O jornal alemão Die Zeit disse nesta quinta-feira que o afastamento da presidenta Dilma Rousseff é “a declaração de falência do Brasil”. O jornalista Michael Stürzenhofecker afirmou que o país queria se apresentar como uma nação moderna nos Jogos Olímpicos, mas o processo de afastamento de Dilma foi um “recuo aos velhos tempos”: “O processo contra Rousseff não é jurídico, mas político”, escreveu o jornalista: “O que mais move as pessoas, porém, é a casta política corrupta. O paradoxal nisso é que Rousseff precisa sair porque atacou o problema. Os investigadores da Lava Jato acusaram muitos de seus partidários. Também ela foi investigada, mas nada foi provado”.
O jornalista lembra que há muitos acusados de corrupção entre aqueles que afastaram a presidenta e elogia Dilma por ter deixado os investigadores agirem com relativa liberdade: “Isso é incomum para uma líder política que enfrentou uma pressão desse tamanho”. Para o jornalista, o processo todo “é uma derrota para o Brasil, e a recém-adquirida confiança nas instituições e na democracia está abalada. Com o impeachment, o país está a caminho de se tornar a maior república de bananas do mundo”.
A revista Der Spiegel afirmou, sob o título “Um país perde”, que “o drama em torno da presidente é um vexame para um país afundado na crise”. Para Jens Glüsing, “o grande e orgulhoso Brasil terá de se resignar a, no futuro, ser citado por historiadores ao lado de Honduras e Paraguai – e não só por causa de apresentações bizarras de seus representantes populares. Também em Honduras e Paraguai presidentes eleitos foram afastados de forma questionável do cargo”. Segundo ele, o “espetáculo indigno” exibido pelos políticos brasileiros “prejudicou de forma duradoura as instituições e a imagem do país”. A revista disse ainda que Dilma não está sendo acusada de nenhum crime, a não ser que se considere a maquiagem orçamentária uma infração: “Mas aí todos os seus antecessores e também muitos governadores teriam de ser expulsos do cargo”.
O Süddeutsche Zeitung, maior jornal diário da Alemanha, afirma que, “na opinião de muitos juristas, as acusações são tênues. Muitos chefes de Estado antes de Rousseff agiram de forma semelhante e não foram afastados do cargo. A queda da presidenta é muito mais o resultado de intrigas políticas costuradas pelos adversários de Rousseff”. O jornalista Benedikt Peters disse ainda que o presidente interino Michel Temer e o deputado Eduardo Cunha são, “ao contrário de Rousseff”, acusados de corrupção.
O Frankfurter Allgemeine Zeitung analisa o processo como “uma marcante guinada à direita” e afirma que o sucessor Michel Temer precisa carregar um peso enorme sobre uma legitimidade frágil. O jornalista Matthias Rüb afirmou que o país necessita urgentemente de estabilidade política e lembrou os problemas da economia brasileira.
No Reino Unido, o jornal The Guardian disse que a primeira mulher a presidir o Brasil foi afastada pelo voto de senadores que colocaram problemas econômicos, a paralisia política e irregularidades fiscais à frente do voto de 54 milhões de brasileiros que elegeram a representante do PT: “O impeachment é mais político do que jurídico”, escreveu a publicação britânica. Mas observou que os senadores tiveram uma postura mais sóbria do que os deputados, que protagonizaram cenas “triunfantemente feias”.
No artigo “Uma guerreira até o fim: Dilma Rousseff – pecadora e santa na luta do impeachment”, o correspondente Jonathan Watts disse que, apesar de ser menos “corrompida” que seus acusadores, a “teimosia” e a “natureza fechada” da presidente a deixaram sem os instrumentos necessários para enfrentar a crise. O The Guardian disse que Dilma protestou contra a misoginia e prometeu lutar até o “amargo fim” e acrescentou que a crise política e econômica não é culpa apenas de Dilma, mas também de um Congresso fragmentado, que não permitiu a construção de uma coalizão.
O El País publicou na quarta-feira um editorial classificando o processo de impeachment de Dilma de “irregular”. Nesta quinta, o jornal destacou que os senadores falaram sobre as manobras fiscais usadas como pretexto do processo, mas se concentraram no “catastrófico curso da economia” para justificar os votos. A sessão plenária, que teve uma “extensão maratoniana”, transcorreu sem os excessos “chocantes” e “ridículos” vistos durante a votação do processo na Câmara, em abril.
O francês Le Monde questionou se o presidente interino Michel Temer será capaz de conciliar uma sociedade dividida pelo processo de impeachment, já que ele é citado na Operação Lava Jato.
Para o italiano Corriere della Sera, o caminho do presidente interino não será fácil, já que Temer terá de enfrentar o PT. “O Brasil vive o segundo ano consecutivo de recessão severa e tudo está num impasse há meses devido à crise política”, disse o jornal.
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