O microssapo da boa notícia

O nome é grande: Brachycephalus didactylus. No entanto, designa a menor espécie de sapo do Brasil e a segunda menor do Hemisfério Sul. Ela já existe no Rio de Janeiro e em parte de São Paulo. Agora, acaba de ser encontrada, pela primeira vez, na região de Serra das Torres, em Atílio Vivacqua, no sul do Espírito Santo, por conta de uma intensa observação da pesquisadora Jane de Oliveira, do Programa de Doutorado em Ecologia e Evolução da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Seria irônico se não fosse verdade, mas esse animal inofensivo e delicado, suscetível a qualquer pequena mudança climática ou cortes de árvores, é forte indicador de qualidade ambiental.

Jane de Oliveira explica: “Essa espécie prova que, na região em que vive, as condições climáticas são extremamente favoráveis. Esses sapinhos, que se alimentam de ácaros e pequenas coisas da mata, não precisam de água, só de umidade. Então, é necessário que a região tenha um bom sombreamento e uma boa camada de folhas para que ele possa se esconder e depositar seus ovos. Se eles estão naquela mata, é sinal de que as condições da região estão em perfeito estado”.

A pesquisadora encontrou cerca de 200 sapinhos em Serra das Torres. Eles medem entre 7 mm e 10 mm de comprimento (o adulto mais forte). “Quando eclodem do ovo, são quase invisíveis a olho nu”, diz Jane. “Saber que a espécie existe fora do Rio e de São Paulo mostra também que existe uma abrangência maior do que imaginávamos até agora, o que é muito bom para o meio ambiente e também para a própria espécie, assim ela sofre menos risco de desaparecer.”

O primeiro encontro de Jane com esses anfíbios no Espírito Santo aconteceu há três anos. De lá para cá, ela se dedicou a observá-los para seu projeto de mestrado recém-concluído – previsto para ser publicado ainda neste mês na revista científica Checklist, que, entre outras, faz esse tipo de registro. “É possível que a espécie exista em outros pontos do Espírito Santo também.”

Por serem pequenos e de coloração idêntica às folhas, é muito difícil localizar e visualizar esses sapos. Além disso, eles se movimentam lentamente e, pior, só entram em atividade durante a noite. Por isso são chamados também de sapo pulga. Os anfíbios, como se sabe, surgiram há cerca de 350 milhões de anos e foram os primeiros animais vertebrados terrestres.


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