O escritor é quem manda

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Um admirável mundo novo surge no horizonte para quem quer ser ou já é escritor. Graças às mudanças radicais que a revolução digital começa a provocar no mercado, a relação entre autor e editor deve mudar. E muito. Várias editoras que usam a internet como plataforma de negócio têm surgido, estabelecendo uma relação bem diferente do que acontece há séculos no segmento convencional de livros. Isso para atender a interessados como a estudante de Matemática carioca Fernanda Meirelles. Ela cansou de ouvir que publicar um livro não era algo fácil. Não imaginou, porém, que seria tão difícil. “Foi completamente assustador”, recorda. “Com muita luta, provei, aos 25 anos, que eu era capaz de fazer isso. Criei uma história, desenvolvi, fechei. Finalmente, meu livro estava terminado!” Entre concluir e publicar, porém, o caminho pode ser longo.

Fernanda descobriu isso na prática, mas chegou lá graças a editoras e livrarias que vivem exclusivamente do mundo digital. Autora dos livros Um Sonho a Mais e Pra Vida Toda, no começo a publicação totalmente independente não era uma opção viável para ela. “Não estava disposta a gastar R$ 8 mil”, comentou. Foi então que, em uma busca pela internet, encontrou a Editora PerSe, uma plataforma que oferece de graça as ferramentas necessárias para que um autor publique sua obra em formato impresso ou digital. O interessado escolhe o formato, o acabamento, o tipo de papel, se ele será colorido ou não, a capa. Outra questão fundamental, com vantagem para o autor, é a sua participação nos royalties. Enquanto o mercado paga entre 7% e 10% do preço de capa, aqui o percentual chega a 75%. Os outros 25% ficam com a PerSe.

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Os tablets, além de permitirem a leitura de livros, jornais e revistas, têm várias outras funções, como internet, visualização de fotos e jogos

Serviços como revisão, diagramação, marketing e distribuição não estão inclusos. Porém, podem ser contratados. Finalizado, o exemplar fica disponível na loja virtual da PerSe, tanto na versão e-book (digital), como não versão impressa, com variações no preço, é claro. “Nossa plataforma dá autonomia total para o autor, como já diz o nome em latim, per se (por si mesmo). Funcionamos desde 2011 e hoje já contamos com, aproximadamente, 1.200 livros comercializados em nossa loja virtual”, revela Antonio Hércules Junior, sócio e diretor-geral da PerSe.

Iniciativas como essas são ainda incipientes no mercado. Mas abrem possibilidades em um setor tradicionalmente fechado, de difícil acesso a quem está começando. Fernanda já tem dois livros publicados pela PerSe e se diz muito satisfeita com o resultado. “Acho que o mais vantajoso desse tipo de canal é a flexibilidade. Você imprime a quantidade de livros que deseja. Acabei imprimindo apenas um, no princípio, para ver a qualidade e me surpreendi. A partir daí, parei de tentar com editoras tradicionais e estou tentando fazer meu nome por outros canais”, contou ela, que, no site da PerSe, disponibilizou seu trabalho gratuitamente no formato e-book.

O também escritor Raul Marinho Gregorin, 45 anos, é da opinião de que a forma tradicional, por meio de editoras, e as novas modalidades de publicação não competem entre si. Pelo contrário, trabalham de modo complementar. Gregorin é escritor da Saraiva – que, além da editora, tem uma rede de livrarias, importante para escoar sua produção. Por meio da gigante do segmento de livros, publicou duas de suas obras. Mas quando começou a trabalhar em cima de um tema específico, com informações técnicas sobre Aeronáutica, achou melhor nem levar o trabalho à editora. “Achei que não interessaria por ser segmentado. Cheguei até a PerSe e fiz um teste, publiquei dois capítulos do estudo e, de cara, vi o potencial.”

Gregorin notou que a remuneração do autor é muito maior, o controle sobre a obra é total, o que não acontece na publicação tradicional. “Lógico que também existe o outro lado, todo o trabalho de assessoria que uma editora convencional dá ao autor, o marketing necessário, a distribuição e o fato do prestígio que o autor conquista ao ser publicado por uma editora de renome.”

Na mesma linha de raciocínio, Helena Polak também preferiu o sistema independente quando começou a pensar sobre a publicação do seu livro, Sensibilidade à Flor da Pele, que trata da doença de borderline e é direcionado para as famílias e amigos dos pacientes afetados.

Após muito pesquisar, Helena encontrou o Clube de Autores, outro site/plataforma que oferece serviço semelhante ao da PerSe. No clube, o escritor também tem à disposição as ferramentas para customizar e publicar sua obra, estipular um preço, sem deixar de considerar a parte da venda que ficará com o site. Segundo Ricardo Almeida, sócio e diretor do site, o crescimento, desde o lançamento, em maio de 2009, tem sido positivo. “De mais ou menos quatro anos para cá, já publicamos aproximadamente 28 mil títulos. Se pensarmos que, em média, no Brasil se publica 40 mil títulos por ano, percebe-se que nosso papel é bem significativo.”

