Produção artesanal de…

A história da Capitu começou em Berlim, onde o arquiteto Frederico Ming, 37 anos, esteve em 2009 durante ano sabático. E, como a maioria das surpresas boas, o acaso bateu à porta. Na capital alemã, ele se instalou em um vagão de trem adaptado para acomodações passageiras. Mal sabia que, no teto da “casa”, crescia uma das principais matérias-primas da cerveja, o lúpulo. Foi um alemão chamado Heinz que apresentou o insumo a Ming e, mais tarde, ensinou a ele o homebrewing – a arte de fazer cerveja em casa, bastante difundida nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.

De volta ao Brasil, Ming não desistiu da ideia de fazer a própria bebida. “A cerveja que consumimos no Brasil é feita para ser tomada a 0 °C e, quando ela passa de 4 °C, fica com um sabor estranho, muito diferente da caseira”, ele diz. Nesse projeto, juntou-se a ele o Marcelo Cury, amigo desde os tempos da FAU-USP e também amante de cerveja. “Contei as histórias que vivi na Alemanha para ele, que se animou com a ideia e passou a pesquisar várias coisas. Pegamos uma receita que Heinz me deu de uma cerveja de trigo e fizemos a nossa primeira experiência. Ficou uma delícia.”

A partir daí, eles partiram em busca de novos sabores, mas foram surpreendidos por um problema: o malte, que exige um processo trabalhoso e, na ocasião, limitado para eles, uma vez que não tinham um maquinário adequado para germinação e aquecimento do grão. O malte é o principal ingrediente da cerveja, responsável por determinar o estilo que a bebida terá: forte, suave, leve. Além disso, uma cerveja pode ser preparada com vários tipos de grão: cevada, trigo, arroz, milho… E, para cada grão, um preparo específico. Dá trabalho.

Quem achou a solução foi Cury, que se define fuçador por vocação. Ele adaptou uma antiga máquina de lavar roupas, que estava prestes a ser dispensada de casa.  Essa engenhoca virou a maltadeira Capitu. “Usei o tambor que gira e inseri um fluxo de ar quente com um secador de cabelos para secar e aquecer o grão. Basicamente isso”, explica. Com o passar do tempo, ajustes foram feitos, como o controle de temperatura – item determinante para alcançar o malte desejado. “No primeiro teste com a nossa maltadeira, não tivemos sorte. Pegou fogo no tambor”, lembra-se Cury.

À esquerda, Marcelo e a máquina de lavar adaptada por ele, para produzir o malte da cerveja Capitu. À direita, Frederico e os utensílios para a fabricação da bebida

A pequena fábrica artesanal montada na casa de Ming também recebeu outras adaptações em dutos, ligações elétricas e outras instalações para a produção da Capitu. Já apreciada entre os amigos da dupla, a cerveja caseira também começou a ganhar fama entre o público especializado de São Paulo. Com a receita Oatmeal Stout (estilo Ale escura, que leva aveia e é forte), a dupla venceu o Concurso Paulista de Cervejeiros Caseiros do ano passado. Como prêmio, produziram 500 litros da bebida, que foram servidos na Cervejaria Nacional, em São Paulo.

Por enquanto, a fábrica de Ming e Cury é capaz de servir apenas os amigos. Mas a dupla tem planos de aumentar a produção, só que ainda depende dos acertos legais e tributários para oficializar a fabricação. Sobre o nome de batismo da cerveja, Ming afirma que se trata de uma homenagem explícita à eterna personagem de Machado de Assis. “Durante meu ano sabático, li Dom Casmurro. Achei interessante o apelo brasileiro, atrativo e provocante dessa mulher literária.”


Comentários

Uma resposta para “Produção artesanal de…”

  1. Avatar de Rosenildo Ferreira
    Rosenildo Ferreira

    Boa … deu vontade de abrir um breja artesanal e bem gelada!

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