Criada nos laboratórios da ESALQ, a escola de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, interior de São Paulo, uma empresa até miúda disputa espaço no concorrido mercado de pesticidas no Brasil, líder mundial de uso desse tipo de produto. Só que há um diferencial nessa empresa: ela aposta no controle biológico de pragas como uma alternativa segura aos agrotóxicos – e até 40% mais barata.
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Com 80 funcionários e fundada há 11 anos, a partir de pesquisas acadêmicas, a BUG Agentes Biológicos é também conhecida como indústria de insetos. Explica-se: a empresa cria, em massa, especialmente vespas do gênero Trichogramma, que são minúsculas (até 1 mm de tamanho) e não têm ferrão – existem 210 espécies no mundo e 26 no Brasil. No entanto, esses miúdos insetos são inimigos naturais de pragas que atacam plantações importantes para a economia do País, como as de cana-de-açúcar e soja. Essas vespinhas vivem naturalmente no Brasil e em várias partes do mundo, e têm o poder de parasitar os ovos de mariposas e borboletas. Assim, impedem que esses ovos se transformem nas temidas lagartas destruidoras de plantações.
O controle orgânico, segundo a BUG, consegue atingir um índice de até 90% de eliminação de pragas. “Além de mais barata, as vespas são uma alternativa natural aos agrotóxicos, cuja composição química pode ser muito prejudicial à saúde”, afirma o agrônomo Diogo Carvalho, sócio-fundador da empresa, eleita pela revista americana Fast Company, considerada a bíblia da inovação, como uma das 50 mais inovadoras do mundo, ao lado de gigantes como Apple, Facebook e Google.
A empresa também tem um método para despachar as vespas ainda em formação. O pesticida natural é vendido em uma cartela dividida em 24 células. Dentro de cada uma delas, há uma cola especial, desenvolvida pela própria BUG, contendo entre 50 e 100 mil ovinhos de vespas, que serão posicionados na lavoura pelo agricultor. Quando nascem, as vespas saem das células por pequenos orifícios e começam a fazer o combate, que consiste em colocar seus próprios ovos dentro dos ovos de mariposas e borboletas. Depois, os ovos parasitados servem de alimento para as vespas. Uma cartela de ovinhos de vespa é suficiente para proteger uma área de 1 hectare ou 10 mil m2, o equivalente a um campo de futebol.
Com quatro biofábricas ou fábricas biológicas – Piracicaba, Charqueada, Engenheiro Coelho e Limeira, todas no interior de São Paulo –, a empresa é capaz de produzir vespas para cuidar de 450 mil hectares de plantação. Ela também exporta os ovos esterilizados para multiplicação de insetos para vários países da União Europeia.
Ácaros também
A metodologia da BUG foi desenvolvida nos laboratórios da ESALQ durante o mestrado de Carvalho. O controle de pragas por meio de vespas já existia, mas era praticado apenas em pequenas plantações ou estufas. A grande sacada da empresa foi reunir pesquisa acadêmica com viabilidade comercial para produzir os agentes biológicos em grande escala. A empresa teve o apoio da Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, e, depois, do Fundo CRIATEC, do BNDES.
O encontro entre pesquisa e fundos de investimento permitiu o crescimento da empresa. “Esse apoio foi essencial para a profissionalização da gestão e o planejamento da governança corporativa e de nossa capacidade financeira”, afirma Carvalho. Em 2005, a BUG se fundiu a outra indústria e passou a atuar também na produção de ácaros, que protegem plantações de hortifrúti.
A BUG não divulga seu faturamento, mas tem na carteira clientes de peso da agricultura nacional e disputa um mercado de pesticidas que, só no Brasil, gira em torno de US$ 8 bilhões por ano. Tudo indica que o sucesso está garantido ao combinar tecnologia e inovação a favor da natureza e da sustentabilidade. “Esse diferencial representa o futuro do planeta. Um futuro que já começou”, diz Heraldo Negri, biólogo e diretor de produção da empresa.
MAIORES INOVADORES
A revista norte-americana de negócios Fast Company divulga anualmente um ranking com as 50 empresas mais inovadoras do mundo. A equipe de editores faz uma pesquisa com especialistas da área, analisa a saúde financeira de empresas e verifica cada produto desenvolvido para entender as inovações de impacto do cenário cultural ou industrial.
Neste ano, a Apple foi eleita a empresa mais inovadora do mundo, seguida pelo Facebook e Google. Apenas duas brasileiras apareceram no ranking mundial: a BUG Agentes Biológicos, que ficou na 33ª posição do ranking, e a Boo-box, focada em publicidade para mídias sociais, ocupando o 45º lugar.
“O Brasil é o terceiro maior exportador agrícola do mundo e o maior consumidor de pesticidas. A BUG tem a única alternativa aos agrotóxicos aprovado pelos ministérios da Agricultura, Meio Ambiente e Saúde”, publicou a revista, apontando a contribuição da empresa ao meio ambiente.
Junto com o ranking mundial, a Fast Company divulgou uma lista das dez empresas brasileiras mais inovadoras. Nela, a BUG aparece em primeiro lugar, seguida pela Boo-box, Grupo EBX (holding fundada e presidida pelo empresário Eike Batista), Stefanini (empresa de serviços de tecnologia de informação), Embraer (fabricante de aviões comerciais, executivos, agrícolas e militares), Petrobras (empresa petrolífera), Predicta (soluções para marketing on line), F*Hits (plataforma feminina de mídia social e e-commerce de moda e estilo), Apontador (tecnologia e geolocalização) e Vostu (jogos on line).
Além dos rankings mundiais e brasileiro, a Fast Company divulgou ainda as cem pessoas mais inovadoras do mundo. Entre elas, quatro brasileiros. Lourenço Bustani, sócio-fundador da Mandalah, está na posição mais alta entre os brasileiros: 48ª. A empresa de Bustani, definida pelo próprio como “boutique de inovação consciente”, tem sede em São Paulo e escritórios em Nova York, Cidade do México e Tóquio. Segundo a publicação americana, Bustani criou e desenvolveu novas ideias para empresas como Petrobras, Natura, Nike e GM, ajudando as companhias a criar produtos, serviços e estratégias para fortalecer seus negócios.
Na 54ª posição dessa lista, aparecem Flavio Pripas e Renato Steinberg, que criaram a primeira rede social de moda do Brasil, a Fashion.me. O 97º. lugar está ocupado por Carla Schmitzberger, diretora de negócios da Alpargatas, que figura no ranking, de acordo com a publicação, por construir uma marca global com chinelos – leia reportagem sobre a empresa e as Havaianas na página 48).
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