No Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, pesquisadores estão recorrendo a um robô humanoide para ensinar geometria a adolescentes.
Um dos trabalhos é um projeto de mestrado do pesquisador Adam Moreira que utilizou o Robô NAO. Alunos entre 13 e 14 anos de escolas públicas e particulares da cidade interagiram com o professor robótico e os resultados, segundo Moreira, foram positivos.
Na prática, o robô foi programado para reconhecer figuras geométricas planas usando um sistema de visão computacional. Com a ajuda de professores da área de educação e de matemática, Moreira propôs diversas atividades aos alunos.
Os estudantes foram desafiados, por exemplo, a descobrir o nome de uma figura geométrica a partir de dicas fornecidas pelo robô. Em caso de acerto da resposta, o NAO abria os braços para o alto e piscava as luzes de seus olhos em sinal de felicidade. Mas se o jovem errasse, o robô abaixava a cabeça e ficava com os olhos vermelhos.
Segundo Moreira, hoje doutorando do ICMC, as reações do robô foram programadas para torná-lo mais humano. No final das atividades, ele aplicou um questionário sobre figuras geométricas aos jovens e os estudantes que participaram das aulas com o NAO tiveram um desempenho melhor (84,61% de acertos) em relação aos que não tiveram contato com o robô (60% de acertos).
Já o pesquisador Daniel Tozadore programou o NAO para reconhecer figuras geométricas em 3D e receber as respostas dos alunos por meio de voz. Os adolescentes escolhidos para participar do trabalho tinham entre 10 e 14 anos e eram do Projeto Pequeno Cidadão, um programa pós-escola desenvolvido pela USP com aulas de reforço, artes e atividades esportivas para estudantes da rede pública.
Tozadore dividiu os jovens em dois grupos a fim de comparar o comportamento e o rendimento dos estudantes. Em uma das turmas, o pesquisador programou o robô para ser mais simpático.
“Quando as crianças chegavam, o NAO se levantava, acenava com as mãos e, depois de cumprimentá-las, perguntava pelo nome da criança. Ele também fazia movimentos como coçar a cabeça enquanto reconhecia a figura geométrica e um “toca-aqui”, quando o aluno acertava a resposta. Em caso de erro, o robô alterava o LED de seus olhos para vermelho e baixava a cabeça”. Já com a outra turma, o NAO era mais seco e pouco interagia com os jovens. Ele ficava sentado em suas próprias pernas e dava apenas boas vindas aos alunos, sem nenhum tipo de movimento, fazendo somente o reconhecimento das figuras.
Quando comparados, os alunos que tiveram contato com o robô mais interativo se sentiram mais motivados a estudar para as próximas sessões, além de demonstrarem uma maior capacidade de concentração e assimilação do conteúdo.
Para Roseli Romero, professora do ICMC e orientadora dos dois trabalhos, o trunfo foi o uso de um robô com características “humanas”. “Enquanto a maioria das pesquisas vem sendo desenvolvidas com kits robóticos, eles utilizaram o NAO, que possui recursos muito mais ricos, como a capacidade de fala, reconhecimento de imagens e de fazer gestos, ou seja, a interação social é muito maior”, compara em comunicado destinado à imprensa.
Segundo Moreira, os experimentos apresentaram resultados promissores, mas são necessários mais testes para se obter uma conclusão definitiva a respeito do uso do robô em sala de aula. Em relação ao trabalho de Daniel, o pesquisador afirma que outras técnicas para o reconhecimento mais rápido de voz devem ser testadas e comparadas, além de novos parâmetros para classificação de imagens.
Para o futuro da robótica educacional, Roseli vislumbra uma grande revolução no ensino. Ela acredita que, à medida que esses robôs forem se tornando cada vez mais sociáveis e inteligentes, teremos grandes mudanças: “Hoje em dia, a maioria dos professores prepara suas aulas utilizando computadores, então, por que não pensar, no futuro, em prepará-las utilizando robôs?”.
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