Após cerca de cinco anos no Google, o brasileiro Hugo Barra trocou a gigante de buscas pela então ainda desconhecida Xiaomi em 2013, o que causou muito falatório no mercado de TI. Dois anos depois, a fabricante chinesa é uma das gigantes da Ásia no mercado mundial de smartphones, com mais de 60 milhões de aparelhos vendidos em 2014, e acaba de chegar ao Brasil, seu primeiro mercado fora da Ásia.
Com apenas cinco anos de história, a Xiaomi aposta principalmente nos aparelhos com preços mais em conta – o primeiro smartphone da empresa no Brasil, o Redmi2, se destaca pelo preço de 500 reais. Segundo o executivo, isso só é possível pelo modelo de negócios da empresa, que concentra sua venda apenas em sua loja online e quase nunca usa mídia paga para publicidade, preferindo apostar em um tom mais próximo e informal com os consumidores pelas redes sociais – vale notar que a Xiaomi vai montar o Redmi2 aqui mesmo no Brasil, nas unidades da Foxconn no interior de SP.
Os clientes, aliás, são outro diferencial da Xiaomi, já que são chamados de “fãs” e seguem a empresa de forma entusiasmada, lembrando o culto a uma certa empresa americana que criou o iPhone – não por acaso, a Xiaomi já foi muitas vezes chamada de “Apple chinesa”.
Na entrevista abaixo, Barra, que é VP para mercados internacionais na Xiaomi, fala sobre a chegada da empresa ao Brasil, suas estratégias de negócios, como é ser tratado como verdadeiro popstar pelos fãs e quais os próximos passos da fabricante no mercado internacional.
IDG Now! – Como aconteceu a escolha pelo Brasil como o primeiro território da Xiaomi fora da Ásia?
Hugo Barra: Em primeiro lugar, é bom lembrar que o Brasil é o quarto mercado de smartphones do mundo, atrás apenas de EUA, China e Índia. Por isso, claro que é um mercado muito grande e importante para nós. E segundo lugar que é um mercado com uma presença muito forte na Internet, tanto em redes sociais quanto em comércio eletrônico, que são dois pontos importantes do nosso modelo de negócios. E claro que, em terceiro lugar, eu faço parte da equipe global da Xiaomi e por ser brasileiro isso ajuda talvez a entrar um pouco mais rápido no país.
E quando teremos a venda aberta ao público brasileiro do Redmi2?
Ainda não sabemos porque o modelo que a gente usa é basicamente o seguinte: enquanto a demanda for muito grande que o nosso estoque não suporta, nós fazemos esses eventos de vendas. Só abrimos a venda geral quando tivermos um estoque suficiente para atender a todo mundo.
Qual o principal diferencial da Xiaomi contra as rivais nesse mercado tão disputado?
Bom, a Xiaomi é uma empresa bem diferente em muitos pontos. Em primeiro lugar, a filosofia de alta qualidade e preço baixo é muito importante. O fato de a gente criar produtos de alta tecnologia e vendê-los por preços super justos tem a ver com o nosso modelo de negócios, que inclui venda online direta e uso muito forte das mídias sociais. Mas o que diferencia mesmo a companhia é a nossa relação com os clientes, que chamamos de fãs e não de consumidores. A gente não tem só essa conversa mais informal com os fãs nas mídias sociais, mas também dependemos deles para o nosso desenvolvimento de produtos. Nós temos cerca de 45 milhões de usuários nos nossos fóruns pelo mundo, que contribuem ativamente pra o desenvolvimento de produtos, enviando sugestões e testando produtos, entre outras coisas. É uma relação muito próxima com um número muito grande de fãs que participam. Ninguém nessa indústria de tecnologia faz isso.
Pelo que ficou meio claro no evento de chegada da empresa, os jovens parecem ser o foco principal da Xiaomi no Brasil. É isso mesmo? Caso sim, por que?
