A história já é antiga, tem mais de 20 anos e, portanto, conhecida dos moradores da região metropolitana de São Paulo: o projeto para revitalizar o Tietê, um dos rios mais poluídos do País. A boa notícia é que, enquanto o governo do Estado capta mais R$ 1,35 bi para dar continuidade à limpeza do rio, a SABESP vem testando uma nova tecnologia para melhorar a vida de quem mora próximo ao Tietê.
Desde dezembro passado, a empresa de saneamento básico experimenta um sistema de biofiltro, que elimina os odores desagradáveis da Estação de Tratamento de Esgoto de São Miguel Paulista, na zona leste da cidade. O equipamento funciona com restos de casca de coco, que são depositados em um contêiner e molhados com água. Os gases que saem da estação são, então, injetados no contêiner e as substâncias que geram o mau cheiro são eliminadas ao passarem pelos restos em decomposição.
Como explica Américo Sampaio, superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da SABESP, diferentemente de outros processos de eliminação de odores, o biofiltro não gera resíduos porque reaproveita as cascas de coco. Além disso, os custos de instalação e operação são menores do que outras técnicas. O equipamento possui ainda uma manutenção simples, que pode ser feita uma vez por mês pela equipe de operação da estação.
Os benefícios também estão sendo percebidos pela população, que já sente a diminuição dos odores próximos à estação. Com os bons resultados em São Miguel, a SABESP planeja instalar o biofiltro nas outras quatro estações de São Paulo ainda neste ano: ABC, Barueri, Suzano e Parque Novo Mundo.
Mais que conforto
Com um impacto positivo na qualidade de vida da população, a iniciativa de eliminar os odores também é aprovada por especialistas que acompanham os desafios da recuperação do Tietê. No entanto, o rio precisa de mais assistência. “O tratamento dos odores é importante para a população. Outras medidas, como o Projeto Pomar (que realizou o plantio de mudas nas margens do Tietê), causou um efeito paisagístico bonito, mas a água do rio continuou suja”, diz Gustavo de Oliveira Coelho, coordenador do Programa de Pós-graduação em Geografia da PUC-SP.
Ele chama a atenção para um fato que todos os paulistanos percebem: a lentidão para ver alguma melhora de fato nas águas do Tietê, que correm pela capital. Mesmo com os novos recursos de R$ 1,35 bi anunciados em março para a recuperação do rio, ainda falta muito tempo até ele se tornar realmente limpo.
O Projeto Tietê foi lançado em 1992 e, a partir de então, já consumiu mais de R$ 3,2 bilhões. Para Malu Ribeiro, coordenadora da Rede de Águas, programa da Fundação SOS Mata Atlântica que monitora a qualidade das águas de rios no País, o novo recurso é positivo. “Investir em saneamento é também investir em Saúde Pública e Saneamento Ambiental.”
Recuperação lenta
Diferentemente de outros projetos – Programa de Despoluição da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, que ficou muito tempo no papel –, o Projeto Tietê nunca interrompeu seus investimentos. O problema é que, mesmo com investimentos constantes, as dimensões da Grande São Paulo exigem gastos astronômicos e esforço articulado entre Estado e municípios.
Gustavo de Oliveira Coelho explica que a região metropolitana está crescendo e ocupando novos espaços, o que dificulta o trabalho da SABESP em ligar as residências na rede de esgoto. Além disso, com a ampliação das redes, a tendência é que as novas ligações fiquem mais caras – devem abranger regiões mais distantes e com menor densidade populacional.
Com todas as dificuldades técnicas da recuperação do Tietê, o fato é que o programa, iniciado em 1992, já conseguiu reduzir em 160 km a mancha de poluição do rio, que atualmente está próxima do município de Salto, a 100 km de São Paulo. Além disso, as últimas medições apontaram que a qualidade das águas chegou a um “marco zero”, a partir do qual se espera que o rio volte a ter vida.
A SABESP afirma que a meta é atingir 100% de coleta e tratamento de esgoto nas 34 cidades que atende na região metropolitana até 2024.
Duas Décadas de LutaTudo começou com o aparecimento de um jacaré na Marginal Tietê, em 1992. O inesperado acontecimento, aliado ao clima de debates ambientais da ECO-92, serviu de inspiração para a população organizar um abaixo-assinado pela salvação do Tietê. Liderados pela SOS Mata Atlântica, os paulistanos conseguiram reunir 1,2 milhão de assinaturas na maior mobilização por uma causa ambiental da América Latina até hoje. Para responder aos protestos, o governo de São Paulo revisou o Projeto Sanegran, uma proposta de recuperação do Tietê pensada nos anos 1970, e o transformou no Projeto Tietê, que é realizado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do governo estadual. Atualmente, o projeto está na terceira fase, prevista para ser concluída em 2015. Mas a finalização integral do projeto deve acontecer só em 2024. |
Deixe um comentário