De chamadas para táxis, passando por reservas em restaurantes, avaliação de estabelecimentos comerciais e rastreamento de pacotes, os apps facilitam a vida do consumidor, viram febre e cativam milhões de clientes. Brasileiros mostra a seguir alguns dos gestores dos novos facilitadores da vida cotidiana:
A ordem é rastrear
Tudo começou em um fim de semana ocioso, em 2010. Cícero Raupp Rolim teve a ideia de fazer um site e um aplicativo de rastreamento de encomendas. A princípio, o nome seria Cadê o Meu Pacote?. Mas, discutindo o projeto com amigos no domingo, eles acharam muito careta. E alguém sugeriu: que tal Muambator? E assim ficou. “Em 2010, descobri a opção de fazer compras na China. E pensei: por que não montar um negócio que rastreasse meus pedidos de maneira mais frequente?”, conta o empreendedor. O processo de rastreamento, também no exterior, é simples. O consumidor envia encomendas pelos Correios, ou outras empresas especializadas, insere o código e o sistema monitora o trajeto a cada 15 minutos. Quando há movimentação, avisa o cliente por celular, Twitter ou e-mail. Sete pessoas ajudaram a divulgar o negócio, que até hoje tem ares de hobby. Rolim tem duas outras empresas: o Aerolito, que faz softwares e dá cursos de robótica para crianças, entre outras iniciativas; e o Bode, desenvolvedor de software. Com sede em Porto Alegre (RS), o Muambator até agora não deu lucro. Toda receita é reinvestida em infraestrutura, pois é preciso manter nove servidores.
Hoje, estão cadastrados 600 mil clientes, já foram rastreados dez milhões de pacotes e o site/app tem 2,3 milhões de visitas ao mês. A receita vem de dois canais. O primeiro é por meio de doações, que arrecada uma média de apenas R$ 100 por mês. O segundo, pela publicidade no Google AdSense.
Sem filas
Aplicativo de reservas de restaurantes, o Restorando foi criado em 2012 na Argentina, tendo como sócios quatro fundos do Vale do Silício, um latino-americano e um global. Otavio Calixto entrou como cofundador da empresa no Brasil em 2013, motivado por desenvolver um mercado que praticamente não existia no País. “A inspiração foi o Open Table, maior companhia de reservas on-line do mundo”, afirma. No primeiro ano de existência, tinha cinco funcionários. Hoje, são 40 e o executivo espera contratar ao menos mais 15 em 2015. O aplicativo funciona em oito capitais brasileiras, é parceiro de 1,5 mil restaurantes e já levou mais de cinco milhões de consumidores para comer fora. O negócio emprega 140 funcionários na América Latina e está presente em mais de cinco mil negócios.
A forma de geração da receita é simples. O restaurante paga R$ 3,50 por cliente que faz reserva pelo app. Ao estabelecimento, interessa a parceria, porque gera público. Muitos lugares oferecem ainda descontos,
que chegam a 40%. Ou dão um benefício, como um drinque ou uma sobremesa.
O Restorando também vende um software de gestão de restaurantes em mais de 15 cidades. Tem ainda parcerias com uma revista paulistana e um cartão de crédito, para gerir programas de benefícios. Faz seu marketing no Facebook, no Waze e no Google Adwords. Para este ano, Calixto pretende dobrar o número de restaurantes parceiros e de consumidores. Vai ainda fortalecer o software de gestão e firmar mais duas parcerias.
Jogo do ganha-ganha
A 99Taxis é o maior aplicativo para pedir táxis pelo celular do Brasil. Fundado em 2012 por três conhecidos geeks da internet brasileira, Paulo Veras (CEO), Ariel Lambrecht (diretor de produto) e Renato Freitas (diretor de tecnologia), tem a maior frota de taxistas cadastrados do Brasil e está presente em mais de 300 cidades do País, além de Lisboa (Portugal). “Àquela época, foi bem inovador”, diz Veras. Ele e seus sócios trouxeram a ideia da Alemanha, quando ainda não havia concorrentes no Brasil. No início, foi difícil “pegar”, pelo inusitado da iniciativa. Mas houve um forte trabalho com os taxistas, que viram no app uma forma de ganhar mais, por não ficarem rodando pela cidade em busca de clientes.
A 99 tem cem mil taxistas cadastrados, sendo 34 mil em São Paulo. E há muito espaço para crescimento, uma vez que apenas 10% das corridas no País são feitas por meio do aplicativo. São três milhões de usuários, dois milhões de viagens por mês e 20 milhões cravadas até agora. A receita vem por dois caminhos. Primeiro, o taxista paga uma pequena comissão à 99, a cada chamada. Em segundo lugar, a empresa oferece uma plataforma corporativa, em que os funcionários se beneficiam (os táxis realmente chegam mais rápido do que os pedidos a cooperativas) e a companhia tem um controle mais completo dos gastos com transporte. Recentemente, a 99 capou R$ 130 milhões junto a fundos de investimento. Vai destinar esses recursos para aumentar a ofensiva de marketing, desenvolver produtos e contratar mais 40 pessoas até o meio do ano. Hoje, são 110 funcionários.
É bom?
O Kekanto é um aplicativo de recomendações de lugares e serviços, como restaurantes, cinemas, salões de beleza, feito de forma colaborativa pelos próprios usuários. Foi criado em 2010, por Fernando Okumura, Allan Panossian e Bruno Yoshimura, e hoje tem também como sócios três fundos de investimento: Accel Partners, W7 Brazil Capital e Kaszek Ventures. “A ideia surgiu da necessidade de simplificar a contratação de mão de obra para a construção civil”, conta o CEO da empresa, Fernando Okumura. Depois, o caminho natural foi estender para áreas de entretenimento, que os frequentadores do app avaliavam. Hoje, são mais de 12 milhões de acessos mensais, com dois milhões de usuários. A receita, explica Okumura, vem da publicidade. O Kekanto emprega 50 pessoas diretamente. Está presente em 200 cidades brasileiras e em capitais como Buenos Aires, Montevidéu, Lima, Cidade do México e Bogotá.
O aplicativo foi eleito pela Apple e pelo Google, por dois anos consecutivos, como o melhor do mundo. Recentemente, desenvolvedores do Kekanto foram à Califórnia formular um dispositivo para o Apple Watch, ainda não lançado no Brasil. Também fizeram algo similar para a TV Android. Apesar do momento adverso da economia nacional, Okumura mantém planos de expansão para outras cidades brasileiras. “Se a publicidade diminui, temos nossos sócios capitalistas.” A meta, daqui para frente, é “personalizar a experiência dos usuários” e gerar recomendações de acordo com seu perfil, histórico, nível de renda e gostos.
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