Um italiano inovador

Francesco Morace, da Future Concept Lab, empresa que detecta tendências

Inovação – O que vocês fazem para a Petrobras?

Francesco Morace – Fizemos uma pesquisa interessante no Rio de Janeiro, São Paulo, Santiago e Bogotá, porque eles têm abastecimento nesses países. Foi sobre comportamento e percepção da marca Petrobras nessas cidades pela geração jovem. Há um problema: a Petrobras é uma marca bem conhecida por gerações maduras, mas jovens na Colômbia, no Chile não sabem que é brasileira. E fizemos, também, uma pesquisa sobre comportamento do cliente no posto de abastecimento, na loja de conveniência, se o cliente gosta do atendimento, se sente bem, que possibilidade de inovação há nesse lugar. Foi uma pesquisa de dois anos, com observação do comportamento geracional e expectativa de inovação na área. A Petrobras é uma empresa social, faz parte da história do Brasil. No exterior, no entanto, ninguém sabe. Por isso, é um trabalho de consultoria profundo, que consiste em como mudar um pouco a percepção da marca.

Inovação – E o trabalho com a Havaianas?

F.M. – A Havaianas queria saber como uma marca brasileira era percebida na Itália, França, Austrália e América.

Inovação – E o que vocês descobriram?

F.M. – Descobrimos uma coisa muito interessante. A percepção brasileira na Europa era puramente folclórica. De cinco anos para cá, o Brasil conseguiu uma imagem positiva, de muita energia, de País jovem, inovador, País que experimenta nos comportamentos, mas não mais somente a visão tradicional, o mar, sol, sexo, alegria. A imagem do País está mudando. Os estudantes brasileiros têm status em Milão. Estão com prestígio pelo fato de serem brasileiros, têm mais prestígio que os sul-coreanos, que já foram mais prestigiados, mas hoje estão em queda. A imagem positiva do Brasil se reflete em produtos brasileiros, como Havaianas, Melissa, que têm muito êxito em Londres, Milão, Paris. A marca Brasil está em alta. Os Irmãos Campana são stars em Milão. Ser brasileiro hoje é uma vantagem estratégica na área do design e isso é uma novidade.

Inovação – Como foi o case com a Fiat Brasil?

F.M. – A Fiat Brasil queria saber como o público feminino, em especial, se relacionava com o mundo da pós-venda, da assistência técnica. Esse público tem exigências distintas do público masculino, que é mais técnico, quer saber como funciona o carro, o motor. As mulheres querem saber do conforto. Fizemos entrevistas pessoais, dentro dos carros, verificando a mobilidade cotidiana, a relação com a experiência do carro. Foi uma pesquisa de seis meses.

Inovação – Na sua opinião, qual é a identidade brasileira?

F.M. – O Brasil é um país que vive uma fase de mudança importante, uma nova dimensão de orgulho nacional, uma transição. Mas ainda falta cultura. Falta desenvolver programas de educação para dar ao País uma identidade mais orgânica. Há classes A, B, C e isso cria uma condição de mescla e esperança, que é única e não se vê em outros países da América Latina ou Ásia. Além disso, tem uma oportunidade incrível com os eventos mundiais, como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.

Inovação – Você conhece bem o Rio. Qual é a cidade mais alegre, Rio ou São Paulo? Onde as pessoas exteriorizam mais felicidade?

F.M. – As duas cidades são alegres de maneira muito distinta. O carioca é mais superficial, acho. Há a praia, uma experiência realmente de relação, mas não tão profunda quanto São Paulo. Talvez eu goste mais de São Paulo por haver aqui uma comunidade italiana importante.

Inovação – Mas nas ruas do Rio as pessoas estão sempre rindo, contando piada…

F.M. – Gosto do Brasil porque é um continente, não um país. São vários países dentro de um país.


Comentários

Uma resposta para “Um italiano inovador”

  1. Excelente percepção, indentifiquei-me muito com a ideologia da empresa, como faço para ter acesso direto?

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