Os erros da política externa do governo Michel Temer ficaram evidentes na cerimônia de abertura da Rio-2016: dos mais de 70 chefes de Estado que tinham “confirmado presença” na solenidade, segundo o ministro da Defesa, Raul Jungmann, só 18 compareceram, revelou o jornal O Estado de S.Paulo. Os demais presentes eram vice-premiês e autoridades de segundo escalão. Dos 18 dirigentes presentes, dois (de Luxemburgo e Mônaco) integram o Comitê Olímpico Internacional e, por isso, tinham a obrigação de vir ao Brasil. A rigor, só 16 governantes vieram por conta própria.
O fiasco brasileiro pode ser medido pela participação de chefes de Estado e de governo nas olimpíadas anteriores: mais de 90 em Londres (2012), mais de 70 em Pequim (2008) e 48 em Atenas (2004). Segundo o Ministério das Relações Exteriores, os faltosos reclamaram da enorme “distância” que separa o Brasil de seus países. Essa explicação, contudo, deve ser relativizada.
Dois anos atrás, o Brasil foi a sede de outro evento esportivo importante, a Copa do Mundo de futebol. Como reúne apenas 32 países, a Copa atrai o interesse de um número muito menor de mandatários do que a Olimpíada, que neste ano contou com a presença de 206 nações. Mesmo assim, da abertura da Copa, em 12 de junho de 2014, até o dia 1º de agosto, a presidenta Dilma Rousseff recebeu 28 chefes de Estado e de governo, entre os quais Shinzo Abe (Japão), Angela Merkel (Alemanha), Xi Jinping (China), Vladimir Putin (Rússia), Narendra Modi (Índia), Jacob Zuma (África do Sul), Mohammed Bin Rashid Al Maktoum (Emirados Árabes Unidos), Michelle Bachelet (Chile), Evo Morales (Bolívia), Juan Manuel Santos (Colômbia), Rafael Correa (Equador), José Eduardo dos Santos (Angola) e Denis Sassou-Nguesso (Congo).
Neste ano, a lista de visitantes encolheu muito: nenhum dirigente dos Brics compareceu à abertura da Olimpíada. Da América do Sul, só os presidentes Mauricio Macri (Argentina) e Horacio Cartes (Paraguai) apareceram. As autoridades mais importantes eram o presidente da França, François Hollande, que se sentou longe de Temer e logo foi embora; e o premiê da Itália, Matteo Renzi.
Essa perda de prestígio deve ser atribuída às diretrizes da política externa, agora sob o comando de José Serra. Quando Temer assumiu o governo, deixou claro que abandonaria a estratégia Sul-Sul que marcou os governos de Lula e Dilma e daria prioridade aos acordos bilaterais com nações desenvolvidas, como os Estados Unidos e os países da União Europeia. Não por acaso, nenhum dirigente dos Brics compareceu à Rio-2016. Das nações da África e da Ásia, ninguém veio.
O problema é que nem mesmo os países visados pelo Itamaraty se sensibilizaram com a nova orientação. Dos EUA, nem o vice Joe Biden compareceu (o presidente Barack Obama visitou Dilma em 2011, e Biden veio ao Brasil em 2013 e 2014). Ninguém do Reino Unido, Alemanha, Japão.
Mesmo dirigentes que estão no Brasil (de países como Andorra, Fiji, Luxemburgo, Mônaco) estão evitando encontros com o presidente interino: segundo o colunista Lauro Jardim, de O Globo, só o presidente da Armênia, Serj Sargsyan, agendou uma reunião com Temer. Em 2014, Dilma almoçou com 10 líderes mundiais na abertura da Copa, e foi à final com outros 11. É um sintoma de que o abandono da política externa independente acabou reduzindo o cacife do Brasil no cenário externo.
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