Réu por corrupção não tem moral para comandar impeachment

Eduarod Cunha em sessão extraordinária da Câmara dos Deputados. Foto: Nilson Bastian/Fotos Públicas (03/03/2016)
Eduarod Cunha em sessão extraordinária da Câmara dos Deputados. Foto: Nilson Bastian/Fotos Públicas (03/03/2016)

O cinema americano mostrou que o réu é aquele cara que fica sentadinho de frente para o juiz e de costas para a câmera, ao lado do corpo de jurados, geralmente com barba por fazer, expressão de derrotado, assistindo aos interrogatórios das testemunhas.

A partir de hoje, quando a TV Câmara focalizar a cadeira onde senta o presidente da Câmara dos Deputados estará mostrando a cadeira de um réu.

Nunca antes neste país, ao menos o país que eu vi com meus olhos a Câmara dos Deputados foi presidida por um réu.

Embora a constituição não impeça, pois ela só menciona afastamento depois de condenação com sentença transitada em julgado – quando não cabem mais recursos – convenhamos que, ao menos nesse caso, é uma situação incompatível até com a lógica e o bom senso.

Eduardo Cunha não vira apenas réu, a partir de hoje, quando o STF deve definir por quanto será a goleada contra ele (ontem estava em 6 a 0): ele é “muito” réu.

O resultado acachapante atesta que os ministros não têm dúvida acerca dos indícios de sua culpabilidade. Tudo indica que a decisão será unânime.

A robustez das provas já apresentadas por Janot denota que a condenação não é uma questão a definir; é só uma questão de tempo.

Será praticamente impossível derrubá-las durante o processo.

Não há possibilidade de um “in dubio pro reu”.

E este é apenas o primeiro inquérito. As contas secretas na Suíça ficaram para o próximo.

Outro agravante é que ele é réu por corrupção e lavagem de dinheiro.

Um réu por corrupção e lavagem de dinheiro tem autoridade moral para comandar um processo de impeachment, que é um processo político e moral que julga se o presidente cometeu corrupção?

   Um réu por corrupção pode continuar influindo no rumo da comissão de ética que discute sua cassação?

   Eis porque esse é um caso excepcional que a constituição não previu, nem poderia ter previsto. Sua preocupação maior foi, a grosso modo, blindar o presidente da Câmara dos Deputados, pois o país tinha recém-saído de uma ditadura.

   A constituição não previu que um dia haveria um Eduardo Cunha na presidência da Câmara.


Comentários

2 respostas para “Réu por corrupção não tem moral para comandar impeachment”

  1. Onde você diz:
    “Embora a constituição não impeça, pois ela só menciona afastamento depois de condenação com sentença transitada em julgado – quando não cabem mais recursos – convenhamos que, ao menos nesse caso, é uma situação incompatível até com a lógica e o bom senso.”

    Gostaria de saber no caso do Lula, se um réu por corrupção tem moral para assumir o ministério da casa civil, como você mesmo diz, ” é uma situação incompatível até com a lógica e o bom senso.”

  2. Grande Solnik, vou iniciar uma campanha entre os Eduardos para obrigar o meliante a não apenas renunciar ao cargo de Presidente da Camara, mas a mudar de nome. Afinal de contas, temos um nome a zelar. Este cidadão é uma boa prova de que as pessoas precisam saber qual seu nível de incompetência. Enquanto ele “militava” nas terras fluminenses, ficou despercebido. Resolveu dar um pulo maior do que as pernas, abusou e agora levou um 10 a 0 no Supremo. Enquanto isso, aquela ex-publicação da Lapa de Baixo reaparece da pior maneira possível.

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