A Câmara Municipal de São Paulo aprovou a mudança do nome do Minhocão: o elevado inaugurado pelo então prefeito Paulo Maluf em 1970 perderá a denominação de “Presidente Costa e Silva” e passará a se chamar “Presidente João Goulart”. A mudança, aprovada em 22 de junho, segue as recomendações da Comissão Nacional da Verdade de alterar a “denominação de logradouros, vias de transporte, edifícios e instituições públicas” que se refiram a agentes associados a violações dos direitos humanos.
Pouco a pouco as homenagens aos expoentes da ditadura militar vão sendo removidas dos edifícios e vias públicas. Enquanto os nomes de generais e torturadores vão escasseando, aumentam as referências a políticos, artistas e intelectuais de esquerda. Em todo o país já existem 25 logradouros com o nome de Carlos Lamarca, 27 com o de Carlos Marighella, 44 com o de Luís Carlos Prestes.
São sinais de que os admiradores da ditadura perderam a batalha pelos corações e mentes: em 1985, na gestão José Sarney (PMDB), os militares desistiram de promover a antiga parada militar em Brasília; em 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), deixaram de publicar a “Ordem do Dia” sobre a data; e, em 2011, já sob Dilma Rousseff (PT), cessaram todas as comemorações militares.
Os ideais dos “revolucionários de 1964” desapareceram dos livros didáticos: o ensino de Educação Moral e Cívica, imposto em 1969 pela Junta Militar, foi retirado do currículo em 1993, no governo Itamar Franco. Em 1995, o governo FHC criou a Comissão Especial sobre os Mortos e Desaparecidos, para reparar danos às famílias de vítimas da ditadura. E, em 2011, Dilma criou a Comissão Nacional da Verdade, para investigar as violações de direitos humanos.
A partir daí a revogação das homenagens aos golpistas se intensificou. Em São Paulo, uma lei sancionada pelo prefeito Fernando Haddad (PT) em 2013 facilitou a renomeação das ruas e praças: ela permite aos moradores de um bairro fazer um abaixo-assinado com dois terços dos residentes para trocar o nome do logradouro quando se tratar de uma homenagem a um violador dos direitos humanos.
Mas essas mudanças já vinham ocorrendo em todo o País. Em 2010, a estrada SSP-332, que liga Campinas a Conchal, recebeu o nome de Zeferino Vaz, ex-reitor da Unicamp, no lugar de Milton Tavares de Souza, comandante do Centro de Informações do Exército durante a ditadura. Mais tarde, o mesmo general também teve seu nome retirado de um viaduto que interliga a avenida Governador Carvalho Pinto, na Penha, à avenida Educador Paulo Freire e à Rodovia Fernão Dias, na cidade de São Paulo.
Em dezembro de 2013, a Escola Estadual Presidente Costa e Silva, em Nova Iguaçu (RJ), passou a se chamar Abdias Nascimento, militante do movimento negro. Este foi o primeiro colégio público que homenageava figuras da ditadura a ser rebatizado. Em Volta Redonda, também no Rio, a ponte Presidente Médici virou Dom Waldyr Calheiros, bispo que atuou na redemocratização.
Em fevereiro de 2014, o Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, em Salvador (BA), passou a se chamar Carlos Marighella após uma votação entre os alunos. O resultado foi comemorado pela comunidade: “Trocamos um ditador por um herói”, disse Matheus Bispo, aluno do 3º ano do ensino médio.
No mês seguinte, em Belo Horizonte, o Elevado Castelo Branco passou a se chamar Dona Helena Greco, fundadora do Movimento Feminino pela Anistia de Minas Gerais, e a rua Dan Mitrione, nome de um agente da CIA (Agência Central de Inteligência), virou José Carlos da Matta Machado, militante de esquerda torturado e assassinado na ditadura. Em outubro, a Câmara de Porto Alegre promulgou uma lei que mudou o nome da avenida Castelo Branco para avenida da Legalidade e da Democracia.
Em 2015, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), decidiu, em março, alterar os nomes de todas as escolas que lembravam figuras da ditadura. Dez escolas foram rebatizadas com nomes de personalidades que contribuíram com a educação, como Paulo Freire e Vinicius de Moraes. Em agosto desse ano, no Distrito Federal, a ponte Costa e Silva passou a se chamar Honestino Guimarães, líder estudantil morto em 1973. Era o único monumento da capital que mantinha uma referência à ditadura.
Em janeiro deste ano, o governador de Sergipe, Jackson Barreto (PMDB), substituiu os nomes de três escolas estaduais — Presidente Médici, Castello Branco e Costa e Silva — Nelson Mandela, Paulo Freire e professor João Costa. E o estádio de Itabaiana, ex-Presidente Médici, virou Etelvino Mendonça.
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