Helena Polak é hoje a autora de maior sucesso comercial no Clube de Autores. Ela também aponta a simplicidade do tema que explora em seu texto como uma das grandes chaves para o sucesso. “Meu livro fala sobre uma doença comum e existem poucas informações sobre ela, mas é preciso distribuir a mensagem para outras pessoas. O Clube de Autores faz com que meu livro atinja até o interior do Amazonas”, diz ela, que foi a primeira escritora a tratar de forma acadêmica do Transtorno de Personalidade Borderline.

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Antigamente, livros e outras publicações eram feitos a partir de tipos que, depois de montados de modo invertido, eram impressos

Os modelos de negócio da PerSe ou do Clube de Autores não são inéditos. A ideia foi importada dos Estados Unidos e da Europa e vem sendo feito por sites como Escrytos, da LeYa, Bubok e Lulu, o maior deles, que funciona desde 2002, já publicou mais de um milhão de títulos e tem alcance em até 200 países. Se os serviços no Brasil e no exterior são semelhantes, seu usuário e consumidor final ainda são diferentes. Enquanto lá os e-books vão comendo uma fatia crescente do mercado, por aqui, apesar da conveniência do livro virtual e do preço significativamente mais barato, o leitor brasileiro usa ainda essas plataformas quase exclusivamente para imprimir exemplares de livros disponíveis. “O volume de vendas de e-book é infinitamente menor, mesmo considerando o preço, muito mais barato. Os e-books representam algo em torno de 6%, 7%, do nosso total de vendas”, apontou Ricardo Almeida.

Apesar disso, o empresário, que trabalha com internet desde que ela chegou ao Brasil, nos anos 1990, sabe que a tendência é o crescimento desse mercado. Sua visão, porém, não é apocalíptica. “O digital não vai substituir o analógico (livro impresso). Todo mundo se lembra das previsões antigas, que a TV iria acabar com o rádio e o cinema, a internet iria assumir o lugar da televisão, etc. Não acredito nisso. Um autor de best-seller, que vai publicar centenas de milhares de exemplares de sua obra, nunca vai procurar um canal como o Clube de Autores. Não compensa, ele vai atrás do modelo tradicional.”

No caso da PerSe, a porcentagem de impressos é semelhante a dos livros comprados: apenas 5% são no formato digital. “Percebi que nos últimos meses a venda de e-books cresceu, mas é aquela história: se você vendeu dois e antes vendia um, você cresceu 100%. Acho que, nesse começo, a taxa de crescimento vai ser significativa. Isso não significa, entretanto, que os e-books estarão realmente difundidos entre o público brasileiro, como já acontece nos Estados Unidos”, afirma Antonio Hércules Junior, diretor da PerSe. Para ele, a “digitalização” do brasileiro ainda precisa passar por um processo a longo prazo, que também dependerá da maior difusão dos gadgets de leituras como os tablets (Kindle, iPad, Samsung Galaxy Tab), que ainda são muito caros no País.

O segundo passo seria a descoberta do potencial cultural e educativo, já que, hoje, os tablets são usados em geral para o entretenimento. Uma vez que isso for alcançado, para o diretor da PerSe, a transição vai ser natural. Até lá, deve demorar um pouco. 

DIGITAL AINDA É INCIPIENTE
por Isabella Amaral

Mesmo com otimismo, o mercado de livros digitais cresce no Brasil ainda de maneira tímida, se comparado aos títulos impressos. Pela primeira vez, a mais recente pesquisa feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE-USP), encomendada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), em 2011, recolheu dados sobre e-books. Constatou-se que os títulos em formato digital representaram 9% dos lançamentos de 2011. Ou seja, foram lançados apenas 5,2 mil títulos em formato digital no Brasil naquele ano.

Outra pesquisa, da Retratos da Leitura no Brasil, mostrou que dos 88,2 milhões de leitores brasileiros, 9,5 milhões preferem o formato digital e a maioria deles são mulheres entre 18 e 24 anos. A preferência se dá por conta dos preços mais acessíveis e da comodidade da leitura eletrônica, segundo os entrevistados. Essa pesquisa também mostrou que o acesso a livros por conta de presentes, empréstimos e doações aumentou significantemente em 2011 – mais de 10% cada –, enquanto o hábito de baixar títulos on line cresceu um ponto percentual.

O estudo da FIPE apontou que foram vendidos 469,5 milhões de livros no Brasil, 7% a mais do que no ano anterior. A pesquisa mostrou que o número de livros editados no Brasil aumentou, foram 58.192 novos títulos, 6% a mais. E o gênero de livros científicos, técnicos e profissionais foi o que mais cresceu em 2011, com um aumento de 38% no número de exemplares vendidos.


Comentários

Uma resposta para “O escritor é quem manda”

  1. Perse é muito cara. Ninguém vai comprar livro no valor de 108 R$ publicado por Zé Ninguém. O legal é só ter o gostinho de ver o livro como se fosse profissional, mas a real é que o lucro não vem. Eu deixo mesmo é o ebook de graça, pelo menos tenho a esperança de que vão ler a obra.

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