O ex-presidente da CBF José Maria Marin está preso nos Estados Unidos sob acusação de uso do sistema bancário americano para movimentar dinheiro de corrupção. O atual ocupante do cargo, Marco Polo del Nero, longe de viagens internacionais, para muitos, por medo de ser detido no exterior pelo mesmo motivo. Dirigentes com a capacidade colocada em dúvida. Seleção principal ejetada da primeira fase da Copa América Centenário, com um único gol marcado, e ainda com monumentais dificuldades para se classificar para a próxima Copa. Neymar, o craque mais badalado do País, em um modesto 19º lugar na lista dos melhores do mundo.
Uma safra de jogadores carente de craques e farta de boleiros medianos em grande parte descompromissada com a Seleção Brasileira estreia hoje nos Jogos Olímpicos contra a África do Sul no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Eles perceberam não ser mais obrigatório vestir a amarelinha para enriquecer fora daqui. Pouquíssimos técnicos efetivamente preparados para ajudar a colocar a equipe nos trilhos. E, não bastasse tudo isso, nunca é demais (pensando bem, talvez seja) lembrar: goleada da Alemanha (7 a 1) e da Holanda (3 a 0) em casa, nas duas últimas partidas da Copa 2014. Esses fatores criaram a maior rejeição da história ao selecionado nacional. Brasileiros acompanham a equipe com misto de indiferença e revolta. Mas com tudo isso, o Brasil, por um dos caprichos dos deuses do futebol, jamais esteve tão próximo da inédita e sonhada medalha de ouro no futebol.
A CBF tenta fazer o impossível para conquistar o primeiro ouro olímpico no esporte brasileiro em casa e fazer dele o pano de lustre de sua imagem. Para isso, contará com um trunfo importante: a decisão da suprema maioria dos craques das seleções adversárias de ficar longe do Rio durante os Jogos. Portugal não terá Cristiano Ronaldo, a Suécia virá sem Ibrahimovic, los hermanos argentinos trarão um grupo sem Messi e outras estrelas, e assim por diante.
Mas na CBF a conversa é outra. Além de Neymar e dos veteranos Fernando Prass, goleiro do Palmeiras, e Renato Augusto, meia-atacante do chinês Beijing Guoan, o técnico Rogério Micale recrutou jovens revelações, como os atacantes Gabigol (Santos) e Gabriel Jesus (Palmeiras), pretendidos por grandes clubes europeus.
O esforço colossal da CBF pelo alto do pódio esconde outra ironia. A exemplo da Fifa, a confederação brasileira historicamente torceu o nariz para a presença do futebol em Olimpíada. Eles avaliam que ela atrapalha atletas em férias, desfalca clubes na ativa de seus principais jogadores em fases importantes das competições (caso do atual Brasileirão), traz gastos para a Fifa, confederações e clubes sem retorno e gera conflitos com o Comitê Olímpico Internacional (COI) por patrocínio, marketing e outras verbas.
Além disso, cria informalmente uma estrutura à parte para seus jogadores estrelas, gerando diferenças, ciúme e críticas por distorção do espírito olímpico. Por tudo isso, o futebol, com suas grandezas e pompas, transformou-se numa espécie de estorvo, de apêndice desconfortável dentro dos Jogos Olímpicos. A ponto de a Fifa e as principais confederações, sobretudo europeias, tentarem abertamente retirar o esporte do calendário olímpico. Mas, apesar do esforço, pelo menos até agora nada rolou. Sorte da CBF, que joga todas as suas fichas para usar essa Geni, esse filho feio do calendário internacional, como pé de obra em busca do ouro que faça brilhar, ainda que por reflexo, ao menos parte da sua imagem.
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