Manual do perfeito midiota – 34: Jornalismo é a última coisa que interessa

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Há, claramente, um desejo de retorno ao status quo ante, como se dizia em Roma – Foto: EBC

O leitor típico de jornais, que também compõe o perfil comum do público dos telejornais de maior audiência, registrou nos últimos dias a manchete publicada no domingo, 17/07, pela Folha de S. Paulo, com os resultados de uma pesquisa segundo a qual 50% dos brasileiros querem a permanência do presidente enterino Michel Temer e 32% apoiam a volta da presidente eleita em 2014, Dilma Rousseff.

Era mentira. Pura manipulação de dados, um dos grandes escândalos entre os muitos protagonizados nos últimos anos pela mídia tradicional do Brasil.

Os dias seguintes foram de intensa movimentação nas mídias digitais, até que no último domingo (24/07), a ombudsman do jornal, Paula Cesarino Costa, sentiu-se na obrigação de analisar o assunto. Ela declarou em sua coluna que “a Folha errou e persistiu no erro” ao tentar justificar a manchete enganosa.

A ombudsman errou. A observação atenta dos dados disponíveis para os editores do jornal paulista e sua comparação com o material publicado revela claramente que não se tratou de um equívoco, mas de uma fraude.

Essa verdade foi comprovada na última terça-feira (26/07), por uma pesquisa do Instituto Ipsos encomendada pelo jornal Valor Econômico e o portal BBC.

A leitura desses dados revela que, na verdade, a maioria dos brasileiros não quer a continuidade de Temer (veja os dados aqui): apenas 16% disseram preferir que o presidente enterino complete o mandato surrupiado de Dilma Rousseff até a próxima eleição presidencial, prevista para 2018.

Seria ocioso detalhar os muitos aspectos dos dois levantamentos, mas uma conclusão salta diante dos olhos e se torna evidente até para o mais perfeito dos midiotas: milhões de cidadãos se arrependeram de haver apoiado o processo de impeachment e buscam uma saída honrosa para a escolha errada que fizeram.

Esse estado de espírito se reflete no total de pessoas que deseja a antecipação da eleição presidencial – 38% querem que seja convocada por Temer e 14% preferem que Dilma Rousseff retorne ao Planalto para conduzir sua sucessão antecipada.

O tópico que foi manipulado pela Folha aparece invertido na pesquisa Ipsos: diante da alternativa sem antecipação da eleição, 20% querem que a presidente constitucional volte ao governo e complete seu mandato e apenas 16% desejam que Temer fique até 2018.

Além disso, a porcentagem dos que apoiavam o impeachment vem caindo desde março deste ano, quando as grandes manifestações contra Dilma e a intensa campanha levada pela imprensa hegemônica levaram 61% dos brasileiros a defender a interrupção do seu mandato.

Esse número vem caindo mês a mês, chegando na mais recente consulta do Ipsos a 48%, enquanto, no mesmo período, o volume dos que se opõem ao impeachment cresceu 10 pontos porcentuais, para 34%.

Há, claramente, um desejo de retorno ao status quo ante, como se dizia em Roma. Por isso a pressa dos golpistas em votar rapidamente o processo de impeachment.

Mas a mídia tradicional tenta mascarar o fracasso do golpe ao empurrar para a opinião pública a tese de que o melhor remédio, diante dos vexames do governo enterino, seria antecipar a eleição presidencial.

Mas a imprensa hegemônica só vai aceitar uma eleição-remendo se for tirado do caminho certo candidato que aparece nas pesquisas com grandes chances de voltar ao poder.

Para isso, vale tudo, porque, como demonstrou a Folha de S. Paulo, jornalismo é a última coisa que interessa na fabricação de manchetes.


Comentários

Uma resposta para “Manual do perfeito midiota – 34: Jornalismo é a última coisa que interessa”

  1. Avatar de Jandir da Silva
    Jandir da Silva

    Milhões de brasileiros se arrependeram de apoiar o impeachment???? Seriam esses milhões, você, redator medíocre, e sua corja de petralhas?

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