A natureza brasileira sempre atraiu os europeus, seja pela riqueza do ecossistema que engloba tamanha biodiversidade, diferentes topografias e marcos naturais, ou por registros fiéis de uma cultura local.
O Rio de Janeiro, com sua magnífica baía, atraiu sobremaneira os franceses que aqui aportaram, cujo cenário contribuía para realizar seus velhos sonhos de terem encontrado finalmente, o jardim do éden.
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As árvores gigantescas entremeadas pelas copas das palmeiras; as tonalidades e perfumes inebriantes das flores; o sabor das frutas selvagens; os sons dos pássaros canoros; o encontro com animais nunca vistos; o mar ora revolto ou sereno; tudo contribuía para o deslumbramento perante uma natureza misteriosa que não obedecia ao ciclo das quatro estações!
Desde o almirante Nicolas Durand de Villegagnon que aqui aportou em 1556 – na tentativa de criar a França Antártica -, os inúmeros viajantes, entre os quais Saint Hillaire que maravilhado afirmou “quem seria capaz de descrever as belezas que apresenta a baía do Rio de Janeiro… com estas montanhas majestosas que a bordam e também a vegetação tão rica e variada que orna seu litoral?”; até os pintores da Academia que chegaram a convite de D. João VI e fascinados, transformaram suas palhetas perante tanto colorido e luminosidade.
Foram esses artistas que melhor retrataram a paisagem brasileira e a Baía de Guanabara durante do século XIX, embora tenham aplicado seus conhecimentos e técnicas acadêmicas que obedeciam a um “olhar europeu”.
D. João considerava o ensino da arte como um processo importante para o desenvolvimento do país.
No dia 12 de agosto de 1816, assinou o Decreto de Criação da Escola Real de Ciências e Artes e Ofícios, contratando um grupo de nove artistas e sete artesãos, entre os quais Nicolas-Antoine Taunay, Jean-Baptiste Debret, Auguste Henri de Montigny e Charles Pradier que, sob a chefia de Joachim Lebreton, iniciaram o ensino das artes no Brasil. A escola tornou-se o embrião da Academia Imperial de Belas Artes.
Esse grupo desembarcou no Brasil quando a cidade do Rio de Janeiro chorava a morte da rainha mãe D. Maria I e a Corte já se preparava para as festividades da aclamação do novo rei D. João VI e que devido às inúmeras insurreições no país teve de ser adiada.
Assim a comemoração deveria ser a mais solene e festiva possível, como demonstração da magnitude do soberano, e para tal, os artistas recém-chegados deveriam contribuir com suas experiências na construção de monumentos, baixos relevos, arcos triunfais e retratos dos personagens da Corte.
Em um primeiro momento, houve uma colaboração por parte de todos, mas logo começaram a surgir desavenças e intrigas principalmente entre Taunay e Debret, uma vez que o primeiro estranhava o fato de ter sido admitido como pintor de paisagens, o que o colocava em posição inferior ao segundo, que figurava como pintor de história.
Cansados também por aguardar pela fundação da Academia que nunca se concretizou, os artistas se isolaram e cada qual tomou seu destino.
O pintor de paisagens e natureza, Nicolas-Antoine Taunay, instalou-se em uma propriedade na Floresta da Tijuca, interessado em retratar a natureza como fizera anteriormente na Itália, relembrando também a vegetação das cercanias da Paris de sua infância.
Assim, essas influências da antiguidade e do passado estarão sempre presentes nas pinturas de Taunay.
Lilia Moritz Schwarcz na sua consistente obra O sol do Brasil descreve uma tela do artista exemplificando “Os apectos mais reiterados nas telas de Taunay estão todos presentes, vacas a pastar, o céu esmaecido que toma metade do quadro, as figuras pequenas, a vegetação tropical, caracterizada por suas árvores singulares e que mais uma vez se parecem com as árvores italianas de Claude Lorrain”.
Apesar de sua fidelidade ao passado, Taunay não consegue fugir à realidade que se impõe; a luminosidade e o sol brasileiros intensificam os contrastes e as cores de sua pintura, agora impregnada de novos elementos como os negros escravos, a brisa do mar, a majestade das montanhas e a riqueza da fauna e a flora do nosso país.
A produção realizada em um estúdio fechado, é substituída pelo contato direto com a natureza, a céu aberto… e o resultado final será o do registro de uma paisagem eloquente e grandiosa!
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