O foco imediato são os jovens, as pessoas mais ligadas em tecnologia, e que também se interessam por tecnologia, mas não tem acesso ou poder aquisitivo para essa tecnologia. Mas o nosso mercado, se você olhar os nossos outros mercados pelo mundo, é bem amplo em outros países. É muito comum alguém com um aparelho Mi acabar comprando um outro para alguém da família e acabar virando embaixador da marca. Isso é muito comum, as pessoas de outras faixas etárias acabam descobrindo os aparelhos Mi por esses embaixadores iniciais, então é um mercado super amplo. E não tem regra para quem se interessa por aparelhos de alta tecnologia com preços justos.
E vocês tem algum plano especifico para o mercado corporativo no Brasil? Isso é algo que interessa à empresa ou foge um pouco do usuário padrão da Xiaomi?
É um segmento que interessa sim, mas não é o nosso foco inicial. Nossos smartphones são todos prontos para o mercado corporativo. Eles são baseados em Android e tem suporte para todas as soluções corporativas que estão no mercado. Em tese, qualquer smartphone da empresa está pronto para o mercado corporativo, mas o nosso foco inicial mesmo é o consumidor final.
Você é tratado como um tipo de popstar entre os fãs, pelo menos os brasileiros, já que uma legião de fãs ficou para tirar selfies com você após o evento, além de interagirem a todo momento. Como é isso? E isso também acontece em outros países?
A gente tem fãs no mundo inteiro e nossos fãs são apaixonados no mundo inteiro. Em alguns países eles são mais entusiasmados e os brasileiros são alguns dos mais apaixonados e entusiasmados com certeza. Na Índia também acontece isso, eles também adoram participar. Mas não que eu me acostume com isso, já que eu me surpreendo sempre que acontece.
Em 2013, quando trocou o Google pela Xiaomi, você disse que em alguns anos o mundo falaria da Xiaomi como falam do Google e Apple. Acha que esse momento já chegou?
Eu acho que não, ainda somos uma empresa muito pequena. Somos praticamente uma startup, com apenas 5 anos de história. Mas em dois anos conquistamos um espaço internacional muito grande, entramos em oito novos mercados, nos tornamos muito conhecidos nas comunidades e na imprensa, mas ainda somos uma empresa muito pequena. Ainda não somos um player tão grande quanto essas empresas que você citou (Google e Apple), mas é exatamente essa a nossa ambição, de ter um impacto no mundo.
E vender smartphones nos EUA é algo essencial para chegar a esse objetivo?
Os EUA é um mercado muito importante para a gente no futuro. Claro que almejamos chegar lá, vai ser na hora certa. O nosso foco é bem grande nos países em que entramos, um de cada vez. Os EUA são um mercado enorme, mas muito mais desenvolvido, onde o nosso modelos de negócios não tem um poder tão grande quanto nos países em desenvolvimento. Claro que nossos aparelhos high end são de primeiríssima linha e compatíveis com o gosto americano. É uma questão de tempo, muita gente pergunta isso. E a gente quer muito entrar, mas na hora certa. Mas ainda não está na hora, por questão de foco. Inicialmente lugares como México e Rússia, e o restante da América Latina, tem muito mais a ver com o nosso modelo de negócios.
Aparentemente, a Xiaomi quer ser mais do que uma empresa de smartphones, mas uma empresa de e-commerce. É isso mesmo? Vocês já são um dos três maiores nesse segmento na China.
Nós já estamos hoje entre os 10 maiores players de e-commerce do mundo, o que é algo enorme e já estamos entre os 10 maiores. Realmente a empresa é uma empresa de e-commerce. Somos pioneiros na Ásia, e nosso negócio gira muito em torno da nossa estratégia de comércio eletrônico. E nossa estratégia de mídias sociais também tem tudo a ver, já que você conhece seus clientes pela web. Isso juntamente com as vendas online acaba criando um ciclo muito mais bem fechadinho do que varejo ou outros canais que não sejam online.
Algum plano de quanto tempo você vai passar no Brasil agora que a empresa chegou ao país?
Não tem um plano específico, a ideia é passar muito tempo no Brasil, vir sempre pra cá, principalmente no começo, nesse primeiro momento. Pretendo vir muito, mas não tem uma frequência específica, a ideia é voltar bastante. Quero dar muita atenção ao Brasil, que é um mercado muito estratégico para a gente. E eu gosto muito de ficar aqui.
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