Meus caros, creio que só heterossexuais que não moram em São Paulo podem confessar que não conhecem a The Week sem pagar mico. Afinal, estamos falando da maior e melhor casa noturna do Brasil, uma das melhores do mundo, casa gay, mas frequentada por todos os públicos. A revista gay norte americana Out a descreve como “um estilo de vida”, e o site internacional tripoutgaytravel.com a compara ao Club Heaven, de Londres, ao Abbey de Los Angeles, o Exit, de Amsterdã e a Drugstore, de Montreal. Só essas cinco disputam o título de melhor casa gay do mundo, numa votação mundial que ainda não acabou, mas, convenhamos, são só cinco concorrentes no planeta. A The Week é um fenômeno internacional.
Mais que casas noturnas, The Week é uma marca, um padrão de qualidade, desconhecido até 2004, quando, “sem ter nada a perder”, André Almada e seu sócio Klaus iniciaram a aventura que iria quebrar paradigmas, além de parte da concorrência paulistana, diga-se. Naquele ano, os gays descobriram que mereciam ser bem tratados, que banheiros deveriam estar limpos ao amanhecer, os bares tinham de ser bem sortidos, e que, além da pista de dança, todos mereciam uma praça ao ar livre junto a pista, para descansar ou namorar, pois ninguém é de ferro. Os DJs, bem, se estes se comparam a sacerdotes na noite moderna, os da TW podem almejar o cardinalato, pois arrasam aqui e mundo afora – esse é o padrão da casa.
Poucos de vocês conhecem André Almada, o criador desse mundo mágico, que foge do título de Rei da Noite Gay, ao invés de reivindicá-lo por direito. Ele detesta labels pessoais. Quem imagina que ele trabalha em sala própria, com direito a poltrona de designer, ar condicionado, decoração caprichada, e secretárias(os?), se engana. É melhor chamar de local de trabalho mesmo, pois fica num espaço dentro da própria TW, e ele divide a mesa com seus três lugares-tenentes, Flávio, Fêfo e Fernando. Almada escolhe sua equipe seguindo sua intuição, apuradíssima, e, como desconfia até da própria sombra, só trabalha com aqueles que conhece há muito tempo. A mesa em que trabalham é entulhada de laptops, celulares de última geração, papéis, gadgets tecnológicos, e a conversa dos quatro, atravessada, lembra os antigos pregões da bolsa de valores. Caches dos melhores DJs do mundo se misturam com datas da agenda de final de ano, cabos de internet da casa do próprio André, e a produção da festa de uma cantora famosa. Na parede, um calendário de ano inteiro, já bem rabiscado, indica vários eventos, passados e por vir, mas não mostra o aniversário de ninguém, nem do próprio dono. Afinal, ali é um lugar de trabalho, de muito trabalho.
O resumo da ópera todos sabem: ele nasceu em Birigui, interior de São Paulo, veio para a capital em 1990, e chegou a dividir um apartamento com o colega de infância Reinaldo Gianecchini – são amigos até hoje. Estudou hotelaria e, já pela rede Hilton, circulou pela América Latina. Tivesse insistido na carreira, teria sido disputado, a tapa, pelo Carlyle de Nova York e o Dorchester de Londres, mas preferiu uma vida diferente, e voltou para o Brasil. Foi assessor de Paulo Borges, no SP Fashion Week, e acabou na noite, vale dizer, acabou por trabalhar na noite, eis que, frequentar, sempre frequentou. Bem articulado e simpaticíssimo, tornou-se promoter da JetLounge, a noite de sábado no saudoso Ultralounge, que bombava. Foi obrigado, então, a optar entre a moda e a noite – e ficou com a segunda!
O sucesso da TW acabou por desequilibrar a já frágil disputa bairrista entre Rio e SP, pois, pela primeira vez, a Farme de Amoedo encontrava rival deste lado da via Dutra. Antes que alguma carioca cortasse os pulsos (dele), André ergueu a TW Rio, na qual aplicou tudo o que aprendeu em São Paulo, e é bárbara. “As duas cidades são totalmente diferentes, são públicos diferentes”, André explica. A TW Rio anda sozinha, enquanto a de SP tem o dono circulando de um lado para o outro. Mas, como nunca se sabe onde ele vai estar, os funcionários vivem na ponta dos cascos. Também já está em Florianópolis, mas só no verão, e já chegou à Europa…
O sucesso tem seu preço. Acreditem ou não, o Disney deste world está solteiro, já há algum tempo, e todos os sábados, depois de recepcionar seus milhares de clientes, mas antes do sol nascer, vai dormir sozinho em sua casa, que por sinal é território fechado, sagrado. Não que amigos ele não tenha, e muitos, mas sabe selecioná-los. Com eles, André é fraternal, fiel, se solta, brinca e fala besteira, no pouco tempo livre que lhe resta.
É grato a todos os que o ajudaram em sua jornada, e retribui sempre que possível, “muita gente abriu as portas para mim, nunca esqueço”. Cerca de 900 cidadãos carregam um cartão preto, de cliente especial TW, conhecido como “pretinho básico”, que lhes faculta acesso livre à casa e, mais disputado ainda, à sala VIP, atrás do DJ – e acima das nuvens. Esse cartão emagrece, rejuvenesce, faz brilhar os dentes, torna sua roupa usada em “vintage”, e atrai parceiros, portanto, não é para qualquer um. Não se paga por ele, nem que se queira, só o próprio André escolhe quem ganha.
Quem ocupa o Olimpo tem por garantidos na vida os inimigos, pois inveja, ciúmes, e outras fraquezas do caráter humano amealham multidões. A concorrência o respeita, e escaramuças são raras. Mas blogueiros, e comadres em geral, descarregam sobre ele veneno suficiente para eliminar um exército. Ônus natural dos grandes? Indagado sobre isso, ele responde com sabedoria quase ingênua: “Eles falam mal pois não me conhecem”. Verdade pura. E azar o deles.
O empresário Alexandre Youssef, do bem-sucedido Studio SP, frequentado por todos os públicos, diz: “André Almada faz parte de uma nova categoria de empresários da noite, que desenvolvem trabalhos importantes em seus clubes, mas não se limitam a isso. Ele sabe ter uma visão global sobre o impacto cultural e urbano que o negócio traz. A The Week é um excelente exemplo disso”. O mitológico agitador cultural Celso Curi, com 30 anos de noite gay e responsável pelo Guia OFF, concorda e resume: “André tem talento, sabe que sucesso não é só botar música e vender bebida, ele se comunica bem com seu público, por isso a The Week não é uma festa – são várias!”. André e seu clube são semelhantes, são muito especiais. A balada ferve na TW, e arrasa, mas o dono sabe a hora de sair pelos fundos, para dormir em casa. Ele conquistou esse direito.
Deixe um comentário