Mesmo na Presidência, unidade do PMDB vai depender de cargos

Tancredo Neves e Ulysses Guimarães no Colégio Eleitoral em 1985 - Foto: Célio Azevedo/Fotos Públicas
Tancredo Neves e Ulysses Guimarães no Colégio Eleitoral em 1985 – Foto: Célio Azevedo/Fotos Públicas

Criado em 24 de março de 1966 com o papel de abrigar a oposição legal à ditadura militar, o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) já nasceu dividido entre um grupo “moderado” e outro “radical”. Esse racha atravessa toda a história do partido: em 1980, os moderados liderados por Tancredo Neves abandonam o PMDB para criar o PP (Partido Popular), mas acabam voltando à legenda em 1982.

Em 1985, o PMDB consegue eleger Tancredo presidente no Colégio Eleitoral. Mas nem mesmo a perspectiva de assumir a Presidência foi suficiente para unir todo o partido: os deputados peemedebistas Raimundo Urbano (BA) e Brabo de Carvalho (PA) votaram em Paulo Maluf (PDS) na convenção. Durante o governo José Sarney, as divisões se agravaram, embora o partido controlasse a maior parte do ministério: em 1988, grande parte dos peemedebistas deixou a legenda para criar o PSDB. 

Em 1989, Ulysses Guimarães disputou a Presidência, mas foi abandonado pela maior parte do partido. Desde então, a fragmentação do PMDB se acentuou, e a legenda se transformou num conglomerado de grupos regionais, divididos em facções pró e contra o governo federal. Esse racha persistiu durante as gestões de Fernando Henrique Cardoso e Lula: as convenções nacionais do partido em 1998 e 2006 foram marcadas por tantas brigas que terminaram sem que o partido conseguisse definir se lançava um candidato próprio ou se apoiava um nome de outra sigla.

O mesmo se repetiu na votação do Senado nesta quinta: os senadores João Alberto Souza (PMDB-MA) e Roberto Requião (PMDB-PR) votaram contra o impeachment, e Eduardo Braga (PMDB-AM) e Jader Barbalho (PMDB-PA) se ausentaram. Assim como em 1985, a sigla não conseguiu se unir nem mesmo quando estava prestes a assumir a Presidência.  

Quais são as chances de o PMDB reduzir as suas divergências? Segundo o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, da FGV, em tese isso seria possível porque a legenda agora gerencia diretamente a distribuição dos cargos. Mas isso já não ocorreu no governo Sarney? A diferença, segundo Couto, é que “hoje o PMDB tem divisões internas em razão de divergências regionais, e não mais por questões de fundo”, como ocorria na época em que o senador 0 Mário Covas (SP) e o deputado federal Roberto Cardoso Alves (SP) lideravam blocos ideológicos antagônicos na Assembleia Constituinte. 

Em princípio, isso tende a facilitar a resolução dos conflitos, desde que Michel Temer consiga atender às demandas desses grupos regionais. Mas, exatamente porque o PMDB constitui um conglomerado de líderes sem identidade programática, a lealdade da sigla ao governo depende da distribuição de cargos e verbas.

O problema é saber se o estoque de cargos é suficiente para atender às demandas de todos esses grupos, sobretudo num momento em que o governo está reduzindo o número de ministérios e precisa operar com um Orçamento cada vez mais apertado.

E esses cargos e verbas não poderão ser concedidos apenas ao PMDB: eles precisam ainda atender às expectativas dos demais partidos da coalizão governista, Basta lembrar que o PMDB controla apenas 13% dos deputados e 22% dos senadores. Para aprovar emendas constitucionais, precisaria do apoio de 60% dos congressistas.  

Como explica o cientista político Aldo Fornazieri, “quem está no governo sempre tem um poder de atratividade, mas isso depende da partilha de cargos. Ele conseguirá contentar todos no partido? Não. A partilha não será suficiente, porque Temer também precisa atender aos outros partidos”. Finda a lua do mel com o Congresso Nacional, “a tendência é o PMDB se dividir novamente”. 

Fornazieri prevê ainda dificuldades adicionais para o novo governo, porque as elites empresariais exigem a aprovação de medidas impopulares, mas o governo pode enfrentar resistência dos movimentos sociais: à medida que esses movimentos voltaram a ganhar robustez nas ruas, eles podem se opor aos projetos que suprimem ou flexibilizam direitos sociais: “A paz social que vigorou nos governos petistas acabou”.


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