e pesquisas desenvolvidas ao longo de um ano e meio com oito duplas de avós e netos, foi desenvolver uma linha completa de produtos que valorizassem a ancestralidade, em princípio perdida na cultura ocidental na pós-modernidade.

“Pensamos em oferecer produtos que contribuíssem para o estreitamento das relações de avós e netos. Que resgatassem a importância da experiência de vida dos avós e a integração com os netos”, conta Mendes. A linha é composta por perfumes masculinos e femininos, sabonete líquido, hidratante corporal e creme para pernas e pés. Mas o destaque fica para os produtos destinados a massagens de mãos e braços, buscando estimular que os netos apliquem os cremes e os óleos de massagem nos avós.

Durante a fase de desenvolvimento e testes, a Natura fez com que os pares de avós e netos, além de serem pesquisados em termos de emoções, comportamento, cultura e socialização, realizassem sessões periódicas de aplicação dos produtos, para descobrir se haveria mesmo o reforço do vínculo afetivo, se seria obtida uma satisfação de bem-estar. “Tudo foi acompanhado por especialistas de várias formações acadêmicas e o resultado foi excepcional”, comemora Mendes.

O estudo chamou tanta atenção que a Natura vai publicá-lo em revistas científicas, como contribuição para a compreensão da relação e convivência entre avós e netos. A empresa também está comemorando o bom desempenho dos produtos VôVó junto aos seus consumidores.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.